Os
Estados Unidos já viveram dias melhores; na crise da Ucrânia, o
presidente Barack Obama cedeu diante do russo Vladimir Putin e, por mais
que o chanceler John Kerry diga que as portas estão se fechando para a
diplomacia, o governo americano jamais teria coragem para o passo
seguinte, que seria a guerra contra segunda maior potência nuclear do
planeta; na Venezuela, governada por Nicolas Maduro, um pedido de
intervenção proposto pelos Estados Unidos teve 29 votos contrários,
contra apenas três favoráveis, dos americanos, canadenses e panamenhos;
Império americano já não vence na força nem na persuasão do "soft
power".
Do Brasil 247
Do Brasil 247
O presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, está entrando para a
história como o general da derrocada da diplomacia de esporas e revólver
na cintura do império americano. Nas crises paralelas da Ucrânia e da
Venezuela, díspares mas com traços comuns, e nas quais em ambas os
Estados Unidos de Obama tentam se meter, ficou estabelecido na semana
passada que a lei será respeitada antes da força.
Com o parlamento da Crimeia votando por unanimidade a ligação da região à
Federação Russa e a OEA marcando 29 votos a três contra a proposta de
enviar observadores à Caracas, os americanos tiveram de recuar apenas
para bravatas e articulações com seus aliados da União Europeia.Antes,
queriam o recuo da Rússia e o início de intervenção na Venezuela. No
continente americano, eles se mostraram em completo isolamento, ao lado
apenas de Canadá e Panamá. Na Europa do Leste, Putin, como já se
demonstrava, falou mais alto. O leão Obama miou.
Obama marcou em sua biografia um momento preciso do processo de declínio
do poderio americano nos dois telefonemas que trocou com Vladmir Putin.
No último, na quinta-feira 6, ao desligarem depois de uma hora de
conversa tensa, ficou claro que a Rússia, com a vontade manifesta nas
ruas do povo da Crimeia, o pedido unânime do parlamento local e todas as
ligações históricas e culturais existentes com a região tem ao seu lado
todas as leis internacionais para promover a aproximação – e
consequente cooperação e proteção.
Putin deu sua versão do telefonema, sendo o único a falar a respeito do
seu conteúdo. Avisou que não tem como não atender ao pedido da Crimeia
e, além disso, nada há na legislação internacional que o impeça de
atender ao pedido do parlamento. Obama não teria mesmo muito a dizer em
público sobre o conteúdo do telefonema. Ele terá, à luz da correlação de
forças e do direito internacional, de fazer seu secretário de Estado,
John Kerry, engolir as ameaças de que "está se acabando a fase da
diplomacia", prometendo instalar o caos da guerra na região.
Não há nenhuma justificativa legal que permitam aos Estados Unidos, pela
via da Otan ou do que quer que seja, de enfiar as botas na Crimeia.
DERROTA NO QUINTAL - Igualmente,
não será pelo envio de observadores que os Estados Unidos irão dar
sequência, na Venezuela, ao seu apoio crescente ao desmoronamento do
governo constitucional de Nicolás Maduro. A votação de 29 a 3 na OEA
soou como um soco no estômago de Obama dentro do antigo quintal
americano, servindo para mostrar que nem mais nas cercanias de suas
fronteiras os EUA mandam como antes. O México não aprovou a proposta
americana.
Frente a Putin ou pelas costas de Maduro, Obama perdeu. Se procurar
romper com as regras internacionais, e fazer pela via clássica – como no
Iraque e no Afeganistão – uma ação de guerra, não apenas atestará seu
isolamento como marcará o ponto mais baixo de sua diplomacia
conservadora de cunho antiquado e extemporâneo.
Com um tipo diferente da paranóia estelar de Ronald Reagan e da loucura
bélica de George W. Bush, Obama vai sair das duas crises em curso como
inconsequente e, ao mesmo tempo, acovardado.
Primeiro, ao apostar na crise da Ucrânia como uma oportunidade de ganho
de espaço de dominação geopolítica, Obama e sua administração se
mostraram amadores e irresponsáveis. Até as estrelas da bandeira
americana sabem que qualquer tentativa de mudança de correlação de
forças na região irá, sempre e sempre, despertar o urso russo. Misha,
então, se torna Putin. Não se brinca com o segundo (ou primeiro) maior
arsenal nuclear do planeta.
Na Venezuela, não há indicativos de que o governo de Maduro perdeu a
sustentação que sempre teve – de praticamente metade mais um da
população do país. Há que se entender que esse vizinho do Brasil é um
país dividido politicamente há pelo menos 40 anos, alternando regimes
militares com governos pró-americanos, até o advento do chavismo, onze
anos atrás.
Nesse quadro, a Venuzuela tem mostrado solidez institucional suficiente
para resolver seus próprios problemas, apesar de os EUA de Obama
apostarem em todo o tipo de método de desestabilização.
Uma em cada hemisfério do globo, as crises da Ucrânia e da Venezuela
marcam o instante histórico em que os Estados Unidos estão perdendo
definitivamente sua estrela de xerife do mundo.
Abaixo, notícia da Agência Reuters a respeito:
Kerry pede máxima moderação à Rússia na região ucraniana da Crimeia
WASHINGTON, 8 Mar (Reuters) - O secretário de Estado norte-americano,
John Kerry, disse em telefonema ao chanceler russo, Sergei Lavrov, que
qualquer passo da Rússia para anexar a região ucraniana da Crimeia
fecharia as portas para a diplomacia, afirmou uma autoridade do
Departamento de Estado dos Estados Unidos.
"Ele deixou claro que a continuidade da intensificação militar e da provocação na Crimeia ou em qualquer outra parte da Ucrânia, junto com passos para anexar a Crimeia à Rússia, fecharia qualquer espaço disponível para a diplomacia, e ele apelou pela máxima moderação", disse a autoridade.
"Ele deixou claro que a continuidade da intensificação militar e da provocação na Crimeia ou em qualquer outra parte da Ucrânia, junto com passos para anexar a Crimeia à Rússia, fecharia qualquer espaço disponível para a diplomacia, e ele apelou pela máxima moderação", disse a autoridade.
Fonte: Brasil 247
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