quinta-feira, 27 de agosto de 2015

Gilmar é o último dos Cunha


"Gilmar é o 008 ! Tem licença para matar !


Paulo Henrique Amorim, Conversa Afiada

Da Fel-lha (vere no ABC do C Af), artigo de Janio de Freitas:

POLÍTICOS

Está pesado o ambiente no Tribunal Superior Eleitoral, não estivesse lá o ministro Gilmar Mendes. Uma proposta de racionalização processual, para unir os quatro pedidos de cassação de Dilma e assim evitar decisões diferentes, valeu ao ministro Luiz Fux a acusação de tentar um golpe de esperteza a serviço do governo. Dedução do ministro João Otávio de Noronha, tido como peessedebista e favorável ao impeachment.

A dedução de Noronha vai além de Fux: atesta a politização que contamina o TSE quando quer voltar ao exame das contas de campanha já aprovadas. Gilmar Mendes, como relator, suspeita de pagamento sem o correspondente serviço. O fornecedor alega serviço prestado e divisão das faturas apenas para não ultrapassar o limite de imposto do Simples. O valor do serviço à campanha, no faturamento questionado por Gilmar Mendes: R$ 1,6 milhão, a motivar agora novas e vastas investigações. E tome de mais agitação. 


NAVALHA


Como diria o Ricardo Melo, a esculhambação se espalhou de forma metástatica.
Chamar o Gilmar Mendes de Ministro é uma delas – uma esculhambação.
Com o deslocamento do Eduardo Cunha para o corredor da morte, sobram dois Golpistas notórios.
O Pauzinho da Força e o Advogado Geral da União Tucana, o Ministro (sic) Gilmar.
O Pauzinho da Força não tem mais qualificação nem para se mover na Força Sindical que fundou e destruiu.
Já se prestou a todos os papéis e agora desempenha mais um: o de morto vivo, na porta da cadeia.
Os três – Cunha, Pauzinho e o Ministro (sic) – participaram daquele histórico café manhã – que a Fel-lha noticiou – para tramar o Golpe contra a Dilma.
Sobre o Gilmar.
O filho do Roberto Marinho – eles não tem nome próprio – não quer o Golpe.
O Trabuco do Bradesco e o Setúbal, dono do Itaú, não querem o Golpe.
O PSDB e o Príncipe da Privatariaenfiaram o Golpe no saco.
Sobram o Ministro (sic) e a bancada que lidera no TSE.
Cui prodest?
A quem aproveita?
Aproveita ao Golpe!, ora bolas!
Gilmar é a verdadeira face de seu criador, o Príncipe da Privataria.
Gilmar faz o trabalho que o PSDB não tem mais coragem de fazer.
É a estratégia da instabilidade permanente, manter a chapa quente, atormentar a Dilma 24 horas por dia, sete dias na semana, doze meses por ano, com o maçarico do PiG.
Por que o Gilmar?
Porque ele é impune.
O Gilmar pode tudo!
Como diz o professor Comparato, quando defende o povo brasileiro, ministro do Supremo pode até não ir trabalhar.
Pode ficar em casa assistindo à Netflix.
Que não acontece nada.
O Conselho Nacional de Justiça não tem nada de Justiça, porque não alcança o Ministro do Supremo!
(Nem o Moro…)
O James Bond é “00”, double O, porque dois zeros significam que ele tem licença para matar.
O Gilmar é o 00 Mendes!
008!

Paulo Henrique Amorim

Janot, Aécio e o pau que não bate em tucanos

Ele
A sabatina épica de Rodrigo Janot, com mais de dez horas de duração, produziu momentos cômicos — a maioria deles —, tensos e francamente entediantes.

O velho Collor, cada vez mais descontrolado, fez questão de chegar mais cedo e sentou-se com uma montanha de papeis à sua frente. Atacou o procurador com um arsenal que incluía a acusação de que ele havia homiziado (escondido) bandidos em sua casa em Angra dos Reis.

Um dos criminosos, Janot mesmo revelou, era seu irmão, morto há cinco anos e que ele se recusava a “exumar”. Collor, inacreditável, balbuciava palavrões enquanto ouvia as respostas.

No decorrer da tarde, fez troça do tal “acordão” com Dilma e Renan para amenizar as investigações contra alguns dos suspeitos de envolvimento na Lava Jato. É um factoide, apontou.

“A essa altura da minha vida eu não deixaria os trilhos da minha atuação técnica no Ministério Público para entrar em um processo que eu não domino, não conheço, que é o caminho da política”, disse.

No meio daquele circo em que sobrou bajulação — dez senadores investigados integravam a comissão —, ainda apareceram as figuras evangélicas de Marcelo Crivella e Magno Malta para reclamar da citação da Assembleia de Deus no esquema de Eduardo Cunha. Malta queria saber o que é “lavagem de dinheiro” e por que isso se aplicar à igreja (como se não soubesse).

Mas o que marcou o dia de modo especial foi uma expressão muito cara a Janot, que ele já havia repetido em outras ocasiões. Na abertura, reforçando sua isonomia republicana, falou: “Pau que dá em Chico dá em Francisco”.

Em seguida, numa espécie de advertência aos senadores, insistiu: “Todos são iguais perante a lei. Pau que dá em Chico, dá em Francisco”. E completou: “Não é assim que se fala em nossa terra, Aécio?”.

A menção a Aécio Neves foi feita não de maneira provocadora, mas supostamente simpática. Os dois são mineiros. A câmera não focalizou Aécio, mas foi possível imaginar seu sorriso alvar brilhando na direção de Janot.

