Didi e Zacarias |
William Bonner abriu o papel em que estava escrito o tema a ser discutido. “Previdência”, é o que se lia.
O Pastor Everaldo, à frente do palco, convocou Aécio Neves. “Meu
querido senador”, ronronou, a voz melíflua. Entrou a falar sobre o PAC.
Bonner, como um bedel, pediu que os dois se concentrassem no assunto
determinado.
Everaldo deu um sorriso cínico, descarado, sabujo e mandou bala: “O que o senhor tem a me dizer sobre a Previdência no Brasil?”
A dupla mais abjeta da televisão brasileira depois de Danilo Gentili e
Roger do Ultraje é formada por Aécio e Everaldo. A sorte é que foi a
última vez, na temporada, em que ela aparece. Mas deve ter futuro na
política.
Desde os primeiro debate, os dois interpretam um casal 20 de fundo de
quintal em que o candidato do PSC se deixa subjugar pelo do PSDB. Se
você tem alguma dúvida, é bom que saiba: é tudo combinado.
Everaldo, com sua pinta de vendedor de cinto de couro de cobra, sua
mania de declarar que inventou o Bolsa Família, a falta completa de
ideias e coragem, assumiu nos encontros a função de escada para o novo
patrão.
Era mais ou menos previsível que procurasse algo ou alguém para onde
correr. Sua candidatura se transformou num traque. O restolho de voto
evangélico que tinha migrado para Marina Silva. Não resistiu a 15 minutos
de Jornal Nacional. Silas Malafaia, que o apoiava quando não estava
ocupado detonando homossexuais, trocou-o por Marina.
Everaldo chegou a ser saudado como uma “grata surpresa” por Rodrigo
Constantino, o que deveria ser interpretado como um sinal. Uma esperança
para a direita, no desespero da direita em achar alguém assumidamente
de direita. Revelou-se um conservador meia boca de fala mole.
Um nanico entre os nanicos. Luciana Genro e Eduardo Jorge mostraram
brilho próprio. Levy Fidelix, em sua imensa, pantagruélica estupidez,
acabou ganhando muito mais visibilidade, embora por vias transversas.
O pastor havia terminado um dos debates com uma bênção evangélica. Na
Globo, pediu a bênção a seu padrinho Aécio Neves, trocando afagos e
beijando a mão do patrãozinho, que olhava o servo com desdém enquanto
lhe trepava nas costas para vender seu peixe.
Kiko Nogueira
No DCM
Do Blog CONTEXTO LIVRE.
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