terça-feira, 14 de junho de 2011

Estenda a mão, que o Serra bica.

Os gaúchos têm um sábio ditado: a luta não quita a fidalguia. De fato, o confronto político não deve significar grosseria e falta de civilidade pessoal, sobretudo quando se é uma autoridade pública, que tem deveres para com todos, não apenas para aqueles por quem nutre simpatia.

Por isso, considero que seria perfeitamente natural que a Presidenta Dilma Rousseff cumprimente o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pela passagem dos seus 80 anos.

Mas o ato de fidalguia da Presidenta caiu como milho para a tucanada ávida por alguém que diga algo gentil ao ex-presidente. “Viram? Até a Dilma reconhece como ele era ótimo”. Menos, menos…

Calma, que ninguém aqui perdeu a memória…

Fernando Henrique foi o homem que vendeu boa parte da Petrobras em ADRs na Bolsa de Nova York, que acabou com o monopólio estatal do petróleo, danos que só à muito esforço – e custo para o país – Lula, com o auxílio de Dilma, começaram a recuperar. Foi ele, FHC, quem vendeu a Vale por uns míseros trocados, e sangrou a terra brasileira de seus valiosos minérios e fez com que esta magnífica empresa, que só parece retomar o bom caminho pelo esforço que a Presidenta fez e sabe o quanto foi difícil fazer.

Fernando Henrique foi o homem que privatizou nas condições mais suspeitas, que obteve a reeleição com as práticas mais escusas, que declara e vangloria-se de ter sido aquele que tentou – e por Deus, não conseguiu – matar os sonhos de um desenvolvimento autônomo e justo para o Brasil.

Os gaúchos, cuja sabedoria popular antes citei, tem outra expressão curiosa: não sair mostrando as canjicas. Isto é, não sair de risos fáceis, de rapapés. Os redatores da Presidenta – qualquer poder – precisam tomar cuidado com esta mania de querê-la mostrar “superior” e “estadista”. Ser tolerante e comportar-se acimadas disputas eleitorais não quer dizer se espalhar em elogios.

Até porque isso se presta às baixezas de sempre, como as que fez Serra ontem, em Blumenau, ao atacar, de uma batelada só, Dilma e Lula.

De Lula, disse que ele era um “performer”, que” divulgava um crescimento econômico que, na verdade, esteve na média de toda a América Latina”. Pra variar, não é verdade e Serra poderia ler o que publicou a Folha, no dia 20 do mês passado:

“O crescimento da economia brasileira, associado à valorização do real, fez com que a participação do Brasil no PIB da América Latina e do Caribe atingisse em 2010 o seu maior patamar em mais de 20 anos.

Segundo dados do FMI, o PIB brasileiro representou 43,3% da riqueza produzida na região no ano passado. Desde 1989, o país não obtinha uma fatia tão grande da economia latino-americana.”

E de Dilma, Serra disse que ela “passou a campanha inteira falando que o Fernando Henrique encerrou seu governo com a economia desestabilizada. É melhor falar a verdade mais tarde que reiterar a falsidade”. De novo, Serra se serve das palavras generosas para mesquinharias. Dizer que o ex-presidente “contribuiu decisivamente para a consolidação da estabilidade econômica” não anula o fato de que, sim, o final de seu governo foi de desestabilização da economia. Tanto é que, se Serra fosse intelectualmente honesto, recordaria que foi parar no Palácio do Planalto,em outubro de 2002, junto com Lula e Ciro Gomes, para discutir com FHC um acordo com o FMI para mais um daqueles empréstimos de emergência dos quais, felizmente, faz muito tempo que nem ouvimos falar mais.

Se isso é terminar o Governo com a economia estabilizada, imaginem o contrário…

Serra deveria se envergonhar de, derrotado, estar saindo por aí com o seu azedo rancor, porque ele, quando queria caçar os votos da população se apresentando como “lulista”, foi quem andou dizendo que “”Lula está acima do bem e do mal”. Que cara de pau!

Os marqueteiros que desejam que a Presidenta mostre que tem personalidade deveriam refletir que ninguém tem a história que ela teve sem ter personalidade. Que ninguém, sem experiência eleitoral, seria escolhida repositório do movimento de transformação que Lula desencadeou se não tivesse firmeza e caráter e compromisso inarredável com a mudança que se iniciou em nosso país.

Não precisam se preocupar a dar a Dilma o que ela já tem. E devem lembrar que o trecho onde ela afirma que teve e mantém opiniões diferentes do ex-presidente acaba desaparecendo, frente ao desejo de explorar as palavras para além de um cumprimento a um ex-presidente que entra nos 80 anos.

A capacidade de Dilma Rousseff só está posta em questão por aqueles que a consideravam, como o próprio FHC, ” um boneco manipulado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva”. São eles que estão, a todo momento, instilando veneno para que Dilma se mostre “independente”. Ora, ter opiniões, estilo e autoridade pessoais jamais significou negar que se pertença a um campo político.

Por isso, por conta das explorações mesquinhas como esta de Serra, é que é preciso muito cuidado quando recebemos elogios das raposas. E ao fazermos elogios às raposas.

Até porque sabemos que o jogo da direita é o de separar Dilma de Lula e Lula de Dilma, embora Lula seja muito “rodado” para cair nestes joguinhos. E Dilma saiba perfeitamente onde esta turma quer chegar.

Ganhamos a eleição porque Lula é Dilma e Dilma é Lula. E Serra foi FHC. Que, agora, é Aécio.

Se ajudarmos a confundir a população, não esperemos, depois, que ela seja lúcida.

Do Blog TIJOLAÇO.COM

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