Fernando Brito, Tijolaço
Da coluna de Nélson de Sá, hoje, na Folha:
“(…) Míriam Leitão, do “Bom Dia Brasil”, questionada sobre “um pedido a Papai Noel”, respondeu: “Que as ruas sejam de novo ocupadas, para exigir educação”. E Carlos Alberto Sardenberg, do “Jornal da Globo”: “Queria protestos vigorosos, mas pacíficos, na Copa”.
Será que não significa muito que dois dos mais notórios porta-vozes do conservadorismo façam este tipo de afirmação?
Saul Leblon, o magnífico editorialista do CartaMaior saiu na frente de todos os blogueiros com seu artigo publicado hoje e começa a responder esta questão.
Ele foi ao ponto que, neste final de semana, creio que muitos de nós fossemos tocar, certamente que sem seu brilhantismo.
Indica o que sabemos todos: a reedição dos protestos de junho em plena Copa do Mundo é a última e desesperada “bala de prata” de que dispõe o conservadorismo em busca de alguma chance eleitoral em outubro.
Não é que as manifestações sejam da direita ou muito menos a direita.
Não o foram, mesmo em 64, porque são mais a instrumentalização, a seu serviço, de uma parcela da classe média que não compreende o progresso como algo coletivo, mas como sua inclusão na camada das elites que, no fundo, as desprezam.
E, ainda, temem as radicalizações que nela surgem, com palavras de ordem e métodos que não são absolutamente os seus.
Mas que, depois, podem ser “enquadradas”, como se viu, dramaticamente, no Egito.
Leblon ergue a mais oportuna das advertências.
Nós não somos as instituições nem sua imutabilidade. Somos sua transformação, para o que os tempos e o povo exigem.
Sem a bandeira da mudança, aponta ele, seremos “um sino de veludo”, que toca mas não é ouvido.
Leblon dá a receita do caminho, que não é o que o “marquetismo” apontaria.
Mas que é o nosso significado.
E, perdoem a tautologia, sem nossos significados, não significamos nada.
O nada não faz história.
O caminho da volta ao poder.
A rua emerge como a derradeira aposta de quem, sucessivamente, ancorou o seu futuro no julgamento da AP 470, na explosão da inflação, no apagão das hidrelétricas, no abismo fiscal e, ainda há pouco, na hecatombe decorrente da redução da liquidez nos EUA.
Cada uma dessas alternativas, mesmo sem deixar de impor constrangimentos objetivos ao país e ao governo, mostrou-se incapaz de destruir o contrapeso de acertos e conquistas acumulados ao longo dos últimos 12 anos.
A irrupção de protestos em plena Copa do mundo tornou-se assim a nova bala de prata acalentada por aqueles que, corretamente, ressentem-se de um amalgama capaz de injetar torque e dinamismo ao acerto de contas que buscam com a agenda progressista brasileira.
Não se espere passividade a partir dessa avaliação.
Está em curso o vale tudo para mobilizar uma classe média eterna aspirante a elite, ademais de segmentos que consideram indiferente ter na chefia da nação Dilma, Aécio ou Campos.
Juntos eles compõem o novo rosto da velha agenda banqueira.
Importa reter desse mutirão aquilo que ele informa sobre a singularidade da campanha eleitoral de 2014.
Junho de 2013 encerra lições nesse sentido.
Delas, o conservadorismo tem a pretensão de ser o aprendiz mais aplicado na prova de fogo que se avizinha.
Apostar a reeleição de Dilma em uma estratégia essencialmente publicitária, como tem objetado Carta Maior, pode reduzir a campanha progressista a um sino de veludo, diante dos decibéis convocados, manipulados e magnificados pela estridência do carrilhão midiático.
O que se desenha para 2014 está mais próximo de um 2002 radicalizado, do que daquilo que se assistiu nas disputas de 2006 e 2010.
Mobilizações de massa não são a primeira escolha de elites mais afeitas a golpes e arranjos de cúpula.
Seu medo atávico às ruas remonta às revoluções burguesas do século XVIII, sendo a contrarrevolução francesa um exemplo clássico do empenho em resgatar o poder para a segurança de um diretório armado, se preciso.
As reticências empalidecem, no entanto, em momentos da história em que a rua é o que de mais palpável se apresenta à regeneração de um domínio conservador espremido em uma correlação de forças que ameaça escapar ao seu controle.
Hoje, não por acaso, o chão firme desses interesses no país se equilibra em duas hipertrofias insustentáveis: a do judiciário e a da mídia.
A campanha do PT em 2014 não pode hesitar diante dessa mistura de esgotamento e desespero.
Se o conservadorismo se inclina às ruas , a resposta progressista não pode ser a defesa retrógada de instituições ultrapassadas pelo avanço da sociedade.
Instituições não são neutras.
Elas cristalizam uma correlação de forças de um dado momento histórico.
A representação da sociedade no atual sistema político –a exemplo de seu ordenamento de mídia, já não expressa o aggiornamento ecumênico verificado na correlação de forças nos últimos anos.
É justamente a urgência dessas atualizações institucionais que a agenda petista deveria incorporar à campanha eleitoral de 2014.
Não como recurso ornamental de um cuore publicitário.
Mas como diretrizes efetivas de mobilização e engajamento político de amplos setores em torno da candidatura Dilma.
Não se trata de criar uma antídoto às ruas.
Mas de levar às ruas uma referência efetiva de renovação histórica, em resposta a expectativas sistematicamente fraudadas pela cepa dos que hoje se fantasiam de amigos do povo.
Se eles convocam as ruas é porque o extraordinário bate à porta.
E quando o extraordinário acontece não bastam as receitas da rotina."
Da coluna de Nélson de Sá, hoje, na Folha:
“(…) Míriam Leitão, do “Bom Dia Brasil”, questionada sobre “um pedido a Papai Noel”, respondeu: “Que as ruas sejam de novo ocupadas, para exigir educação”. E Carlos Alberto Sardenberg, do “Jornal da Globo”: “Queria protestos vigorosos, mas pacíficos, na Copa”.
Será que não significa muito que dois dos mais notórios porta-vozes do conservadorismo façam este tipo de afirmação?
Saul Leblon, o magnífico editorialista do CartaMaior saiu na frente de todos os blogueiros com seu artigo publicado hoje e começa a responder esta questão.
Ele foi ao ponto que, neste final de semana, creio que muitos de nós fossemos tocar, certamente que sem seu brilhantismo.
Indica o que sabemos todos: a reedição dos protestos de junho em plena Copa do Mundo é a última e desesperada “bala de prata” de que dispõe o conservadorismo em busca de alguma chance eleitoral em outubro.
Não é que as manifestações sejam da direita ou muito menos a direita.
Não o foram, mesmo em 64, porque são mais a instrumentalização, a seu serviço, de uma parcela da classe média que não compreende o progresso como algo coletivo, mas como sua inclusão na camada das elites que, no fundo, as desprezam.
E, ainda, temem as radicalizações que nela surgem, com palavras de ordem e métodos que não são absolutamente os seus.
Mas que, depois, podem ser “enquadradas”, como se viu, dramaticamente, no Egito.
Leblon ergue a mais oportuna das advertências.
Nós não somos as instituições nem sua imutabilidade. Somos sua transformação, para o que os tempos e o povo exigem.
Sem a bandeira da mudança, aponta ele, seremos “um sino de veludo”, que toca mas não é ouvido.
Leblon dá a receita do caminho, que não é o que o “marquetismo” apontaria.
Mas que é o nosso significado.
E, perdoem a tautologia, sem nossos significados, não significamos nada.
O nada não faz história.
A vez dos amigos do povo
O conservadorismo brasileiro percorreu todo um alfabeto de alternativas ao longo de 2013 até se convencer de que, isoladamente, nenhuma das vogais ou consoantes lhe daria o que procura.O caminho da volta ao poder.
A rua emerge como a derradeira aposta de quem, sucessivamente, ancorou o seu futuro no julgamento da AP 470, na explosão da inflação, no apagão das hidrelétricas, no abismo fiscal e, ainda há pouco, na hecatombe decorrente da redução da liquidez nos EUA.
Cada uma dessas alternativas, mesmo sem deixar de impor constrangimentos objetivos ao país e ao governo, mostrou-se incapaz de destruir o contrapeso de acertos e conquistas acumulados ao longo dos últimos 12 anos.
A irrupção de protestos em plena Copa do mundo tornou-se assim a nova bala de prata acalentada por aqueles que, corretamente, ressentem-se de um amalgama capaz de injetar torque e dinamismo ao acerto de contas que buscam com a agenda progressista brasileira.
Não se espere passividade a partir dessa avaliação.
Está em curso o vale tudo para mobilizar uma classe média eterna aspirante a elite, ademais de segmentos que consideram indiferente ter na chefia da nação Dilma, Aécio ou Campos.
Juntos eles compõem o novo rosto da velha agenda banqueira.
Importa reter desse mutirão aquilo que ele informa sobre a singularidade da campanha eleitoral de 2014.
Junho de 2013 encerra lições nesse sentido.
Delas, o conservadorismo tem a pretensão de ser o aprendiz mais aplicado na prova de fogo que se avizinha.
Apostar a reeleição de Dilma em uma estratégia essencialmente publicitária, como tem objetado Carta Maior, pode reduzir a campanha progressista a um sino de veludo, diante dos decibéis convocados, manipulados e magnificados pela estridência do carrilhão midiático.
O que se desenha para 2014 está mais próximo de um 2002 radicalizado, do que daquilo que se assistiu nas disputas de 2006 e 2010.
Mobilizações de massa não são a primeira escolha de elites mais afeitas a golpes e arranjos de cúpula.
Seu medo atávico às ruas remonta às revoluções burguesas do século XVIII, sendo a contrarrevolução francesa um exemplo clássico do empenho em resgatar o poder para a segurança de um diretório armado, se preciso.
As reticências empalidecem, no entanto, em momentos da história em que a rua é o que de mais palpável se apresenta à regeneração de um domínio conservador espremido em uma correlação de forças que ameaça escapar ao seu controle.
Hoje, não por acaso, o chão firme desses interesses no país se equilibra em duas hipertrofias insustentáveis: a do judiciário e a da mídia.
A campanha do PT em 2014 não pode hesitar diante dessa mistura de esgotamento e desespero.
Se o conservadorismo se inclina às ruas , a resposta progressista não pode ser a defesa retrógada de instituições ultrapassadas pelo avanço da sociedade.
Instituições não são neutras.
Elas cristalizam uma correlação de forças de um dado momento histórico.
A representação da sociedade no atual sistema político –a exemplo de seu ordenamento de mídia, já não expressa o aggiornamento ecumênico verificado na correlação de forças nos últimos anos.
É justamente a urgência dessas atualizações institucionais que a agenda petista deveria incorporar à campanha eleitoral de 2014.
Não como recurso ornamental de um cuore publicitário.
Mas como diretrizes efetivas de mobilização e engajamento político de amplos setores em torno da candidatura Dilma.
Não se trata de criar uma antídoto às ruas.
Mas de levar às ruas uma referência efetiva de renovação histórica, em resposta a expectativas sistematicamente fraudadas pela cepa dos que hoje se fantasiam de amigos do povo.
Se eles convocam as ruas é porque o extraordinário bate à porta.
E quando o extraordinário acontece não bastam as receitas da rotina."
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