terça-feira, 25 de maio de 2010

Freud e faixas


Freud discute bastante a noção do regresso de uma emoção ou de um sentimento sublimado ou reprimido. Apagar o nome de Marina numa faixa teve o ensejo de sublinhá-lo, ressaltá-lo...

Alfredo Sirkis

O episódio das faixas de pré candidatos a deputado do PV, que tiverem que cobrir o nome de Marina na pré-convenção estadual que lançou Gabeira pela coligação PV-PSDB-PPS-DEM, me evoca a imagem freudiana da volta da coisa sublimada. A força de quererem sublimar Marina fizeram-na voltar vigorosamente nos jornais do dia seguinte.

Havia sido combinado, entre os partidos, que nem Marina, nem Serra, viriam à pre-convenção. Subjacente e coerente com isso seria não ostentar seu nome em faixas. Até aí tudo bem. Mas, a implementação prática por ordem de não identificados militantes tucanos --nessas horas sempre surge algum mandão-- foi um tiro que saiu pela culatra. No geral, a regra foi seguida, não havia grandes faixas MARINA (OU SERRA) PRESIDENTE. Empombaram com minúsculas Marinas perdidas em duas ou três pequenas faixas artesanais do Guida e do Almeida Lima, que foram cobertas por fita transparente ou, pior, por adesivos do Gabeira, cujo resultado inesperado, porém previsível, foi ressaltar mais que ocultar.

Uma foto carrega uma carga simbólica cem vezes mais poderosa do que um texto. E a leitura simbólica das imagens tem o poder de ressaltar sujeitos ocultos ou situações sublimadas. Conforme o dito francês: “chassez le naturel, voilà qu’il revient a galope” (Afaste o natural e eis que ele volta a galope). Ao limarem a caligrafia precária de faixas, que normalmente ninguém prestaria a menor atenção, o sujeito limado reapareceu com o poder da volta do sublimado, Freud explica...

A presença ausente

Tive que ir a São Paulo para ajudar na preparação de Marina para o debate de amanhã na CNI. Aspásia decidiu, a convite nosso, também participar dessa atividade preparatória; o que nos poupou a ambos daquele ritual de lançamento da coligação para governo de estado onde sua pre-candidatura ao senado –eleição politicamente vinculada à presidencial- foi também sublimada, nesse caso de forma peremptória.

Fique claro: é uma decisão política, não jurídica, e tem como nexo não tensionar as relações com os aliados estaduais, privilegiando essa zona de conforto, aceitando assim sacrificar um ponto de apoio importante à campanha presidencial e, contribuindo para um ruído de muitos decibéis na nossa comunicação e na nossa tentativa de mantermos nosso protagonismo, enquanto força crítica da política tradicional. Nesse sentido, imagens também são mais poderosas que racionalizações, sobretudo no que diz respeito à nossa base da classe média carioca, a qual deixamos sem opção para o Senado, diante de um leque de opções francamente deprimente.

Aceito uma boa dose de pragmatismo nas alianças, quando disputamos eleições majoritárias ou participamos de governos, em nome de conseguir tirar do papel e levar à prática objetivos programáticos importantes dos verdes. Elas sempre trazem uma margem de risco. Por outro lado, existem limites do que é palatável. Penso que nossa aliança de primeiro turno, nas eleições para prefeito do Rio, em 2008, com os tucanos e o PPS, situava-se dentro de uma margem aceitável de risco. Tenho sérias dúvidas se a atual não extrapola esse limite. Já coloquei ad naseum minha posição a respeito mas, também considero que, em última instância, essa é uma decisão (e uma responsabilidade) que cabe ao nosso candidato a governador. Em política, nem sempre 2 + 2 são 4. Há alianças que subtraem. Rezo para estar equivocado.

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)


Nenhum comentário: