domingo, 21 de setembro de 2014

O escândalo do silêncio


São mais de quatro meses de intensa presença, na política e na imprensa, do múltiplo escândalo envolvendo o doleiro Alberto Youssef, negócios passados da Petrobras com as refinarias Abreu e Lima e de Pasadena, e a corrupção do ex-dirigente da estatal Paulo Roberto Costa. Já é um escândalo mais longo que o desnudamento da Presidência de Collor, de pouco mais de três meses. E, por certo, é o escândalo mais obscuro de todos para a opinião pública, apesar de duas CPIs e vários inquéritos da Polícia Federal com a Procuradoria da República.

Uma de suas faces, porém, está bem nítida. É a obediência à regra fundamental dos escândalos brasileiros de corrupção.

Sem estar sob segredo de Justiça, a investigação sobre as atividades do doleiro Alberto Youssef resultou em razoável quantidade de informações públicas. Mas confusa o bastante para que não se saiba, até hoje, como e quem formou a tal montanha de R$ 10 bilhões que Youssef teria posto no exterior por meios ilegais. O custo da refinaria Abreu e Lima, dezenas de vezes maior do que o previsto, tem números, mas não tem a explicação. Os envolvimentos de políticos na corrupção delatada por Paulo Roberto Costa têm alguns nomes, mas os negócios que se ligariam a esses nomes ficam silenciados.

O elo que reúne todas essas omissões: nenhuma pode ser preenchida sem a revelação, também, do lado corruptor. No qual estão as empreiteiras fortes, como OAS, Odebrecht, Queiroz Galvão, Andrade Gutierrez, Camargo Corrêa, Engevix, Mendes Júnior, Coesa (da OAS), e por aí em diante. As intocáveis, portanto.

Contrapé

Uma situação original na disputa dos presidenciáveis, proporcionada pelo candidato sorriso.

Se as duas atitudes decorreram de análises internas do PSDB, não está claro. Mas a opinião divulgada por Fernando Henrique, de que Aécio Neves deveria passar ao ataque a Dilma, deixando Marina a salvo, foi seguida pelos discursos do candidato com apelos ao eleitorado "para tirar o PT do governo".

Como a maior possibilidade de "tirar o PT" é de Marina, e não de Aécio, o sentido final daquelas duas colocações é o mesmo: o voto útil. Nela.

Mas a opinião de um e a prática do outro, um disfarçado jogar da toalha, davam-se exatamente quando o eleitorado concedia algum alento a Aécio, como indicado nos dois e três pontos captados pelo Datafolha e pelo Ibope. Era o candidato contra seus apoiadores. E ainda foi fazer o seu apelo no Nordeste, onde não consegue colher nem milho.

Mudança

Caso se confirme e inclua mudança de direção, a venda do controle do Ibope à inglesa WPP vai sacudir as relações entre meios de comunicação, publicidade e público leitor/ouvinte/espectador.

Lá por meado do século passado, o então incipiente grupo Globo e o Ibope tiveram gravíssimo incidente. Como era próprio do comando de Roberto Marinho, não houve meios tons. A ofensiva adotou a tática arrasa-quarteirão.

Desde o acordo de paz, muitas emissoras de sucesso do Rio e, depois, também de São Paulo se insurgiram contra o que seria o sistema de apuração do Ibope. Em vão. É compreensível que, para as mesmas ou para as sucessoras, novos donos possam significar novas perspectivas. 

Janio de Freitas
No fAlha

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