quinta-feira, 21 de outubro de 2010

SERRA JÁ RESPIRA SEM AJUDA DE APARELHOS

- Foi ela que tacou o rojão em mim!

Todo mundo deve ter acompanhado a sensação de ontem. Primeiro eu vi no blog do tio Rei, dizendo que petistas eram nazistas, e que o chefe da facção era o Lula, e que era ele, Lulinha Paz e Amor, o responsável pelo ataque físico que Serra sofreu. Eu nem sabia o que o blogueiro da Veja tinha fumado, mas como ele nunca fala coisa com coisa, e vive chamando Lula de Hitler, nem dei bola. Aí, de volta ao meu Twitter, vi que houve um tumulto durante caminhada do Serra em Campo Grande, no Rio. A Veja jurava que ele tinha levado pedrada. Já outros veículos diziam fita de crepe, rolo de adesivos, bobina de papel, cabo de bandeira, mil coisas. Quando o PSDB lançou sua nota de repúdio, falou em “objeto pesado” que acertou a cabeça de seu candidato. Eles não podiam ser um pouquinho mais específicos não, mesmo tendo estado no local?
Veja bem (odeio essa expressão, você não?), sou contra qualquer tipo de violência. Acho que, se Serra vai fazer uma caminhada no Rio, ele deve ser deixado sozinho (e geralmente ele é deixado sozinho, porque êta candidato que não tem povo, tanto que não pode realizar comícios, por falta de quórum). Militantes petistas (que não são pagos, ao contrário dos cabos eleitorais do PSDB/DEM) devem ficar longe, fazer panfletagem num ponto bem distante, ao invés de dividir território e estar sujeito a provocações. Parece que havia gente reclamando (onde que Serra vai que não tem povo reclamando?), mas não era gente do PT, e sim os mata-mosquitos, agentes contra a dengue que Serra demitiu enquanto foi o melhor ministro de saúde que este país já teve, provocando, logo em seguida, uma epidemia de dengue. Lula os contratou de novo quando assumiu, então parece óbvio que eles não gostem de Serra e gostem de Lula, mas, fora essa preferência nacional, não têm relação com o PT. Eles estavam protestando durante a caminhada do tucano. Mas chegaram militantes petistas que, na falta de militantes serristas pra confrontar, gritaram contra os seguranças de Serra mesmo. Já falei que sou contra isso? É muito mais produtivo ganhar votos conversando com as pessoas, ao invés de brigar com o adversário. Já aconteceu várias vezes de eu estar panfletando e um candidato adversário passar por mim (tipo o Luiz Henrique, o Voltolini, o José Carlos Vieira, todos tristes personagens catarinenses). Eles fazem o que faz qualquer candidato em campanha: sorriem e apertam as mãos de quem está pela frente. Se estou perto o suficiente, eu recuso o aperto de mão. Se estou longe, o máximo que faço é uma vaiazinha à toa. Perseguir candidato? Jamais. Xingá-lo? Também não, pra quê?
Passei a tarde esperando o Zapruder film (sabe a filmagem exclusiva do assassinato de John Kennedy, com a cena sendo repetida dezenas de vezes, em câmera lenta, por todos os ângulos? Aquele rolo que inspirou JFK a expor sua teoria da conspiração em JFK?) da agressão a Serra, e nada. Só algumas piadinhas que me fizeram gargalhar. Sei que não deveria rir de um fato tão trágico, mas pô, olha a informação que eu tinha: algo acertou a cabeça de Serra. Não sangrou, não fez galo. Ele foi embora de helicóptero até um hospital, onde se submeteu a uma tomografia, e não a uma lobotomia, como você maldosamente pensou. A junta médica mandou que ficasse 24 horas em repouso. Serra cancelou sua agenda pro resto do dia. E eu só podia pensar: se a cada vez que o maridão batesse a cabeça tivesse que fazer uma tomografia, estaríamos falidos. Não sei os autores das gracinhas do Twitter, mas a que mais gostei foi uma que dizia “Alguém por favor joga um durex em mim pra eu poder parar de trabalhar?”. E a ilustração ao lado, com a legenda “Serra aponta agressor de atentado contra ele”, e é um cartum dos Simpsons, com o alter-ego do tucano, Mr. Burns, apontando pra Maggie. Hum, meu trabalho não foi muito produtivo ontem, deu pra notar.
