sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

TODOS ELES DEVEM SAIR - New York Times, por Naomi Klein.

Matéria copiada do Blog DE UM SEM-MÍDIA, do meu Amigo Carlos Augusto Dória, que está em Minhas Últimas Notícias e em Meus Favoritos.
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Neste Blog VOCÊS PODEM CONFIAR - Eu garanto.
Antes da Matéria um Recado para Carlos Augusto:
Só voltei das férias no Domingo e esta semana está bem enrolada, mas na próxima já poderemos marcar o almoço.
Não estou com tempo de ver os e-mails e já são aproximadamente 3.000 em 30 dias que estive fora, de qualquer forma ainda hoje ou neste fim de semana ligo para você.
Forte abraço.

Saraiva

TODOS ELES DEVEM SAIR
Naomi Klein Do New York Times Ver as multidões na Islândia fazendo panelaço até que o seu governo fosse derrubado me lembrou de um canto popular dos círculos anticapitalistas em 2002: "Vocês são a Enron. Nós somos a Argentina."A mensagem dele era bem simples. Vocês - políticos e CEOs reunidos em alguma reunião de cúpula sobre comércio - são como os executivos inconseqüentes e golpistas da Enron (obviamente, nós não sabíamos a metade disso).Nós - a multidão aqui fora - somos como o povo da Argentina que, em meio a uma crise econômica estranhamente semelhante à nossa, foi para as ruas fazer panelaço. Eles gritavam, "Que se vayan todos!" ("Todos eles devem sair!") e derrubaram quatro presidentes em menos de três semanas. O que tornou a revolta argentina de 2001/2002 única foi o fato de ela não ser dirigida a um determinado partido político e nem mesmo à corrupção de modo geral. O alvo foi o modelo econômico dominante - esta foi a primeira revolta nacional contra o capitalismo desregulamentado contemporâneo. Demorou algum tempo, mas da Islândia à Letônia, da Coréia do Sul à Grécia, o resto do mundo está finalmente tendo o seu momento Per se Mayan toddies! As estóicas matriarcas islandesas batendo suas panelas ao mesmo tempo em que seus filhos vasculham a geladeira à procura de projéteis (ovos, com certeza, mas iogurte?) imita a tática que se tornou famosa em Buenos Aires. O mesmo ocorre com a raiva coletiva contra as elites que arruinaram um país uma vez próspero e pensaram que podiam escapar impunes. Como Garden Jonsdottir, um funcionário de escritório islandês de 36 anos, disse: "Estou farto de tudo isso. Eu não confio no governo, não confio nos bancos, não confio nos partidos políticos e não confio no FMI. Nós tínhamos um país bom e eles o arruinaram." Outro eco: Em Reykjavik, capital da Islândia, os manifestantes claramente não se contentarão com uma simples mudança de rosto no poder (mesmo que a nova primeira-ministra seja lésbica). Eles querem ajuda para as pessoas, não apenas para os bancos; investigações criminais sobre o colapso e uma profunda reforma eleitoral. Reivindicações semelhantes podem ser ouvidas atualmente na Letônia, cuja economia se contraiu mais acentuadamente do que em qualquer país da União Européia, e onde o governo está balançando à beira do abismo. Há semanas a capital vem sendo agitada por protestos, incluindo um tumulto completo com direito a arremesso de pedras em 13 de janeiro. Tal como na Islândia, os letões estão estarrecidos com a recusa de seus líderes em assumir qualquer responsabilidade pela bagunça. Questionado pela TV Bloomberg sobre o que causou a crise, o ministro das finanças da Letônia deu de ombros: "Nada de especial." Mas os problemas da Letônia são mesmo especiais: As mesmas políticas que permitiram que o "Tigre Báltico" crescesse a uma taxa de 12% em 2006 também estão fazendo com que o país se contraia violentamente a um crescimento estimado de 10% este ano. O dinheiro, livre de todas as barreiras, sai tão rapidamente quanto entra, com grande parte dele sendo desviada para os bolsos políticos. (Não é coincidência que muitos dos países com graves problemas econômicos e sociais de hoje sejam os "milagres" de ontem: Irlanda, Estônia, Islândia, Letônia). Algo mais "argentinesco" está no ar. Em 2001, os líderes da Argentina responderam à crise