A nova era da violência
Autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por vir são os
whiteblocs. Devem ser combatidos com a mesma virulência com que
combatem a democracia
Professores universitários do Rio de Janeiro, de São Paulo e outras
universidades falam do governo dos trabalhadores como se fosse o governo
do ditador Médici, embora durante aquele período não abrissem o bico.
Vetustos blogueiros, artistas sagrados como marqueteiros crônicos,
jovens colunistas em busca da fama que o talento não assegura, políticos
periféricos ao circuito essencial da democracia, teóricos sem obra
conhecida e de gogó mafioso, estes são os mentores da violência pela
violência, anárquica, mas não acéfala. Quem abençoa um suposto legítimo
ódio visceral contra as instituições, expresso em lamentável, mas
compreensível linguagem da violência, segundo estimam, busca seduzir
literariamente os desavisados: a violência é a negação radical da
linguagem. Mentores whiteblocks, igualmente infames.
A era da violência produziu a proliferação dos algozes e a
democratização das vítimas. Antes, a era das máquinas trouxe a direta
confrontação entre o capital e o trabalho, as manifestações de protesto
dirigiam-se claramente aos capitalistas em demanda por segurança no
serviço, salário, férias, descanso remunerado, regulamentação do
trabalho de mulheres e crianças. Reclamos precisos e realizáveis.
Politicamente exigiam o fim do voto censitário, o direito de voto das
mulheres, o direito de organização, expressão e manifestação. Exigiam,
em suma, inclusão econômica, social e política.
Os mentores dos algozes possuíam nome e residência conhecida. Os
executores eram igualmente identificáveis: as forças da repressão, fonte
da violência acobertada pela legislação que tornava ilegais as
associações sindicais, as passeatas, os boicotes e as greves. As vítimas
estavam à vista de todos: operários, operárias, desempregados, além de
cidadãos, escritores e jornalistas solidários com a causa dos
miseráveis.
Não há por que falsificar a história e negar que, ao longo do tempo,
sindicatos mais fortes e oligarquizados também exerceram repressão sobre
organizações rivais, bem como convocatórias grevistas impostas pela
coação de operários sobre seus iguais. A era das máquinas não distribuía
a violência igualitariamente, mas algozes e vítimas possuíam identidade
social clara.
A atual era da violência, patrocinada por ideólogos, jornalistas,
blogueiros, ativistas (nova profissão a necessitar de emprego
permanente), professores, artistas, em acréscimo aos descontentes
hepáticos, testemunha a agregação de múltiplos grupelhos, partidos sem
futuro e fascistas genéticos aos tradicionais estimuladores da
violência, os proprietários do capital. São algozes anônimos,
encapuzados, escondidos nos codinomes das redes sociais, na covardia das
palavras de ordem transmitidas a meia boca, no farisaísmo das negaças
melífluas.
Os whiteblocs disfarçam o salário e a segurança pessoal nas pregações ao
amparo do direito de expressão e de organização. Intimidam com a
difamação de que os críticos desejam a criminalização dos movimentos
sociais. Para que não haja dúvida: sou a favor da criminalização e da
repressão às manifestações criminosas, a saber, as que agridam pessoas,
depredem propriedade, especialmente públicas, e convoquem a violência
para a desmoralização das instituições democráticas representativas.
As vítimas foram, por assim dizer, democratizadas. Lojas são saqueadas,
vidros de bancos estilhaçados, passantes, operários, classes médias, e
mesmo empregados e subempregados que a má sorte disponha no caminho da
turba são ameaçados e agredidos. A benevolência do respeito à voz das
ruas é conivência. Essas ruas não falam, explodem rojões. Não há diálogo
possível de qualquer secretaria para os movimentos sociais com tais
agrupamentos porque estes não o desejam. E, quando um quer, dois brigam.
A era da violência é obscura. Não me convencem as teorias do trabalho
precário porque não cobrem todo o fenômeno, também é pobre a hipótese de
uma classe ascendente economicamente com aspirações em espiral (já
sustentei esta hipótese), e, sobretudo, não dou um centavo pela teoria
de que almejam inclusão social. Eles dizem e repetem à exaustão que não
reclamam por inclusão alguma, denunciada por seus professores como
rendição à cooptação corrupta.
Os autores intelectuais dos assassinatos já acontecidos e por acontecer
são os whiteblocs. Têm que ser combatidos com a mesma virulência com que
combatem a democracia. Não podem levar no grito.
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