“Em ato em São Paulo, Lula faz nova agressão à imprensa”. Esse é o
título de matéria de O Globo publicada no dia 21 de outubro. Nela o
jornal (não há crédito para autor) relata que Lula teria “atacado a
imprensa”, ao dizer em comício que os jornalistas Miriam Leitão e
William Bonner falavam mal de Dilma. Logo após enunciar o fato, a
reportagem de O Globo vai ouvir a outra parte, a TV Globo.
A resposta curta da emissora vale a pena ser reproduzida literalmente:
“[nossos] jornalistas não falam mal de ninguém, mas apenas cumprem a
sua obrigação de perguntar e noticiar fatos”.
As Organizações Globo são a maior empresa de comunicação do Brasil. Os 45 anos de seu Jornal Nacional, o mais notório noticiário da televisão brasileira, foram comemorados este ano sob a sombra do registro de uma das mais baixas audiências de sua história. Ainda assim, o JN não perdeu seu protagonismo no gênero. O jornal impresso O Globo desempenha papel semelhante no Rio de Janeiro: a despeito da queda de sua tiragem anual, ainda representa a mídia impressa de maior circulação na cidade e ocupa o terceiro lugar no Brasil, de acordo com o ranking de 2013 da Associação Nacional de Jornalistas (ANJ).
As Organizações Globo são a maior empresa de comunicação do Brasil. Os 45 anos de seu Jornal Nacional, o mais notório noticiário da televisão brasileira, foram comemorados este ano sob a sombra do registro de uma das mais baixas audiências de sua história. Ainda assim, o JN não perdeu seu protagonismo no gênero. O jornal impresso O Globo desempenha papel semelhante no Rio de Janeiro: a despeito da queda de sua tiragem anual, ainda representa a mídia impressa de maior circulação na cidade e ocupa o terceiro lugar no Brasil, de acordo com o ranking de 2013 da Associação Nacional de Jornalistas (ANJ).
A concentração da propriedade dos meios de comunicações em nosso país,
da qual as Organizações Globo são o maior exemplo, levanta uma série de
questões de ordem teórica e política, entre elas, a da sinergia e
coerência das linhas editoriais de suas várias mídias: TV Globo, Jornal
O Globo, Revista Época, Globo News etc. No presente artigo, fazemos um
estudo de caso comparando a cobertura das eleições de 2014 no jornal O
Globo e no JN. Será que elas seguem os mesmos padrões? Será que a
descrição que a TV Globo fez de seus jornalistas é verdadeira? A
análise da cobertura dos candidatos em cada um desses meios, que vai
abaixo, nos ajudará a responder essas perguntas. Comecemos pelos
gráficos de matérias neutras para cada candidato:
Jornal Nacional — Candidatos (Valências neutras)
No Jornal Nacional a presidente Dilma Rousseff manteve-se quase que o
período todo acima de seus dois principais contendores no número de
neutras, com exceção do curto período que se segue à semana da morte de
Eduardo Campos (13/08), no qual Marina Silva a ultrapassou. Após a
superexposição dada pelo Jornal Nacional a Marina Silva, nesse momento,
sua curva se aproxima muito da de Aécio, a ponto de tornarem-se
virtualmente idênticas. A de Dilma também tem forma bem similar, mas
está acima das curvas de seus dois adversários. A superioridade de Dilma
na cobertura neutra se deve certamente ao fato de ela ser Presidente
da República, ou seja, continuar no exercício da função mesmo durante a
campanha eleitoral. Já o formato muito similar das curvas de Aécio e
Marina, e mesmo de Dilma, mostram que o jornal provavelmente controla
não somente a exposição de cada candidato, mas também a valência das
matérias que tratam deles.