Serviu, no entanto, para lembrar que o tucano é um símbolo da impropriedade daquele clichê. Um dia antes, o doleiro Youssef relembrou o episódio de Furnas, que não deu em nada, assim como não deu em nada o mensalão mineiro e uma longa lista de etc.

“Me processa. Eu entro no Poder judiciário e por não ser petista não corro o risco de ser preso”, afirmou o deputado estadual Jorge Pozzobom, do PSDB do RS.

Algumas almas enxergaram ironia pro parte de Rodrigo Janot, mas isso não faz parte de seu repertório, como se viu no resto da maratona. Foi um ato falho, afinal, revelador da vida nacional.

Kiko Nogueira
No DCM


No vazio, Gilmar assume o lugar da oposição perdida


Ricardo Kotscho, Balaio do Kotscho

"Gilmar Mendes conseguiu. No vazio deixado pela oposição oficial, mais perdida do que nunca, o ministro do STF indicado por FHC assumiu o papel de principal adversário do governo petista, que já foi do todo poderoso Eduardo Cunha, presidente da Câmara, antes deste ser denunciado por corrupção pela Operação Lava Jato.

Os dois costumam atuar em sintonia, como no caso do financiamento privado de campanhas eleitorais, mas agora o magistrado assumiu o protagonismo e nem disfarça mais seu objetivo: anular o resultado das eleições presidenciais do ano passado.

Na tarde desta terça-feira, na mesma hora em que lideres do PSDB e do DEM cancelavam, "por falta de base legal", a reunião marcada com juristas para discutir um possível pedido de impeachment da presidente, Gilmar conseguia o apoio da maioria no plenário do Tribunal Superior Eleitoral para reabrir as investigações destinadas a cassar a chapa Dilma Rousseff-Michel Temer, o que permitiria a convocação de novas eleições, como quer Aécio Neves.

Enquanto o Tribunal de Contas da União não julga as contas do governo federal de 2014, outro front da oposição contra o governo, que poderia servir de base para o pedido de impeachment na Câmara, os tucanos chegaram à conclusão que não dependem só dos fatores políticos e jurídicos para embasar o pedido, mas matemáticos. Nas contas do próprio Aécio Neves, a oposição conta hoje com apenas 200 dos 342 votos necessários para atingir seu objetivo e, por isso, desistiu de liderar o movimento.

No TSE, as contas da chapa vitoriosa já tinham sido aprovadas por unanimidade, em dezembro do ano passado, mas o PSDB entrou com recurso, agora aprovado, que serviu de base para a manobra de Gilmar Mendes. Inconformados até hoje com a derrota de outubro, os tucanos já haviam pedido a recontagem dos votos e, depois, entraram com quatro ações no tribunal, denunciando abuso do poder econômico e o uso de recursos do petrolão para financiar a campanha da reeleição.

Antes da reunião do TSE, incansável na sua cruzada contra o PT, que já chamou de "sindicato de ladrões", Gilmar Mendes já havia pedido ao Ministério Público de São Paulo para abrir nova investigação sobre uma microempresa, que recebeu 29 transferências da campanha petista, e não teria comprovado a prestação dos serviços. O novo inquérito foi baseado num relatório encaminhado ao TSE pela Fazenda Estadual de São Paulo. A empresa teria sido criada apenas dois meses antes da campanha e não foi localizada no endereço indicado no registro.

No momento em que o palco principal da crise se desloca do parlamento para os tribunais, num ponto todos parecem estar de acordo: estamos vivendo o fim do ciclo político iniciado com a Nova República, como já escrevi aqui mesmo no dia 15 de março.

Só o que ninguém sabe é o que virá após o esgotamento deste moribundo sistema político-partidário do presidencialismo de coalização. Os dois partidos que dominaram este processo nas últimas duas décadas, o PT e o PSDB, estão cada vez mais rachados e enfraquecidos e, mais do que nunca, dependem do PMDB para formar maiorias. E o PMDB de Temer, Cunha e Renan ninguém sabe dizer para onde vai. É neste cenário nebuloso que cresce a figura de Gilmar Mendes, único que sabe aonde quer chegar." 
 
Do Blog BRASIL! BRASIL!

Eliane Cantanhêde, cheirosa e desatenta


Ainda quando trabalhava na Folha, a jornalista Eliane Cantanhêde ficou famosa pelo seu entusiasmo com a "massa cheirosa" tucana durante uma convenção do PSDB. Hoje ela presta os seus serviços ao falido Estadão e também à Globo News e poderá acrescentar outro adjetivo no seu currículo: cheirosa e desatenta. Ao comentar a acareação do doleiro Alberto Youssef, que confirmou que o cambaleante Aécio Neves recebeu propina de Furnas, ela simplesmente esqueceu de citar o seu amigo tucano. De imediato, uma internauta questionou a sua parcialidade. A resposta foi típica do tucanês: "Era muita informação ao mesmo tempo e acabei passando batido". Hilária, para não dizer patética.

