terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Eliseu Padilha e o “mula” do Temer

Por Altamiro Borges

O cerco ao usurpador Michel Temer vai se fechando. Aparentemente, ele ainda demonstra força – aprovando a toque de caixa seus projetos ultraliberais no Congresso Nacional, bancando o nome de Alexandre de Moraes para a função de guarda-costas no Supremo Tribunal Federal e escolhendo um aliado de Eduardo Cunha para o Ministério da Justiça. Mas no subterrâneo do poder a situação é bem mais complicada, com o agravamento da crise econômica, as primeiras fissuras no bloco golpista da burguesia e as brigas sangrentas no covil. Se aparência fosse igual a essência, não seria necessária a ciência – dizia Karl Marx. 

Nesta semana, mais uma bomba estourou no colo do presidente ilegítimo e impopular – o que pode até acelerar o fim do seu governo. Um dos seus amigos mais íntimos, o empresário José Yunes, resolveu abrir a bico e detonou o ainda ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha – que pediu afastamento para tratar de um “problema de saúde”. A jornalista Mônica Bergamo publicou na Folha algumas das confidências do operador de Michel Temer, que diz que foi usado como “mula” para carregar um “pacote” a pedido de Eliseu Padilha. O pacote conteria milhões de reais de grana suja. As revelações são devastadoras:

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Amigo de Temer, Yunes diz que recebeu 'pacote' a pedido de Padilha

Por Mônica Bergamo - 23/02/2017

O empresário José Yunes está decidido a esclarecer um episódio em que se envolveu em 2014, e que veio à tona na delação premiada de Claudio Melo Filho, um dos ex-executivos da Odebrecht que fez acordo de colaboração com a Justiça: o de que ele teria recebido dinheiro vivo em seu escritório, em São Paulo.

Yunes, que é um dos melhores amigos do presidente Michel Temer e foi seu assessor especial até o ano passado, diz à Folha que pode ter sido um mero "mula" e que nunca teve nada a ver nem com a origem nem com o destino de recursos para campanhas eleitorais.

Ele foi espontaneamente prestar depoimento à Procuradoria-Geral da República sobre o assunto na semana passada.

Em depoimentos de delação, cujo teor foi revelado em dezembro passado, Cláudio Melo Filho disse ter participado de um jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, Temer e o hoje chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Na ocasião, contou Melo Filho, Temer pediu apoio financeiro para o PMDB na campanha eleitoral de 2014. O empreiteiro afirmou, ainda segundo a delação, que pagaria R$ 10 milhões, sendo que R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. Melo Filho diz que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de advocacia de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.

Agora, Yunes conta que, naquele ano, em meio à campanha eleitoral, recebeu um telefonema de Padilha, afirmando que precisaria de um favor.

O hoje ministro queria que Yunes recebesse em seu escritório alguns "documentos", que depois seriam retirados de lá por um emissário.

O empresário concordou.

Na hora combinada, para a sua surpresa, Lucio Funaro, tido como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-SP), apareceu no escritório, que fica na região da avenida Faria Lima. "Ele chegou trazendo um pacote", diz Yunes.

Yunes diz que até hoje não sabe o conteúdo do pacote e que não se preocupou na época em esclarecer o que havia dentro dele.

O empresário conta ainda que mal conversou com Funaro.

O episódio tem incomodado Yunes, que deixou a assessoria especial de Temer depois que o caso foi divulgado, ainda em 2016.

"Pedi demissão para defender a minha inocência nesse episódio e para que tudo fique muito bem esclarecido, não querendo me prevalecer nem do cargo nem da proximidade com o presidente", afirmou ele à Folha.

Ao pedir demissão, Yunes disse em carta que seu nome tinha sido jogado "no lamaçal de uma abjeta delação" premiada e criticou a "fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie".

Na ocasião, também citou a amizade de "décadas" com Temer.

Em dezembro, o Planalto disse que as doações da Odebrecht ao PMDB foram declaradas à Justiça Eleitoral. "Não houve caixa dois, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente."

Procurado por meio de sua assessoria, Padilha não respondeu.

CUNHA

O episódio já havia sido mencionado também por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso. Ao chamar Temer como testemunha de defesa em ação da Lava Jato, Cunha perguntou, em documento: "O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?"

O ex-deputado questionou ainda se essas contribuições foram realizadas de "de forma oficial ou não declarada". O juiz Sergio Moro, responsável pelo caso, indeferiu os questionamentos.

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É certo que o “justiceiro” Sergio Moro, chefe da midiática Lava-Jato, tem se comportado como advogado de Michel Temer – como ele mesmo reconheceu recentemente ao censurar o presidiário Eduardo Cunha. É certo também que a mídia venal, que apoiou o “golpe dos corruptos” e hoje é recompensada com o aumento vertiginoso das verbas de publicidade, tem feito um baita esforço para blindar a gangue que assaltou o poder. Mas a vida não segue automaticamente o script dos golpistas e dos seus cúmplices. O “mula” José Yunes, tentando salvar a sua pele, pode ajudar a defecar mais um ministro, o mafioso Eliseu Padilha – já batizado do “Eliseu Quadrilha”. De quebra, pode fragilizar ainda mais o aparente forte covil golpista. A conferir!

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