Ele |
Um dos efeitos colaterais de se escolher presidente e governador no
mesmo ano é que o pleito presidencial concentra sobremaneira as atenções
(em especial a corrida deste ano, por todos os motivos que você já
conhece).
Resultado marginal disso, por exemplo, é o Ibope do debate na Globo
entre os candidatos ao governo de São Paulo: 14 pontos. O último debate
antes das urnas.
Geraldo Alckmin, na dianteira folgada nas pesquisas, foi alvo de
críticas de todos os seus adversários. Principalmente por causa da crise
hídrica no estado que comanda. A certa altura, ele foi taxativo: “Não
vai faltar água em São Paulo”.
É mentira, mas e daí? Já está faltando água em São Paulo em diversos
bairros, em determinadas horas do dia. Não apenas na periferia (faltou
nos Jardins na semana passada). De acordo com o secretário estadual de
Recursos Hídricos, Mauro Arce, o Sistema Cantareira conseguirá abastecer
a população até novembro. Novembro.
O timing perfeito.
Qual deverá ser a solução óbvia para a questão, de acordo com todos os
especialistas? O racionamento. Por que não há uma campanha nesse
sentido, evitando que a situação piore? Por causa das eleições. Ponto.
Em nome do segundo mandato, Alckmin postergará algo que já deveria ter
feito. Não se trata de catastrofismo. O diretor-presidente da Agência
Nacional de Águas, ANA, Vicente Andreu, afirmou que as decisões sobre o
Cantareira têm o ritmo “contaminado” por causa das eleições. “Há
problema político”, considera.
A Sabesp simplesmente desapareceu. Num encontro com Arce, Andreu falou
sobre a ausência de transparência da estatal em informar seus planos.
“O impacto sobre a vida das pessoas e o de São Paulo sobre o resto do
país são muito grandes para serem tratados sem que essas informações
sejam as mais honestas possíveis”, declarou.
Alckmin, provavelmente, determinará uma grande campanha de
“conscientização”, ou o que quer que seja, assim que for reeleito, tudo
indica que no primeiro turno. Aí ganha, definitivamente, licença para
matar.
É um caso clássico do que os americanos chamam de “get away with
murder” (mal traduzindo, escapar de tudo numa boa). O velho e bom picolé
de chuchu está esfregando na cara de seu eleitor que cuidará de um
problema grave quando isso não lhe trouxer qualquer risco eleitoral.
Essa é a magia do choque de gestão de Geraldinho. Mais uma vez, parabéns a todos os envolvidos.
Kiko Nogueira
No DCM
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