Eliane Cantanhêde, que não esconde suas relações carnais com os tucanos de alta plumagem, não foi o único vexame da mídia neste caso. No geral, diante do depoimento do mafioso Alberto Youssef, a velha imprensa adotou uma postura vergonhosa. O Jornal Nacional, da TV Globo, simplesmente não mencionou o nome de Aécio Neves e de Sérgio Guerra, o falecido presidente nacional do PSDB. Já o site UOL postou uma notícia com os dois nomes e, logo na sequência, mudou o título da matéria. No geral, os outros veículos seguiram a mesma linha editorial, blindando os dois chefetes tucanos.
Diante de mais este crime da mídia, o jornalista Rodrigo Vianna, do blog Escrevinhador, fez questão de postar uma mensagem de Alberto Villas, ex-diretor do programa Fantástico, da TV Globo e um "dos melhores e mais experientes jornalistas do Brasil". Em sua postagem no Facebook, ele detona a manipulação da mídia hegemônica em mais este episódio deprimente. Vale conferir:
* * *

Alberto Villas, no Facebook
A noticia é esta: Aécio Neves e Sérgio Guerra receberam dinheiro de propina, segundo revelação feita ontem pelo doleiro Alberto Youssef.
VillasNews está oferecendo um doce para quem encontrar a noticia na primeira página da Folha de S.Paulo ou de O Globo. E uma lupa para que você encontre a notícia no interior dos jornais.
Bom trabalho! Isso não pode ser chamado de Jornalismo. Ainda mais com J maiúsculo.
http://albertovillas.com.br/2015/08/26/escandalo-3/


* * *

Como afirma Rodrigo Vianna, a cobertura jornalística do depoimento do doleiro é mais um episódio vergonhoso do jornalismo nativo. "Vocês já imaginaram o que aconteceria se Youssef dissesse que Lula ou Dilma recebiam propina em Furnas? Imaginem: o doleiro diz que o irmão de Dilma pegava grana; o que aconteceria no dia seguinte? Quais seriam as manchetes? Pois bem, na capa dos jornais (que são lidos pela classe média raivosa), e mesmo nos programas subsequentes da Globo News (assistida pela mesma classe média raivosa e paneleira, a informação foi tratada com a discrição devida. Sumiu!... O impeachment morreu mais um pouco ontem. E a velha imprensa também morre. Mas o jornalismo vai sobreviver. Esse é como o samba: agoniza mas não morre…".

Altamiro Borges


quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Jurista Dalmo Dallari chama derrubada de Dilma pelo TSE de “fantasia política”


dalmo dallari
Dalmo de Abreu Dallari (Serra Negra, 31 de dezembro de 1931) é um jurista brasileiro, formado pela Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo.
É Professor Emérito da Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo. Entre suas principais obras destaca-se Elementos de Teoria Geral do Estado.
Em 2001, publicou obra pioneira acerca de perspectivas do Estado para o futuro – intitulando-a de O Futuro do Estado – trata do conceito de Estado mundial, do mundo sem Estados, dos chamados Super-Estados e dos múltiplos Estados do Bem-Estar.
Em 1996 tornou-se o professor catedrático da UNESCO na cadeira de Educação para a Paz, Direitos Humanos e Democracia e Tolerância, criada na Universidade de São Paulo.[1] , tendo participado de seu primeiro Congresso em 1998.
Dallari é um dos autores mais estudados em todas as faculdades de Direito do Brasil e do exterior.
Na tarde de quarta-feira, 26 de agosto de 2015, ele concedeu entrevista exclusiva ao Blog da Cidadania sobre a recente decisão do Tribunal Superior Eleitoral de dar prosseguimento em ação do PSDB no sentido de impugnar a chapa Dilma Rousseff / Michel Temer e dar posse àqueles que obtiveram o segundo lugar na eleição presidencial do ano passado.
Confira, abaixo, a entrevista.
Blog da Cidadania — O TSE acaba de aprovar o prosseguimento de ação do PSDB que pede que a vencedora da eleição presidencial do ano passado seja tirada do cargo e o segundo colocado seja empossado. Como o senhor vê essa decisão de quatro dos sete membros daquela Corte?
Dalmo Dallari – Eu tenho acompanhado isso e acho um absurdo que o ministro Gilmar Mendes tenha sido uma influência tão grande porque ele ostensivamente, publicamente, tem posições políticas contrárias à da presidente Dilma Rousseff. Então, o julgamento comandado por ele evidentemente não foi um julgamento jurídico, foi um julgamento político. Acho que isso é muito ruim e é desmoralizante para o Tribunal.
Blog da Cidadania — Alguns analistas já estão dizendo que a derrubada da presidente da República e a posse daquele que ela derrotou são favas contadas. O senhor concorda com isso ou acredita que o jogo não terminou e, apesar dessa decisão, é possível reverter o quadro no decorrer da ação?
Dalmo Dallari – Eu acho que não há o mínimo risco [de derrubada do governo] porque não tem consistência jurídica. Antes de mais nada, essa decisão [do TSE] foi só para reabertura [do processo], não é decisão do Tribunal condenando, reconhecendo falhas, erros, ilegalidades. É só reabertura da discussão. Isso tudo vai muito longe e a presidente Dilma tem o direito de ser ouvida, inclusive de exigir a verificação de documentos, a busca de provas e, eventualmente, até oitiva de testemunhas. Derrubada da presidente pelo TSE é apenas uma fantasia política. Do ponto de vista jurídico está muito distante a possibilidade de que, a partir daí [da decisão do TSE de reabrir o processo], se afaste a presidente Dilma Rousseff.
Blog da Cidadania — Existe alguma possibilidade de recurso ao STF contra eventual decisão do TSE de impugnar a chapa Dilma Rousseff / Michel Temer?
Dalmo Dallari – Claro que sim. Nesse caso, haveria recurso ao Supremo Tribunal Federal. De maneira que ainda há muito chão a ser percorrido. Primeiro, houve a simples decisão de reabertura do caso. Então, ele comporta muita discussão, busca de provas, direito de defesa. E, se no final, se considerar que a instrução do processo está correta, aí o Tribunal julga, mas com um pormenor: se for julgamento de turma, cabe recurso para o Pleno [julgamento pelo Plenário do TSE]. E, depois disso, ainda cabe recurso ao Supremo Tribunal Federal. De maneira que é coisa para alguns anos, pelo menos.
Blog da Cidadania – Como o senhor vê a atuação da imprensa em todo esse processo?
Dalmo Dallari – Nós estamos vivendo, já, um período que eu nem diria pré-eleitoral; é um período eleitoral. Todas as colocações ou tratamento dados pela imprensa que envolve questões políticas são, na verdade, político-eleitorais. Em verdade, o que estamos vendo [na imprensa] já é uma preparação para as próximas eleições. A disputa eleitoral já está em aberto e, por isso, não tem maior importância, maior significação. Eu diria nenhuma significação jurídica essa movimentação de órgãos da imprensa.
Blog da Cidadania — Que consequências podem advir para a democracia brasileira de uma interrupção de mandato presidencial obtida sob contestação veemente da minoria do TSE como a que a imprensa está noticiando? Uma decisão tão drástica tomada sob esses augúrios afetaria de que forma a nossa democracia?
Dalmo Dallari – Se isso [derrubada de Dilma pelo TSE] chegasse a acontecer, seria muito grave porque causaria perturbação política séria. Uma mudança total de governo – e uma mudança em condições excepcionais – teria consequências sobre o sistema de reparação de poderes, formação de maioria dos parlamentos. Seria realmente uma espécie de revolução política, um transtorno político muito grande. Mas por isso tudo eu acho que não há a mínima possibilidade de que tenha seguimento sério essa pretensão.
Blog da Cidadania — Existiria alguma conexão entre o processo político-jurídico em curso no país e o julgamento da Ação Penal 470, vulgo “julgamento do mensalão”?
Dalmo Dallari – É claro que o mensalão tem um conteúdo jurídico-político, sem dúvida alguma. Então, muitas coisas que estão acontecendo – atitudes tomadas, declarações informais de membros do Judiciário – tem um conteúdo essencialmente político.
Blog da Cidadania – O senhor gostaria de acrescentar mais alguma coisa, doutor Dalmo?
Dalmo Dallari – Eu acho lamentável que órgãos de imprensa que têm responsabilidade não se comportem de maneira mais serena, dando mais importância às instituições, respeitando mais os interesses da cidadania brasileira. O que se tem visto são publicações e pronunciamentos nitidamente parciais e isso é muito negativo. Seria muito importante um trabalho no sentido contrário de despertar a consciência política popular, estimular reflexões políticas, discussões sérias, porque é assim que se consolida o sistema democrático.

