Jornalista com preguiça de estudar e investigar resulta nisso: um texto de humor.
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Bristol (EUA)
- O patriotismo é o derradeiro refúgio dos pilantras, disse certa vez o
escritor inglês Samuel Johnson. Em matéria de discussão sobre
aquecimento global, o derradeiro refúgio é a nuvem cirro, aquela
fininha que vemos bem alta no céu.
Segundo a ínfima minoria de
climatologistas que, por venalidade ou mera vontade de aparecer,
insiste em dizer que não há perigo no crescente lançamento do CO2, o
dióxido de carbono, na atmosfera, a nuvem cirro vai nos salvar porque
se tornará ainda mais esgarçada e, graças a isto, permitirá que mais
calor escape da Terra para o espaço.
É uma teoria que, de saída, encerra um
erro fatal. Pressupõe as duas coisas que procura desmentir: 1) que o
aquecimento global existe; 2) que o CO2 contribui para ele.
De fato, é impossível negar a paulatina
elevação da temperatura média terrestre, pois ela vem sendo medida por
observatórios espalhados por todo o planeta há mais de um século. É
também impossível negar que o CO2 seja um gás do efeito estufa - isto
é, um gás que retarda a perda de calor da Terra para o espaço. Isto é
comprovado em testes empíricos em qualquer laboratório escolar.
Segundo a frustrada e patética
ex-candidata a candidata republicana à Presidência dos Estados Unidos,
Michele Bachman, o CO2 só pode ser benéfico, por contribuir para o
crescimento das plantas e para impedir que a Terra perca calor em
excesso. É uma afirmativa que nega o velho ditado em inglês “too much
of a good thing is a bad thing”. Algo que também poderíamos dizer em
português, afirmando o óbvio ululante: “a diferença entre o remédio e o
veneno está na dose”.
Noventa e sete por cento dos cientistas
que estudam o problema afirmam que o aquecimento global é um perigo
para a humanidade. Três por cento afirmam que não devemos nos
preocupar. A nuvem cirro nos salvará. Ou alguma outra coisa pode
acontecer.
Se 97% de eletricistas disserem que sua
casa mais cedo ou mais tarde pegará fogo porque tem um defeito de
fiação e três por cento garantirem que você não precisa se preocupar,
em quem você acreditará?
Há poucos anos hackers, cuja
identidade ainda está sendo investigada mas que parecem ser protegido
por interesses econômicos, conseguiram acessar e-mails de cientistas
britânicos e fizeram um grande alarido, afirmando que eles haviam
falsificado os dados sobre aquecimento global. Ao fim, os cientistas
foram considerados culpados apenas de linguagem descuidada e coloquial,
que era entendida pelos profissionais do ramo mas poderia parecer
estranha a quem não vivesse no meio.
Há em todo mundo “doutores em
climatologia” que procuram uma fama rápida gritando e gesticulando
contra os estudos científicos e adotando posições demagógicas. Outro
dia me enviaram uma imitação cabocla deste tipo, em um show do Jô
Soares. Foi a primeira vez que o assisti mas, de saída, achei que
anfitrião e convidado se equivaliam: até pela maneira espalhafatosa de
trajar, Jô Soares não pode ser levado a sério e seu entrevistado
personificava à perfeição o espírito do programa.
José Inácio WerneckNo Direto da Redação
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