domingo, 18 de maio de 2008

COMPORTAMENTO DE MÍDIA E POLÍTICAS PÚBLICAS SOCIAIS

O Jornalismo, assim entendido no sentido amplo, incluindo empresas de comunicação, com seus Jornais, Rádios e TVs, além de concentrado nas mãos de no máximo dez famílias que “controlam 85% da informação que circula por todos os meios de comunicação”, tem ainda o sério problema de que os grupos afiliados regionalmente estão concentrados nas mãos de políticos, principalmente os velhos Senadores da República, quando o governo (?) José Sarney, para prorrogar seu mandato por mais um ano, no conhecido “mandato tampão”, distribuiu concessões para tais políticos que usam deste “presente” em benefícios próprios para se manterem nos lugares que ocupam. As empresas de comunicação, com suas afiliadas regionais não mãos de políticos inescrupulosos, num movimento cooperativista, defendem a liberdade de expressão invocando a Constituição Federal, estado de direito e democracia, mas não, mas não querem que tal liberdade seja exercida com RESPONSABILIDADE, mesmo porque o Jornalismo deve cumprir uma função social, o que não acontece não só no Brasil, mas na maioria dos países do mundo.
Oportunistas, se aproveitando do fato ocorrido na Venezuela, onde uma Rede de TV, o Presidente da “Fiesp Venezuelana”, Sr. Pedro Carmona, cúpula da Igreja Católica e militares, resolveram por um golpe de estado, fato que durou apenas um dia e meio, mas foi amplamente comemorado pela Rede de TV, que em transmissão ao vivo seu representante presente, admitiu à participação no golpe à derrubada de Hugo Chaves, participando da “festa” todos os golpistas, inclusive o Novo Presidente por menos de dois dias, Pedro Carmona, escolhido antecipadamente pelos golpistas, as empresas de comunicação aproveitaram o “gancho” que faltava. Como lá não foi renovada a concessão da emissora de TV que participou ativamente do golpe, começaram atacar o aviso dado por Chaves de que não renovaria a concessão.
Todas as empresas de comunicação, como Globo e Cia., começaram então um trabalho que visava antes de qualquer coisa passar para a opinião pública os “seus direitos líquidos e certos de terem suas concessões renovadas”. A bem da verdade pouco importava se na Venezuela tinha havido um golpe e se as primeiras medidas tomadas por Pedro Carmona eram mais ditatórias do que as de Chaves, pelo menos até aquele momento, porque agora não temos dúvidas de que não é pior nem melhor do que Carmona. Assim agiram porque se utilizaram o expediente tão conhecido de que melhor forma de defesa é o ataque e sendo assim, defendendo seus interesses, sob o comandado da Globo, começaram a comparar o Brasil e seu Presidente com a Venezuela e seu Presidente. O certo é que a Globo já conseguiu este ano a sua renovação da concessão por Decreto Presidencial que obrigatoriamente teria que passar pelo Congresso, onde a renovação já estava garantida.
Estar falando de política neste trabalho pode aparentemente parecer não ser o espaço adequado, contudo, não se pode falar em políticas públicas e grande imprensa, reconhecidamente como o 4º Poder, e digo eu mais uma vez : 4º Poder Político, sem falar em Política propriamente dita.
Os artigos constitucionais mencionados pela Palestrante são normas programáticas que dependem de regulamentação pelo legislativo nacional, o que jamais ocorrerá enquanto a maioria dos legisladores tiverem concessões como afiliadas. Não faz muito tempo que se tentou regulamentar a função da mídia e dos meios de comunicação em geral para que se aprimorasse o sistema, mas a própria mídia lutou e venceu a batalha, para em nome da liberdade de imprensa continuar livre, livre e sem responsabilidade, agindo como sempre agiu e assim não cumprir seu papel social. É lamentável, mas é a pura realidade.
A grande imprensa, se assim pode ser chamada, porque de grande só tem a detenção do poder político, com apoio de uma elite que detêm o poder econômico, no meu entender não tem qualquer interesse em políticas públicas. Seus Jornalistas para se manterem no emprego fazem o que Diretores e Donos mandam, sob pena de perderem sua fonte de sobrevivência. A grande imprensa divulga idéias dominantes e formam opiniões para depois vender para este público que ela mesmo criou seus produtos e idéias, visando única e exclusivamente o lucro, sem se importar com democracia e direitos humanos, quando a comunicação deveria ser um direito humano. Se é verdade que a “Opinião pública é causa determinante, fator e matéria prima para opinião individual”, não é menos verdade que a grande mídia vicia, deturpa e cria a opinião pública. A grande mídia está interessada: em Crises, quando ela própria não “cria crises”; em escândalos, quando também não inventa escândalos; denuncismos; sensionalismo e violência, principalmente quando os assuntos são crimes de homicídio, seqüestros e atentados, não dando importância em discutir políticas públicas de segurança. Não bastassem os problemas acima apontados, programação sem qualquer conteúdo jornalístico, de baixa e nenhuma qualidade, para não dizer com todos as letras, de péssima qualidade, como exemplificativamente: Os próprios noticiários, os BBBs, dramaticidade tanto nas notícias como nas suas tradicionais novelas e novo modelo de “míni série”, como o caso Isabella é o que lhe interessa e vende. Estes são os produtos que vem e dão lucro com baixo custo.
A democracia em nosso País, depois do regime militar, ainda não foi plenamente restabelecida porque nossos políticos, principalmente no Senado Federal são originários daquele regime e a todo o momento demonstram a saudade que sentem daqueles tempos.
Direitos humanos, ainda hoje é confundido como defesa de direitos de criminosos que cumprem penas. A esperança de que a mídia contribua na promoção dos direitos humanos ( política pública ), não terá resultado em um curto espaço de tempo, sendo um sonho e desafio que para ser vencido dependerá de muita luta e de muitas “Bias”.
Vejo como positiva a criação da TV Brasil, mas concordo com a palestrante que muito deverá ser feito para torná-la efetivamente pública e cumprir o papel que lhe compete.
Por enquanto, na falta de uma cobertura midiática qualificada sobre os temas sociais, a nossa grande esperança de melhorar o atual estado de coisas está mesmo na melhor formação do profissional ( Jornalista ), com inclusão do tema nas grades curriculares para os alunos universitários dos cursos de Comunicação Social, de importância não só na formação, mas para que o jornalista leve a sério sua autonomia efetiva, ou como bem observou o Prof. Dr. Evandro Vieira Ouriques: “O que precisamos é agir, como jornalistas, como comunicadores, como cidadãos, de forma pública e social”. Importante também é qualificar e ampliar o debate não só nas Universidades e Escolas, mas também com a sociedade. Curso de Extensão “Jornalismo de Políticas Públicas Sociais”, como o que estamos fazendo no NTECCON, da UFRJ, em parceria com a ANDI é um exemplo a ser seguido por outras Universidades e Escolas com cursos de Jornalismo. Como afirma a palestrante “O papel do jornalista vai além de produzir notícia, ele tem um papel social de transformação da sociedade”.

2 comentários:

carlos augusto a. doria disse...

Saraiva, muito bom o seu texto. Temos agora que ficar atentos, porque o quarto poder não vai demorar a preparar a opinião pública, no sentido de que os criminosos leilões das reservas de petróleo sejam reiniciados. Tb, este poder está doido para criar uma crise militar, caso o STF tenha uma posição que desagrade o Clube Militar e cia. Abç Dória

Coordenador do NETCCON.ECO.UFRJ disse...

Querido Saraiva,
agradeço suas palavras,
fraterna-mente,
Evandro