Do BLOG DA CIDADANIA. 

Aécio ganha manchetes internacionais por propinas em Furnas.

http://www.reuters.com/article/2015/08/25/us-brazil-corruption-neves-idUSKCN0QU2KQ20150825
O Jornal Nacional da TV Globo censurou o trecho do vídeo da CPI em que o doleiro Youssef confirma ter sabido de propinas pagas a Aécio no esquema de Furnas, contado pelo ex-deputado José Janene (PP-PR), mas a imprensa internacional publicou (acima).

O JN além de censurar o vídeo, deu o vexame de colocar William Bonner lendo uma defesa de Aécio.

Ué, mas a crise internacional não tinha acabado?

Ué, mas a crise internacional não tinha acabado?


Eduardo Guimarães, Blog da Cidadania
"O telespectador do Jornal Nacional – entre outros noticiários picaretas que embromam o país –, caso só se informe pela mídia corporativa, por certo ficou sem entender nada ao fim da edição do primeiro dia útil desta semana daquele telejornal.

Há meses que a mídia e a oposição ao governo Dilma Rousseff vêm desmentindo a presidente da República quando ela diz que as dificuldades econômicas do país se devem à crise internacional.

O blogueiro da Globo Ricardo Noblat, por exemplo, escreveu, recentemente, que “a crise internacional não existe mais”.

Também recentemente, Gustavo Franco, que pilotou o Banco Central durante o governo Fernando Henrique Cardoso, afirmou que a crise econômica do Brasil “não vem de fora” e que ela foi “autoinfligida” – ou seja, não existiria crise internacional. A crise seria só brasileira.

A Editora Abril, claro, não poderia se furtar, através da revista Exame, a espalhar a farsa de que só o Brasil estaria em crise enquanto o resto do mundo já teria se recuperado.

Mas o mentiroso mais ousado, sem dúvida, foi o economista Armínio Fraga, que teria sido nomeado ministro da Fazenda caso Aécio Neves tivesse vencido a eleição presidencial do ano passado; ele afirmou que “a crise econômica mundial acabou em 2009″.

A mentira colou. A grande maioria dos brasileiros desaprova o governo Dilma porque acreditou na mídia e na oposição quando disseram que os problemas do Brasil não são causados por crise internacional, pois esta não existiria mais.
As pessoas, então, por certo ficaram perdidas ao assistir à edição do JN de 24 de agosto de 2015.

O telejornal começou informando que a Bolsa de Nova Iorque chegou a cair mais de 6% no primeiro dia útil desta semana porque a China representa 15% da economia do planeta e seu crescimento vem despencando ano a ano.

A causa disso foi explicada pelo JN e essa explicação por certo foi o que mais deve ter espantado quem acreditou na Globo e na oposição quando disseram que não havia mais crise econômica internacional.

