sexta-feira, 26 de março de 2010

TENHO SEDE

"Bem-aventurados os que têm fome e SEDE de Justiça porque eles serão saciados". (Mt, 5-6)

Estamos nos aproximando da Semana Santa, período em que os cristãos revivem a vida, paixão e morte de Jesus Cristo.

Segundo os Evangelhos, no momento da crucificação, Jesus pronunciou sete palavras ou expressões que são objeto de meditação daqueles que creem na Sua Palavra.

Neste texto será feita a reflexão de apenas uma: "Tenho Sede"

Jesus quando pronunciou a expressão "Tenho Sede"! (João 19-18) estava, naquele momento, simbolizando a angústia da sede de milhões de pessoas que, antes, durante e depois de sua vida entre nós, dizem, incessantemente: "Tenho Sede"!

Sede de igualdade, clamam as empregadas domésticas, os índios, os boias-frias, os operários, os desempregados, os sem-terra, os sem-teto, as crianças abandonadas, os menores que sobrevivem do trabalho infantil, os que são submetidos ao trabalho escravo, os moradores de rua, os negros, os pequenos produtores rurais, as prostitutas, os professores e muitos outros.

Dentre esses trabalhadores é oportuno citar e fazer uma menção especial aos professores de São Paulo que, no momento, sofrem uma injusta perseguição por parte do governador José Serra, do PSDB, partido que há anos consecutivos, "governa" aquele Estado. Até a polícia foi autorizada a reprimir violentamente os manifestantes. Anos atrás, é bom lembrar, o governador Moreira Franco do Rio de Janeiro mandou jogar bomba nos professores, notícia que foi dada em destaque no Jornal Nacional. Até então, nem uma notinha da greve o JN publicou, o que denota que a mídia sempre se coloca do lado dos fortes. Educação só é tema nos discursos em época de eleições. Nenhuma novidade... O que os professores de São Paulo reivindicam é apenas um Plano de Carreira mais justo e condições dignas de trabalho. Não são bandidos, mas, estão sendo tratados como tal. Por mais irônico que possa parecer, por agentes policiais que sofrem na pele o mesmo tipo de descaso governamental. Aonde iremos parar?...

Todos têm sede de um salário justo, sede de terra para viver e para plantar, sede de morar dignamente, sede de não serem discriminados pela cor da pele e por serem pobres, sede de serem gente, iguais a toda gente.

Sede de liberdade, gritam os presos comuns, quantas vezes ali colocados injustamente, quando sabemos, através da mídia, que muitos criminosos que roubam o dinheiro do povo, estão à solta, livres, impunemente.

Sede de liberdade, gritam os presos políticos em diversas partes do mundo, cujo crime, muitas vezes, é pensar diferente dos donos da nação e, por isso, são barbaramente torturados. Prática medieval, inacreditável no mundo de hoje.

Também têm sede de liberdade as mulheres e as crianças, que em pleno século XXI, vivem atadas pelo machismo dentro de uma casa, supostamente chamada lar, impedidadas de ser, viver e ter ideias próprias.

Sede de Justiça, geme a humanidade inteira, pois, oprimidos e opressores não podem se realizar como pessoas humanas. Ao oprimido falta tudo, desde o pão (alimento do corpo) até a Educação (alimento do espírito). Ao opressor também falta tudo porque vegeta preocupado em inventar novos meios para cada vez mais oprimir o outro e lucrar às suas custas.

Neste cenário, que ainda perdura em muitos lugares do mundo, temos, então, que seguir os ensinamentos e a vida de Cristo: vencer a tentação do poder e fazer-nos servos semelhantes a Ele e levar à toda humanidade, oprimidos e opressores, a Água Viva.

Isto porque foi o próprio Cristo quem fez esta convocação: "se alguém tiver sede, venha a mim e beba aquele que crer em mim". (João 7,37).

Só assim, esvaziados da sede de poder, seremos capazes de nos abrir a todos os outros irmãos e a Cristo, o grande Outro.

Assim, junto com Ele, beberemos da água que nos saciará da SEDE de Igualdade, Liberdade e Justiça.

Feliz Páscoa a todos que lutam por um mundo mais humano e mais fraterno, especialmente aos Blogueiros, cujos ideais rumam nesta direção!

EXPLICAÇÃO FINAL:

Em 21/04/84 foi escrito um texto com este título por uma grande amiga, Maria do Carmo Lemgruber de Castro, que foi lido na Igreja, na Semana Santa daquele ano. Fui presenteada com uma cópia do mesmo que guardo até hoje, com uma bela e significativa dedicatória alusiva ao tema. Fiz-lhe, agora, um pedido especial: que me autorizasse a usar a ideia central do seu texto e atualizá-lo, uma vez que, hoje, o contexto social é outro. Com a permissão concedida redigi o de agora. No entanto não poderia deixar de externar os meus sinceros agradecimentos pela solicitude no atendimento ao meu pedido.

Matéria escrita por Leda Ribeiro (Colabordora do Blog)

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