terça-feira, 4 de maio de 2010

A lógica de Akiaboro – Antonio Delfim Netto

Coluna Sextante da CartaCapital n˚ 594
A lógica de Akiaboro – Antonio Delfim Netto
É interessante continuar a discutir as questões sobre o entorno da construção de Belo Monte por muitas razões, a primeira delas porque permite conhecer as inconsistências (e muitas vezes as falcatruas) que embasavam os argumentos contrários à obra. Ninguém pode negar que são legítimas as preocupações em relação à preservação do meio ambiente e que muitas pessoas ou organizações que se dedicam à causa ambientalista ajudam a formar uma espécie de consciência sobre os cuidados que o uso da natureza merece receber de toda a sociedade.
Chegou a hora, no entanto, de distinguir com clareza os fatos, que podem ser razoavelmente verificados, do ruído ensurdecedor produzido pela picaretagem organizada muldiamente para impedir que o Brasil utilize o seu potencial de oferta da energia limpa para continuar a se desenvolver sem destruir o ambiente ou aumentar a poluição da humanidade. É contra esse modelo inédito que se unem as oportunistas ONGs nacionais com suas mídias e a maioria dos estrangeiros (agora com recursos de 3D!) provavelmente tentando limpar a sujeira de seus passados, convenientemente turbinadas pelo tilintar dos euros e dólares que recebem de cofres alienígenas...
É uma grande tristeza acompanhar quase diariamente o festival de besteiras que nossa mídia reproduz sem avaliar a sua procedência, nem tentar apurar um pouco melhor os motivos das iniciativas de algumas dessas ONGs que mais corretamente deveriam ser reconhecidas como ENGs (de enganação, mesmo). Devo reconhecer que não sou, nem de longe, um especialista nessas questões que tratam da preservação do meio ambiente e da necessidade de reduzir o chamado efeito estufa. Respeito, por isso, e procuro compreender as preocupações dos ambientalistas que propõem uma discussão sobre o que já se conhece dos caminhos do desenvolvimento sustentável e das formas de utilização da energia que cause menores estragos ao hábitat. O Brasil realizou obras magníficas em que o respeito à natureza serve de exemplo: Itaipu é uma demonstração desse cuidado, reconhecido por todas as organizações ambientalistas sérias do mundo.
Recomendaria aos brasileiros de boa-fé que aproveitem as boas oportunidades que o crescimento do turismo interno está oferecendo para agendar uma visita não somente a Itaipu. Existe mais de uma dezena de usinas no Sudeste e Centro-Oeste brasileiros, no Rio Grande, nos Rios Paraná e Tietê (apenas para lembrar as que foram erguidas nos últimos 30 anos0 que merecem a viagem e fornecem algumas lições de proteção ambiental que não existem em outras nações que se desenvolveram como nós. Os cuidados tomados nos estudos para o aproveitamento hidrelétrico no Xingu quanto à proteção ambiental são de melhor natureza ainda e deverão surpreender o mundo.
Precisamos nos proteger, realmente, é da crença que todo figurão que nos visita é portador de uma ciência superior sobre as questões ambientais. Alguns brasileiros desavisados costumam dar muita atenção às lições que esses personagens nos trazem. Aprenderíamos um pouco mais prestando atenção à nossa própria gente, talvez em sua grande simplicidade, mas de lógica inegável. Esta semana, o grande chefe Akiaboro, cacique dos índios caiapó, no Xingu, usou de sua inteligência e bom senso para acalmar as aldeias que estavam se deixando influenciar pelos cantos de guerra contra a nação brasileira: convocou os caciques de outras nove etnias da região para se reunir e deliberar antes de exigir um encontro com o grande chefe branco, Lula, de quem ele recebeu promessa de audiência.
Com a sua lógica transparente, Lula disse que “o que falta é convencer os índios de que eles são brasileiros...”. O objetivo – disse Akiaboro aos demais – é “evitar ir à guerra, que será muito ruim, pois haverá muitos mortos”. E, quando cobrado para uma ação mais enérgica e imediata contra a Funai (que os teria traído), o grande cacique convenceu os demais com sua lógica simples: “A Funai não pode falar pelos índios. Ela concordou com a construção de Belo Monte porque é um órgão do governo e não vai brigar contra ela mesma”. Enviado para o Blog da Dilma pelo Correspondente Amorim - São Paulo/SP.

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