“Se a China cresce menos, é ruim para as multinacionais que ganham dinheiro lá. E para as empresas que exportam pros chineses. Eles são os maiores compradores de matérias-primas do mundo – e os principais clientes do Brasil”, diz o telejornal da Globo.

O JN disse, também, que “A Europa continua patinando”… Como assim, “Continua”?! A Europa já não tinha saído da crise, segundo Noblat, Gustavo Franco, Armínio Fraga etc.?!

Ao fim da matéria, o maior telejornal do país diz que o professor de economia norte-americano Sanjay Reddy opinou que os Estados Unidos não têm como baixar suas taxas de juro – que estão negativas desde 2009 – porque isso poderia “agravar ainda mais a crise nesses países”, ou seja, nos EUA, na Europa, na própria China e na América Latina.

Aí é que o público que se informa (mal) pela mídia corporativa não entendeu nada mesmo. Que crise “nesses países”? Ela não tinha acabado no mundo inteiro, menos no Brasil?

Politicamente, analfabetos disfuncionais



Politicamente, analfabetos disfuncionais
Por Maria Fernanda Arruda em agosto 21, 2015
Um brasileiro, em fins do século XIX, competente para ler e escrever, seria um nobre ou até um coronel da Guarda Nacional. Na virada do século, éramos 35% de alfabetizados e, em 1950, apenas 49%. O Brasil somente não foi mais paupérrimo na manipulação das letras e dos números quando a população deixou os campos e chegou às cidades: em 1960, os brasileiros alfabetizados já somavam 60%. Agora, nos nossos tempos, teremos apenas 8% de analfabetos nacionais? Motivo de orgulho? Não. Esse número, apontado e avalizado pelo IBGE, é uma lastimável balela.
A iniciativa de criar um Indicador Nacional de Alfabetismo Funcional no Brasil, medindo diretamente as habilidades da população por meio de testes, foi tomada por duas organizações não-governamentais: a Ação Educativa e o Instituto Paulo Montenegro. As pesquisas que passaram a ser feitas, utilizado o conceito de alfabetismo funcional mostram qual é o quadro real: atinge cerca de 68% da população; somados aos 8% da totalmente analfabeta, resultando em 76% da população que não possui o domínio pleno da leitura, da escrita e das operações matemáticas, ou seja, apenas um em cada quatro brasileiros (25% da população) é plenamente alfabetizado.
Agora sim, fica viável entender as manifestações lastimáveis promovidas nos protestos, aqueles que querem a deposição do governo democrático, a volta da ditadura militar e mais:a morte dos que consideram como seus grandes inimigos. O survey (sondagem de opinião, sem rigorismos estatísticos) realizado por um professor da USP permite o desenho do perfil desse povo, o que é razoavelmente evidente. Trata-se de uma maioria absoluta de indivíduos brancos, com a exclusão de negros e de pobres, gente de faixa etária mais alta, vários tendo chegado à senilidade, muitas mulheres, voyeurssedentos de corpos nus, vendedores ambulantes em trabalho, diversos interessados na carteira e no celular alheios.
Os depoimentos colhidos dessa gente são inacreditáveis, decretando a obsolescência definitiva do Festival da Besteira que Assola o País (Febeapa), obra muito interessante e que retrata as cabeças de generais, coroneis, almirantes e brigadeiros, mentores da ditadura (golpe de 64), mas que se reveste de candura infantil diante da produção que se faz e mostra, na avenida Paulista dos dias atuais. As faixas transportadas pelos “mulas” contratados trazem dizeres sem sentido, escritos em língua que identifica o analfabetismo funcional predominante. Mas não estamos tratando de um segmento social e economicamente privilegiado? Sim, estamos. E as pesquisas também mostram que 38% dos nossos universitários gozam dessa condição: são analfabetos funcionais.
O projeto de massificação do ensino foi parido pela ditadura, sob orientação do Coronel Jarbas Passarinho, com o malfadado MOBRAL, enquanto o ensino de História e outras ciências sociais era substituído por aulas de “educação moral e cívica”. Tempos de “Brasil – ame-o ou deixe-o”, recitado nas aulas obrigatórias de educação física. A ditadura formou milhares e milhares de jovens alienados, coerentes, e que hoje são fascistas. Uma geração de intelectuais que estudava o Brasil foi levada ao ostracismo: Caio Prado Junior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda, Celso Furtado, Antônio Cândido, Florestan Fernandes.
O cinema nacional ficou reduzido à produção de pornochanchadas, o teatro foi transformado em forma de lazer que antecede a pizza do sábado à noite, em que pesem os esforços magníficos de Gianfracesco Guarnieri, Zé Celso, Vianinha, Ruth Escobar e outros. A música foi proposta na forma alienadora da “jovem guarda”, perdida nas curvas das estradas de Santos, embora, e exatamente aí, tenha havido a contestação mais séria à violência: Chico Buarque foi o maior exemplo de como a sensibilidade artística e a inteligência cultivada podem ridicularizar a violência dos torturadores assassinos.
O segundo momento de aviltamento do ensino no Brasil veio com os oito anos FHC.
Da mesma forma que privatizaram as empresas do Estado, privatizou-se o ensino. A universidade federal foi empobrecida em quantidade e qualidade; o MEC orientou para que as escolas públicas falissem, sendo substituídas pelas empresas do comércio do ensino. Mais do que nunca, elitizaram-se o ensino e a cultura: os filhos das elites que estudassem nos ótimos colégios particulares, habilitando-se ao doutoramento das universidades públicas ou nas universidades norte-americanas.
Há uma reversão de tendência a partir do primeiro governo Lula, quando o MEC começou a atuar para o fortalecimento da Universidade Federal, incentivando a pesquisa, remunerando de forma digna os professores, criando universidades. O ensino obrigatório de Ciências Sociais, Filosofia e Sociologia volta a ser obrigatório no Ensino Médio. Contemplam-se a Música e as Artes.
Neonazistas, perfilados na última manifestação convocada pela ultradireita, fazem a saudação que  marcou o regime do alemão Adolf Hitler e mostram como reagem os analfabetos desfuncionais, no Brasil
