“Gravações da Operação Monte
Carlo indicam como Cachoeira seria beneficiado pela Secretaria de Educação de
Goiás para a construção de escolas no modelo chinês e como o contraventor buscou
a revista Veja para emplacar seu projeto. Cachoeira ligou para o editor da Veja
em Brasília, Policarpo Junior, pedindo que fosse feita uma matéria sobre a
"revolução na educação" que estaria sendo feita em Goiás. A revista não fez a
matéria sobre essa "revolução", mas destacou o modelo educacional chinês e suas
escolas. Ouça os áudios. A reportagem é de Vinicius Mansur.
Vinicius Mansur, Carta Maior
No dia nove de junho de 2011, em ligação
telefônica interceptada pela Operação Monte Carlo, da Polícia Federal (PF), às
14:59, o contraventor Carlos Cachoeira revelou a Gleyb Ferreira da Cruz, um de
seus auxiliares, de acordo com a PF, o seu projeto para construção de escolas em
Goiás. “Comenta com ninguém não, mas o Thiago passou modelo pra nós, tá? Vai
alugar várias escolas no estado, entendeu? E vamos construir, porque na hora que
sair, tá pronta, é só oferecer”, disse Cachoeira. O nome do secretário de
educação de Goiás é Thiago Peixoto.
A partir dos 35 segundos desta
ligação o contraventor pede a Cruz que busque o “Alex da China” para obter
modelos de escola sem citar que “é do secretário essas coisas”. Cruz afirma que
o Alex “tá na mão” e que entrará em contato com ele. (Ouça abaixo)
Em pouco menos de um mês, no dia sete de julho de 2011, às 10:09,
Cachoeira liga para o editor da Veja em Brasília, Policarpo Junior, afirma que o
secretário de educação de Goiás “ta fazendo uma revolução na educação” e
pergunta “com quem que ele vê? (...) Como é que a gente pode fazer uma
divulgação disso?”. Junior afirma que a ligação está cortando e não responde
mais. (Ouça abaixo)
Às 10:48, do mesmo dia, o então diretor da Construtora Delta no
Centro-Oeste, Claudio Abreu, durante um encontro com Policarpo Junior, liga para
Cachoeira para solicitar informações sobre a compra de uma fazenda em Nova
Crixás (GO) por “Juquinha” - José Francisco das Neves, ex-presidente da Valec,
estatal responsável pelas ferrovias. À época a revista Veja publicava denúncias
envolvendo o Ministério dos Transportes. Na ligação, Abreu chega a pedir um
dossiê. Cachoeira diz não saber e muda de assunto . “Você tá com o Poli... Fala
para ele fazer a reportagem aí, o Thiago ta fazendo uma revolução na educação
aqui. Manda ele designar um repórter para cobrir”. Ouça abaixo:
O contraventor ainda cita que o secretário de educação colocou 14
mil professores para a sala de aula e que ele está fazendo um projeto com a
Gerdau. “Vai revolucionar a educação aqui em Goiás”, insiste. Abreu se
compromete em passar o recado.
Em outra ligação, às 10:57, Abreu volta a
falar do dossiê, Cachoeira diz que vai averiguar com João Bosco e, em seguida,
pergunta sobre seu pedido ao editor da Veja. “Ele vai conversar com você sobre
isso aí e vai dar um jeito”, respondeu Abreu, que ainda pediu a Cachoeira que
arrumasse um rádio para Policarpo Júnior. O contraventor negou. Ouça
abaixo:
A matéria na Veja
O assunto não é explicitado em nenhuma
outra gravação entre o editor da Veja em Brasília e os homens de Cachoeira. As
gravações às quais Carta Maior teve acesso registram 29 conversas diretas entre
Policarpo Júnior e membros da quadrilha de Cachoeira investigados pela PF.
Entre as matérias da Veja no período, nenhuma abordou a “revolução
educacional” em Goiás. Entretanto, em dezembro de 2011, a matéria de capa da
edição 2248 da revista diz “A arma secreta da China: a educação de qualidade e
baixo custo para milhões é o verdadeiro segredo dos chineses em sua corrida para
a liderança mundial”.
Em 12 páginas, o jornalista Gustavo Ioschpe relata
o modelo educacional chinês, incluindo as construções. “Os prédios são parecidos
com os de muitas escolas brasileiras, ainda que um pouco mais verticalizados.
São escolas grandes, a maioria com mais de mil alunos (…) em algumas, cada série
ocupava um andar. Essa organização do espaço é relevante. Pois em cada andar há
uma sala de professores…”
Em abril deste ano, a Secretaria de Estado da
Educação de Goiás emitiu nota alegando que “nunca discutiu projetos de
construções de escolas ‘inspirados’ em modelos de outros países” e negou
“informações sobre construção de unidades de ensino que seriam, posteriormente,
alugadas”. Thiago Peixoto segue no cargo de secretário estadual de Educação do
governo de Marconi Perillo (PSDB
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