com um brutal pacote para redução de gastos governamentais determinado pelo Fundo Monetário Internacional: US$ 9 bilhões em redução de despesas, sendo que grande parte dessa redução atingiu a saúde e a educação. Isso se revelou um erro fatal. Os sindicatos fizeram uma greve geral, os professores deram aula nas ruas e os protestos jamais cessaram. Esta mesma recusa de baixo para cima a suportar o peso da crise une muitos dos protestos de hoje. Na Letônia, grande parte da raiva popular se concentrou nas medidas do governo para redução de despesas - demissões em massa, redução de serviços sociais e cortes drásticos nos salários do setor público - tudo isso para ter direito a um empréstimo de emergência do FMI (não, nada mudou). Na Grécia, os tumultos de dezembro aconteceram depois que a polícia baleou um jovem de 15 anos. Mas o que tem mantido a revolta acesa, com os agricultores tomando a liderança dos estudantes, é a raiva generalizada com relação à resposta do governo à crise. Os bancos obtiveram um resgate financeiro de US$ 36 bilhões enquanto os trabalhadores tiveram suas aposentadorias cortadas e os agricultores não receberam quase nada. Apesar dos transtornos causados pelos tratores bloqueando as estradas, 78% dos gregos dizem que as reivindicações dos agricultores são razoáveis. Da mesma forma, na França, a recente greve geral, desencadeada em parte pelos planos do Presidente Sarkozy de reduzir drasticamente o número de professores, inspirou o apoio de 70% da população. Talvez o fio mais forte conectando a esta reação mundial seja uma rejeição da lógica da "política extraordinária" - a expressão cunhada pelo político polonês Leszek Balcerowicz para descrever como, em uma crise, os políticos podem ignorar as regras legislativas e fazer às pressas "reformas" impopulares. Esse truque está ficando desgastado, como o governo da Coréia do Sul descobriu recentemente. Em dezembro, o partido dominante tentou usar a crise para forçar a aceitação de um acordo de livre-comércio altamente controverso com os Estados Unidos. Levando a política a portas fechadas para novos extremos, os legisladores se trancaram na Câmara para que pudessem votar secretamente, bloqueando a porta com mesas, cadeiras e sofás. Os políticos da oposição não toleraram isso. Com marretas e uma serra elétrica, eles entraram à força e fizeram um protesto de 12 dias no Parlamento ocupando o local e recusando-se a sair. A votação foi adiada, permitindo mais debates - uma vitória para um novo tipo de "política extraordinária".Aqui no Canadá, a política é nitidamente menos adaptável ao YouTube - mas mesmo assim ela tem sido surpreendentemente cheia de acontecimentos. Em outubro, o Partido Conservador ganhou as eleições nacionais com uma plataforma despretensiosa. Seis semanas depois, o nosso primeiro-ministro conservador encontrou seu ideólogo interior, apresentando um projeto de lei orçamentária que tirou dos trabalhadores do setor público o direito à greve, cancelou o financiamento público para os partidos políticos e que não continha nenhum estímulo econômico. Os partidos de oposição responderam formando uma coalizão histórica que somente foi impedida de tomar o poder por uma suspensão abrupta do Parlamento. Os conservadores acabaram de voltar com um orçamento revisto: As políticas de direita favoritas desapareceram e ele está repleto de estímulo econômico. O padrão é claro: os governos que respondem a uma crise criada pela ideologia do livre mercado com uma aceleração daquela mesma agenda desacreditada não sobreviverão para contar a história. Tal como os estudantes italianos gritaram nas ruas: "Nós não vamos pagar pela sua crise!" Esta coluna foi publicada pela primeira vez em The Nation Naomi Klein, colunista do The Nation e The Guardian em Londres, é autora de The Shock Doctrine: The Rise of Disaster Capitalism. Artigo distribuído pelo The New York Times Syndicate.Fonte: Terra Magazine
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA às 14:47 0 comentários

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