Neonazistas, perfilados na última manifestação convocada pela ultradireita, fazem a saudação que marcou o regime do alemão Adolf Hitler e mostram como reagem os analfabetos disfuncionais, no Brasil
E cometem equívocos e omissões muito sérios. Os chamados “sistemas de ensino”, produzidos por empresas comerciais que negociam suas ações em Bolsa de Valores, bestificam jovens brasileiros com material didático de péssima qualidade e onde o professor fica reduzido à condição humilhante de “repetidor de aula”. A tentativa política de deputados hoje, na era Eduardo Cunha, no sentido de esvaziar o conteúdo do ensino nas escolas, já é uma realidade rotineira. Em meados da década passada, o Sistema de Ensino da Abril Cultural utilizava a revista Veja para caluniar escolas que se preocupavam em transmitir a realidade brasileira aos seus alunos, identificando e acusando professores “comunistas”. A mesma Abril inaugurou o mecanismo de corrupção, junto a prefeituras e prefeitos, facilitando a venda do seu material para consumo nas escolas municipais. Corruptores e corrompidos.
Eis aqui um desafio aos que não entenderam ainda a necessidade de uma Constituição de olhos voltados para o século XXI. O pacto federativo precisa ser revisto radicalmente!
Sobre Educação, a maioria dos Estados e a quase totalidade das prefeituras carecem de condições mínimas para cumprimento das atribuições que lhes são delegadas. A Carta de 1988 adotou uma descentralização irreal e que vai provocando disfunções seriíssimas. Entre as diretrizes elaboradas pelo MEC e a ação política de governadores e prefeitos há um abismo intransponível.
Tanto a incompetência interesseira de políticos regionais como o utilitarismo dos comerciantes do ensino, ambos tornaram absolutamente impossível a modernização do ensino básico. Como resultado dessa paralisia no tempo, as paredes das salas de aula formatam hoje um espaço que sufoca os jovens, expostos às dimensões quase infinitas da Internet que se abrem através do computador. Os adolescentes, aprisionados na escola convencional, ainda encontram liberdade nos espaços dos shopping centers. O que está sendo afirmado aqui fica evidente quando se lembra que as últimas experiências inovadoras significativas no Brasil foram a Universidade de Brasília, com Darcy Ribeiro, e os CIEPS, com Brizola e o mesmo Darcy Ribeiro.
O Direito à Educação é assegurado pela Constituição Federal como um direito fundamental, tendo sido contemplado pela Constituição no artigo 6 º, localizado no capitulo intitulado “Direitos Sociais”. O Ensino Básico (Fundamental + Médio) impõe-se como direito assegurado a todo cidadão brasileiro. Tanto quanto a reforma agrária, ou a limitação do direito de propriedade pelo interesse social … Letras, letras mortas. É bem verdade que os governos de Lula e Dilma se fixaram no ideal do “ensino para todos”. A partir disso, desenvolveu-se e desenvolve-se um esforço orientado por critérios de quantidade, mas não de qualidade.
No afã de formar gente de nível universitário, os governos do PT quase que atingiram o exagero de uma antiga piada: “brasileiro, ao nascer, ganha o título de doutor, aos 18 anos devendo fazer uma opção”. A universalização universitária não será uma utopia desastrada? De novo a mesma preocupação: quantidade; e o que fazem com a qualidade: É baixa, pouca e insuficiente?
Um dos equívocos mais grosseiros foi cometido com a criação do FIES. O Ministro da Educação acaba de corrigir as distorções gritantes de um programa demagógico. Até recentemente, alguns vários bilhões de reais foram destinados ao financiamento de estudantes, em universidades reconhecidas pelo próprio MEC como sendo de qualidade inferior, concentrados nos Estados mais ricos, com financiamento concedido a filhos de famílias de classe-média, para matrícula em cursos de Direito, Administração e similares. O Ministro Renato Janine Ribeiro limitou o uso do benefício a famílias pobres, nas regiões mais pobres do país, para cursos de Engenharia, Medicina e similares, ministrados em escolas que venham merecendo boa conceituação.
Alvíssaras. As coisas vão tomando forma digna,pois tivemos alguns anos de descalabro descompromissado.
Reconhecidamente, o sistema de ensino brasileiro não é menos do que péssimo. Em diversos momentos forma bons profissionais. Mas, praticamente, nunca forma bons cidadãos. Os brasileiros não sabem o que é o Brasil, não conhecem a sua História, recebem informações rudimentares sobre a sua geografia e são ignorantes completos quanto à sua economia, problemas atuais e potencial. Não estão sendo ensinados a pensar, não sabem ler, não leem, carregam uma lastimável preguiça mental.
A pobreza é tal que, mesmo à esquerda, frequentemente se vê o dogmatismo tolo, simplificador de tudo: ‘os que não pensam exatamente como eu penso são fascistas’. Perderam alguns a capacidade de pensar e, de pensar indagativamente. Não há espírito crítico, o que o ensino puramente técnico e de má qualidade não contempla.
O que tudo isso tem a ver com o 16 de agosto? Serve para que se entenda toda aquela gente como o lixo social que as nossas escolas estão deformando. Para pedir a ditadura militar e a morte de políticos desagradáveis, as pessoas precisam passar por um apurado processo de animalização, aquele que o nosso sistema de ensino tem oferecido. O marketing transformando tudo em produto de consumo não durável, consumidores consumíveis, produz o restolho obsoleto do que teria sido um ser, e humano; hoje na avenida são zumbis alucinados.
Enfim, o esforço dos governos Lula e Dilma tem revertido tendências perversas, mas incorpora equívocos. Quem, não apenas os dois, mas pensados todos os que habitam hoje o nosso mundo político, possui competência para distinguir o que é humano daquilo que é simples charlatanismo?
Maria Fernanda Arruda é escritora, midiativista e colunista do Correio do Brasilsempre às sextas-feiras.