O Globo — Candidatos (Valências neutras)
Como o gráfico acima mostra, o comportamento da cobertura de capa do
jornal O Globo é diverso do seu congênere televisivo no que toca a
cobertura neutra dos candidatos. A semana da morte de Eduardo Campos
inaugurou um período de superexposição de Marina Silva mais longo e
intenso. Já na primeira semana ela obtém quase o dobro de neutros de
Dilma (22 contra 13), fica acima da candidata-presidente até o final de
agosto e, a partir daí, passa a se alternar com Dilma na liderança das
menções neutras até praticamente o primeiro turno. O gráfico de neutros
do jornal tem também outro aspecto de interesse. Nas últimas semanas
anteriores ao primeiro turno, quando Marina começava a cair nas
pesquisas de intenção de voto, o candidato do PSDB, Aécio Neves, que
havia sido relegado a um terceiro plano depois da subida de Marina,
começa a ter sua exposição aumentada pelo jornal, a ponto de passar
Marina e passar Dilma. Na semana do primeiro turno ele obteve uma
proporção de 3 neutras na capa para cada 2 de Dilma (18/13). Ou seja,
tanto o crescimento de Marina e depois o de Aécio foram apoiados pela
exposição do jornal, mas só o crescimento de Marina parece ter recebido
tratamento similar do Jornal Nacional.
A comparação dos gráficos de matérias e chamadas neutras nas capas do
jornal com o número de matérias neutras no Jornal Nacional, como um
todo, mostra que o jornal impresso manipulou bem mais a exposição dos
candidatos do que seu congênere televisivo. O quadro da comparação dos
gráficos de negativas, contudo, é diverso. Vejamos primeiro a cobertura
do Jornal Nacional durante a campanha.
Jornal Nacional — Candidatos (Valências contrárias)
A imagem é tão forte que dispensa muitos comentários. O viés contra
Dilma ao logo de todo o período eleitoral foi tremendo. Só para se ter
um parâmetro de comparação, quando ela atingiu um pico de 23 matérias
negativas na semana de 7 a 13 de setembro, Aécio teve duas e Marina uma.
Esses números não levam em conta as matérias negativas do JN sobre o
Governo Federal, que não citavam Dilma diretamente, sobre economia e
sobre o PT, que, como as páginas dos Manchetômetro mostram, foram
abundantes em toda a campanha
(http://www.manchetometro.com.br/analises/). Note-se ainda que há um
crescimento da cobertura negativa à medida que a campanha avança no
tempo, o que denota a intensificação do combate da editoria do JN à
candidatura do governo.
O Globo — Candidatos (Valências contrárias)
O gráfico de negativas de O Globo é bem similar ao do JN: Dilma é
massacrada, enquanto os outros candidatos passam quase incólumes. Mas há
uma diferença importante e ela diz respeito à cobertura de Marina
Silva. O jornal de fato aumentou bastante o número de negativas na capa
para a candidata no período que vai da morte de Eduardo Campos até
meados de setembro. Mas à medida que Marina começou a cair nas
pesquisas, o número de negativas nas capas também arrefeceu. O número de
negativas para Dilma é realmente expressivo, atinge picos de 28
manchetes ou chamadas por semana, ou seja, uma média de quatro por dia,
somente na capa do jornal. E esse pico é alcançado duas vezes, na
semana de 7 a 13 de setembro e na semana de 21 a 27 de setembro, isto
é, às portas do primeiro turno.
Como nossa análise mostrou, as Organizações Globo, tanto por meio do Jornal Nacional quanto pelo periódico O Globo, cobrem as eleições de maneira fortemente enviesada, dedicando um número desproporcional de matérias negativas à Dilma Rousseff e ao seu partido, o PT. Ao mesmo tempo, blindam os candidatos da oposição, limitando-se a noticiá-los de forma neutra. O Manchetômetro, por meio de suas análises, mostra claramente esse comportamento enviesado. Até quando os grandes meios de comunicação vão conseguir manter o discurso hipócrita da neutralidade? Isso é algo que ainda não podemos responder.
Como nossa análise mostrou, as Organizações Globo, tanto por meio do Jornal Nacional quanto pelo periódico O Globo, cobrem as eleições de maneira fortemente enviesada, dedicando um número desproporcional de matérias negativas à Dilma Rousseff e ao seu partido, o PT. Ao mesmo tempo, blindam os candidatos da oposição, limitando-se a noticiá-los de forma neutra. O Manchetômetro, por meio de suas análises, mostra claramente esse comportamento enviesado. Até quando os grandes meios de comunicação vão conseguir manter o discurso hipócrita da neutralidade? Isso é algo que ainda não podemos responder.
João Feres Júnior, Eduardo Barbabela e Marcia Rangel Candido
No Manchetômetro
Nenhum comentário:
Postar um comentário