Mas o que fez Serra, após receber o golpe do “pesado objeto” em sua cabeça? Depende da reportagem. Segundo o Jornal Nacional (que não mostra nada atingindo o candidato), ele entra na van e vai embora, e o JN vai atrás, entrevistando o médico que, por uma incrível coincidência, é o ex-secretário de saúde do César Maia; esse gabaritado doutor diz que não há nada na cabeça de Serra (ok, não exatamente com essas palavras). Segundo a Record, que de fato exibe algo que pode se assemelhar a um rolo de fita passando a no mínimo um palmo acima da cabeça de Serra, ele foi direto pro hospital fazer uma tomografia. A Record, pelo menos, foi a única a mostrar um petista ferido, sangrando, e um fortinho de camisa amarela (não do PT) batendo num cara. O último vídeo que eu vi foi o mais revelador: é o do SBT (veja aqui). Só ele mostra alguma coisa realmente acertando a cabeça de Serra, e não parece algo pesado. Pelo contrário, lembra uma pipoca. Ela toca no cocuruto de Serra e pula, sem o menor impacto. É uma f*cking bolinha de papel! Ele nem nota. Continua caminhando. Pouco depois, entra na van. Fica lá vinte minutos. Sai e anda de novo. Recebe um telefonema no celular, que provavelmente lhe diz, “Ih, f*deu. Finge que você foi atingido pra gente poder tirar proveito eleitoral dessa história e suavizar o vexame que é você não ser abordado por pessoas a menos que elas queiram te agredir. Além do mais, não tem ninguém te esperando no Maracanã. Niguém no Rio vai votar em você. O apoio do Gabeira e daquele inútil que você chamou pra vice não tá te servindo de nada no Rio. Melhor tocar pro hospital. Lá a gente arranja alguém pra examinar sua cabeça e ver se você tá mal da cuca”. Bom, talvez não exatamente com essas palavras. E aí Serra põe um dedo em sua cabeça, entra na van, e 'bora pro hospital.
Só havia uma testemunha ocular do atentado, e ela falou depois, exaltada: "Estava do lado do Serra, abraçado com ele, quando veio aquele pacote enorme. Bateu na cabeça dele e fez até barulho. Um negócio pesado. Devia ter uns dois quilos". Assinado: Índio da Costa. Qual o barulho que uma pipoca faz? Ploc? Pop? E qual pipoca pesa dois quilos, a doce, ou a salgada com dez pacotinhos de manteiga grudados?
Pela reportagem do SBT não resta dúvida que, apesar do depoimento isento e verdadeiro de Índio, o que acertou Serra foi uma bolinha de papel, e que ele fez a maior armação vinte minutos depois. Sounds familiar? Não à toa, um tag de sucesso que logo apareceu no Twitter foi o #serrarojas. Você que é jovem não tem nem ideia de quem é Rojas, né? Pois bem, veja este vídeo, mas continue pensando no Serra enquanto vê. O goleiro chileno Rojas foi um personagem importante na classificação do Brasil pra Copa, em 1989. Vinte minutos depois do Brasil marcar um gol, no segundo tempo, Rojas apareceu agonizando em campo, no meio de muito fumaça. Havia sido atingido por um rojão e estava sangrando. Game over, decretou o juiz. Depois, ficamos sabendo que aquilo era um sinalizador de fumaça, que aquilo não faria tanto estrago, que o coiso não tinha chegado perto de Rojas, e que ele havia cortado seu supercílio com uma gilete. O Chile foi desclassificado.
Mas Rojas era bom ator, principalmente se comparado a Serra. O tucano podia ter se jogado no chão e estrebulhado um pouquinho. Podia aparecer um curativo depois que ele saísse da van. Do jeito que foi armado, foi coisa de amador. Aí ficam duas dúvidas: 1) são pessoas com esse nível de incompetência que a gente quer pra governar o país? Nem pra fazer uma encenação convincente! 2) se Serra ganhar, estaremos a uma bolinha de papel do Índio assumir? Olha o perigo aí, minha gente! Mais perigoso que uma bolinha de papel!

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