domingo, 9 de agosto de 2015

Globo demite Cunha e Aécio como golpistas. É crise e Lava Jato virando contra o feiticeiro.


O jornal "O Globo" faz um editorial fora do padrão global nesta semana puxando a orelha do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e do senador Aécio Neves (PSDB-MG) por sabotarem o Brasil ao sabotarem o governo nas votações no Congresso Nacional. O editorial termina conclamando a "aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto".

O mesmo jornal fez uma entrevista com o presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, em que ele também critica a oposição: "Precisamos sair desse ciclo do quanto pior, melhor. Melhor para quem? Para o Brasil, não é. As pessoas precisam ter a grandeza de separar o ego pessoal do que é o melhor para o país", afirmou.

Sexta-feira o Jornal Nacional chegou a bajular Dilma em Roraima, mostrando a inauguração de um conjunto habitacional do Minha Casa, Minha Vida. Dezenas de outras inaugurações de obras e conjuntos maiores nunca foram mostrados antes no telejornal.

O JN chegou a mostrar trechos contundentes do discurso de Dilma, em uma edição de vídeo incrivelmente honesta, que eu assinaria embaixo. A matéria teve 3m41s, uma matéria grande para os padrões de telejornais. Nenhuma cara da oposição foi mostrada na matéria para criticar o governo.

Na mesma edição de sexta, pasmem, o JN também mostrou de forma honesta o abraço feito por lulistas ao Instituto Lula em repúdio ao atentado à bomba.

Tradução destes fatos do piguês (PIG) para o bloguês (blogosfera):

1) A Globo demitiu Cunha e Aécio como golpistas, por incompetência para darem golpe.

2) O prazo de validade do golpe venceu. Insistir na agenda golpista levará a Globo à falência.

3) A crise chegou forte no bolso da Globo, e o noticiário de fim-de-mundo virou espanta consumidor e espanta anunciantes.

4) A Globo tem prejuízo com a dívida da emissora em dólar aumentando quando o dólar sobe, e com a nota de crédito sendo rebaixada pelas agências de risco ela paga taxas maiores para rolar.

5) Até cervejarias, estão cortando propaganda na TV e gastando esse dinheiro em ações promocionais nos pontos de venda, como dando bônus para verejistas fazerem liquidação. Baixar preço e colocar no encarte do supermercado vende mais quando o dinheiro do consumidor está mais curto do que anunciar muito na TV. E isso vale para muitos outros produtos do varejo.

6) A Lava Jato criou vida própria e neste semestre vai atingir em cheio o Congresso, principalmente a ala golpista, inclusive gente da oposição. A bola da vez é principalmente o PMDB, mas não só ele. Depois, por falta de  petistas e peemedebistas a delatar, só restará aos delatores que sobrarem entregar a cabeça dos "queridos" demotucanos. Daí a Globo não ver mais expectativa de poder nem no PMDB e nem no PSDB.

7) Dilma sobrevive a este "paredão" atual e volta mais forte do que está hoje. Lula também.

8) Além da investigação de corrupção na Fifa com direitos televisivos, a Lava Jato fez busca e apreensão na TV Gazeta, do senador Collor. É afiliada da Rede Globo. Quem sabe não deflagra a  a Operação Plim-plim, principalmente se Collor resolver fazer delação premiada.

9) Crise econômicas aceleram mudanças onde a evolução tecnológica permite. O cidadão está cortando a telefonia tarifada para usar o whatsapp, o skipe, o messenger e Imessenger de graça através da conexão pela internet. Os anunciantes também aceleram a mudança da TV para anúncios mais eficientes e mais baratos nas redes sociais na internet.

A Globo deixou de ser PIG? Não me façam rir. Mas que pisou no freio do golpe, pisou.
 

Por que ninguém foi ver o show de Lobão


Lobão já fez o seu número na campanha pelo impeachment. Esgotou o repertório, na política e na arte. Há décadas, canta a mesma música, com aquele refrão infantil — me chama, me chama —, e ultimamente decidiu compor modinhas de protesto contra o governo, depois de desistir de participar de passeatas.

Dizem que é um show fraco. Tanto que uma apresentação marcada para quarta-feira, no Teatro Feevale, em Novo Hamburgo, foi cancelada por falta de público, como admitiram os próprios organizadores.

Pouco mais de 50 pessoas teriam comprado ingresso. Lobão se negou a cantar para 50 pessoas. Pois deveria ter ido até o fim, em nome da fidelidade ao seu público, como fez o líder estudantil Kim Patroca Kataguiri.

