sábado, 20 de setembro de 2014

A Dilma o que é de Dilma


Dilma cresce devagar e sempre a cada levantamento, enquanto a disputa entre Marina e Aécio pelo 2o. lugar pode repetir conflito entre Lula e Brizola em 1989

Se as eleições fossem hoje, e o país vivesse pelas regras eleitorais anteriores a 1989, quando não havia o sistema de dois turnos, Dilma Rousseff estaria reeleita — na matemática.

Se o último DataFolha já registrou o crescimento de Dilma, em dois levantamentos internos, recém-saídos do forno, disponíveis na noite de sexta-feira, ela se encontrava na casa dos 38 e 39% das intenções de voto, apresentando uma tendência de alta, sem grandes saltos nem movimentos especulares, mas de notável regularidade.

A disputa quente, ao menos neste momento, é pelo segundo lugar. Enquanto Dilma cresce inclusive onde parecia parada, como São Paulo, Marina encontra-se em queda no país inteiro e sua diferença em relação a Aécio Neves diminui a cada levantamento.

Conforme pesquisas de tipo tracking — um levantamento baseada na média de intenções de voto de três dias consecutivos, considerada a mais apropriada para apurar as tendencias da disputa — a distancia de Marina para Dilma se ampliou.

Chegou a dez pontos. Em outro levantamento do mesmo tipo, a distância é de quinze pontos. Mesmo olhando esses números com a reserva necessária a todo levantamento dessa natureza, pois ele não obedece a nenhum controle além das próprias campanhas e seus patrocinadores, eles parecem confirmar que a boca do jacaré entre as duas concorrentes principais está abrindo.

Já a diferença de Aécio para Marina diminuiu. Ficou em dez pontos, num dos levantamentos. Em apenas seis, em outro. Embora Marina ainda seja vista com a adversária provável no segundo turno, cresceu a visão, na campanha do PT, de que a chance de Aécio Neves ir para a segunda rodada deixou de ser um exercício imaginário e se transformou numa hipótese real.

Quando faltam quinze dias para a votação, a previsão é de um primeiro turno literalmente imprevisível, que pode lembrar 1989, quando Lula e Leonel Brizola chegaram emparelhados em segundo lugar e o candidato do PT venceu por 400 000 votos — diferença tão apertada que, fora o DataFolha, a maioria dos institutos nem arriscou uma previsão nas pesquisas de boca-de-urna, feitas após a votação.

Mesmo real, o crescimento de Aécio tem um limite. Sua agressividade de adversário original do PT pode contribuir para retirar eleitores conservadores de Marina. Ao mesmo tempo, impede que tenha acesso a eleitores da candidata do PSB que se situam num universo progressista, descontentes com o governo mas em medida ainda maior com a memória do PSDB.

A consolidação de Dilma numa dianteira respeitável envolveu duas situações particulares. O PT teve de mostrar agilidade para encarar uma mudança fora de qualquer cálculo — a troca de Eduardo Campos por Marina Silva, a apenas 45 dias antes da votação —, que deu origem a outra campanha, com outro adversário, outro programa, outro debate. Aquilo que fora pensado e preparado como um clássico confronto entre PT e PSDB transformou-se em outra disputa.

De uma hora para outra Dilma foi levada a enfrentar uma situação estranha ao mundo de pancadaria aberta que enfrentou desde a posse no Planalto, em 2011: uma candidata ex-PT, que podia valer-se de seu passado no partido e no ministério para receber apoio de petistas desgastados após 12 anos de governo, e de suas alianças do presente para conseguir apoio junto a quem fazia oposição desde sempre. Tudo envolvido num ambiente de religiosidade e mistério.

A crítica às propostas conservadoras de Marina, a começar pela independência do Banco Central, serviu para tirar o centro de gravidade da candidata do PSB — uma permanente ambiguidade — e definir um terreno onde a candidatura Dilma tem sido capaz de caminhar com segurança.

Outro aspecto envolve a avaliação do governo, o teste definitivo de qualquer governante que tenta uma reeleição. Mais do que falar sobre o futuro, uma candidata se ancora no passado de governo — para crescer ou afundar. Em qualquer parte do mundo, o eleitor prefere fatos a promessas, não é mesmo?

Os números melhoram regularmente, mostrando que Dilma não é uma candidatura no vazio nem caminha contra a corrente principal de eleitores. Seu crescimento ocorre aonde se esperava, junto a camada de brasileiros que residem nos patamares mais baixos de renda, junto aos quais o PT sempre obteve apoio.

Sem querer imaginar que tudo se passou às mil maravilhas e nada merece crítica, está provado que ela é uma presidente que tem o que mostrar, para decepção de quem imaginava que iria fazer oposição a um governo desastrado, e mesmo para aqueles que falavam em tom condescendente do copo meio cheio, meio vazio. Os debates e entrevistas têm mostrado que é difícil condenar o governo de voz baixa, olho no olho, com argumentos racionais. Essa é a grande mudança produzida na campanha.

A fase atual da campanha mostra o reencontro de Dilma e seu governo. A disputa política e a propaganda na TV permitiram fazer o contraponto ao jornalismo-catastrofe praticado pelos grandes meios de comunicação.

Os números mostram que, sem avanços espetaculares, mas num movimento constante, a cada dia cresce a parcela do eleitorado que gosta do que vê no governo e reconhece a continuidade de Lula. Este é o grande trunfo da presidente.

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