No dia 24 de abril, no embalo dos protestos de rua, Kim organizou A Grande Marcha, que saiu de São Paulo em direção a Brasília. Ao final da procissão, estimulada por raposões da oposição, Dilma seria derrubada. Mais de 50 mil pessoas chegariam ao Planalto Central para tomar o poder. No dia 30 de maio, chegaram oito. Mas Kim foi até o final.

Lobão se recusou a cantar para meia centena. Não aprendeu com o menino Kim uma lição de humildade, que até os golpistas deveriam assimilar.

Outra coisa que Lobão não sabe é que não há arte de direita. Desde tempos medievais, construiu-se essa imagem de que artista independente é o que só fala mal do governo. É uma ideia consagrada pelo humor em geral como ícone da resistência aos déspotas.

Artistas que se dedicam a espinafrar governos são, de fato, os que produzem o melhor humor. Mas isso não significa "arte" de direita, que raramente funciona, no humor ou na música. A transgressão nunca será produto de reacionários. Não há no mundo um caso de humor direitoso de qualidade como o pretendido por Lobão e sua viola. Quem discordar deve apresentar provas.

Foi por isso que o público do Vale do Sinos se negou a ver Lobão. Muita gente deve querer o impeachment de Dilma, mesmo que sob a liderança de Eduardo Cunha e Jair Bolsonaro (e dos outros que se escondem atrás do muro). Mas poucos se dispõem a ver um show fraco.

Lobão deveria saber que arte e política só funcionam à esquerda, com artistas panfletários e seus sucessos que todos conhecem. Alguns são geniais. Mas a direita pretendida como arte não funciona, nem em teatros, circos ou quermesses. O público sabe disso.

Moisés Mendes
No ZH


Guerras e recessão: as promessas dos EUA

Guerras e recessão: as promessas dos EUA

Por Emir Sader, no site Carta Maior:
O mundo sofreu sua virada mais radical em muito tempo com a passagem da bipolaridade à hegemonia unipolar norteamericana. Poucas décadas foram suficientes para que saibamos que o fim da “guerra fria” não foi o fim das guerras mas, ao contrário, sua multiplicação, sob vorazes ofensivas imperiais norte-americanas. Civilizações inteiras foram destruídas – como as do Iraque, do Afeganistão, da Síria -, enquanto os EUA se reivindicam a responsabilidade de ser a polícia do mundo e guerras sem fim, focos de conflitos, se multiplicam

Mas a hegemonia imperial norteamericana e o fim do mundo bipolar tampouco levaram a que a globalização do sistema capitalista conduzisse o mundo à estabilidade e à expansão econômica. Não bastasse o desempenho frágil da economia capitalista nas últimas décadas do século XX, desde 2008 o centro do sistema se encontra em profunda e prolongada crise recessiva, da que não se sabe quando poderá sair, levando à destruição do que ainda existia do sistema de bem estar social na Europa e a níveis recordes de desemprego.
Essa é a utopia que o sistema capitalista e imperial propõe ao mundo? Foi em nome desses cenários de guerra e de crise econômica que se propõe a destruição de tudo o que se lhe opunha? Para isso foi imposto o reinado do mercado e da superioridade bélica dos EUA? É com esses objetivos que a Europa se propõe a destruir seu passado fundado nos direitos sociais? É a isso que os EUA convidam a que países participem de seus tratados de livre comércio?

Esse mundo miserável, fundado no poder do dinheiro e das armas, sim, que é um fim de ciclo. Os países que resistem é que estão no começo de um novo ciclo, de construção de um mundo baseado nos direitos para todos e na solidariedade.

Por tudo isso é que a lua-de-mel da hegemonia unipolar norteamericana durou pouco. Os Brics, a China, a Rússia, os governos progressistas da América Latina – são elos de um mundo economicamente multipolar e que começou a instalar uma geopolítica baseada de novo na bipolaridade mundial.

A recessão no centro do capitalismo pressiona a todos os países, mas o resto do mundo não entrou em recessão profunda e prolongada como acontecia no passado. Os EUA não puderam invadir a Síria e atacar militarmente o Irã. Os EUA continuam como a maior potência no mundo atual, mas já encontra limites que já não pesnava ter quando triunfou na guerra fria.

O mundo marcado pela hegemonia imperial norteamericana é um mundo de guerras e de recessão. Faz falta que a Europa se dê conta disso e, como faz o novo candidato a líder do Partido Trabalhista britânico, de que deve deixar de seguir a política externa dos EUA para, aísim, se sentir mais segura. Faz falta que outro modelo econômico que não o da austeridade, seja assumido por países europeus. Os Brics apontam para outra geometria política, econômica e militar no mundo. Com quem estará a Europa?

A América Latina já contribui a esse mundo multipolar, com o Mercosul, Unasul, Celac, com a participação direta do Brasil nos Brics e com os acordos assinados por países da região com os Brics, com a China e com a Russia. Os EUA já não contam com seu antigo pátio traseiro. O México sangra por todos os seus poros ao pagar o preço da reiterada submissão ao vizinho do norte. A Europa retrocede, com a austeridade. O Iraque e o Afeganistão foram destruídos pela ocupação militar dos EUA.

O século XXI é o cenário de luta por uma nova hegemonia mundial, compartilhada, democrática, consensual, de negociações para as soluções dos conflitos, de uma economia baseada nas necessidades de todos e não nos imperativos do capital especulativo.