terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Temer e a pouca vergonha de nossos tempos, por Eugênio Aragão


Jornal GGN - SEG, 27/02/2017 - 14:37  ATUALIZADO EM 27/02/2017 - 19:35


"Delação de Yunes apontam que Temer preparou traição antes das eleições de 2014"



Temer e a pouca vergonha de nossos tempos


Por Eugênio Aragão*


As frações de informação tornadas públicas na entrevista do advogado José Yunes, insistentemente apresentado pelos esbulhadores do Palácio do Planalto como desconhecido de Michel Temer, embrulham o estômago, causam ânsia de vômito em qualquer pessoa normal, medianamente decente.

Conclui-se que Temer e sua cambada prepararam a traição à Presidenta Dilma Vana Rousseff bem antes das eleições de 2014. A aliança entre o hoje sedizente presidente e o correntista suíço Eduardo Cunha existia já em maio daquele ano, quando o primeiro recebeu no Palácio do Jaburu, na companhia cúmplice de Eliseu Padilha, o Sr. Marcelo Odebrecht, para solicitar-lhe a módica quantia de 10 milhões de reais.Não para financiar as eleições presidenciais, mas, ao menos em parte, para garantir o voto de 140 parlamentares, que dariam a Eduardo Cunha a presidência da Câmara dos Deputados, passo imprescindível na rota da conspiração para derrubar Dilma.

Temer armou cedo o golpe que lhe daria o que nunca obteria em uma disputa democrática: o mandato de Presidente da República. Definitivamente, esse sujeitinho não foi feito para a democracia. É um gnomo feio, incapaz de encantar multidões, sem ideias, sem concepções, sem voto, mas com elevada dose de inveja e vaidade. Para tomar a si o que não é seu, age à sorrelfa, à imagem e semelhança de Smeágol, o destroncado monstrengo do épico "O Senhor dos Anéis".


Muito ainda saberemos sobre o mais vergonhoso episódio da história republicana brasileira, protagonizado por jagunços da política, gente sem caráter e vergonha na cara, que só conseguiu seu intento porque a sociedade estava debilitada, polarizada no ódio plantado pela mídia comercial e reverberado com afinco nas redes sociais, com a inestimável mãozinha de carreiras da elite do serviço público.


O resultado está aí: o fim de um projeto nacional e soberano de desenvolvimento sustentável e inclusivo. A mais profunda crise econômica que o país já experimentou. A desconstrução do pouco de solidariedade que nosso Estado já prestou aos mais necessitados. A troca do interesse da maioria pela mesquinhez gananciosa e ambiciosa da minoria que, "em nome do PIB" ou "do mercado", se deu o direito de rasgar os votos de 54 milhões de brasileiras e brasileiros. Rasgaram-nos pela fraude e pelo corrompimento das instituições, com o único escopo de liquidar os ativos nacionais e fazer dinheiro rápido e farto, como na privatização de FHC. Dinheiro que o cidadão nunca verá.


É assim que se despedaça e trucida a democracia: dando o poder a quem perdeu as eleições, garantindo aos derrotados uma fatia gigantesca do governo usurpado e até a nomeação de um dos seus para o STF, para assegurar vida mansa a quem tem dívidas com a justiça. A piscadela de Alexandre de Moraes a Edison Lobão, na CCJ, diz tudo.

Assistiremos a tudo isso sem nenhum sentimento de pudor?

A essa altura dos acontecimentos, o STF e a PGR só podem insistir na tese da "regularidade formal" do impedimento da Presidenta Dilma Roussef com a descarada hipocrisia definida por Voltaire como "cortesia dos covardes".

Caiu o véu da mentira. Não há mais como negar: o golpe foi comprado e a compra negociada cedinho, ainda no primeiro mandato de Dilma. O golpe foi dado com uma facada nas costas, desferida por quem deveria portar-se com discreta lealdade diante da companheira de chapa. O Judas revelado está.

E os guardiões da Constituição? Lavarão as mãos como Pilatos - ou tomarão vergonha na cara?

*Eugênio Aragão é sub-procurador-geral da República e foi ministro no governo de Dilma antes do golpe.

Eliseu Padilha e o “mula” do Temer

Por Altamiro Borges

O cerco ao usurpador Michel Temer vai se fechando. Aparentemente, ele ainda demonstra força – aprovando a toque de caixa seus projetos ultraliberais no Congresso Nacional, bancando o nome de Alexandre de Moraes para a função de guarda-costas no Supremo Tribunal Federal e escolhendo um aliado de Eduardo Cunha para o Ministério da Justiça. Mas no subterrâneo do poder a situação é bem mais complicada, com o agravamento da crise econômica, as primeiras fissuras no bloco golpista da burguesia e as brigas sangrentas no covil. Se aparência fosse igual a essência, não seria necessária a ciência – dizia Karl Marx. 

Nesta semana, mais uma bomba estourou no colo do presidente ilegítimo e impopular – o que pode até acelerar o fim do seu governo. Um dos seus amigos mais íntimos, o empresário José Yunes, resolveu abrir a bico e detonou o ainda ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha – que pediu afastamento para tratar de um “problema de saúde”. A jornalista Mônica Bergamo publicou na Folha algumas das confidências do operador de Michel Temer, que diz que foi usado como “mula” para carregar um “pacote” a pedido de Eliseu Padilha. O pacote conteria milhões de reais de grana suja. As revelações são devastadoras:

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Amigo de Temer, Yunes diz que recebeu 'pacote' a pedido de Padilha

Por Mônica Bergamo - 23/02/2017

O empresário José Yunes está decidido a esclarecer um episódio em que se envolveu em 2014, e que veio à tona na delação premiada de Claudio Melo Filho, um dos ex-executivos da Odebrecht que fez acordo de colaboração com a Justiça: o de que ele teria recebido dinheiro vivo em seu escritório, em São Paulo.

Yunes, que é um dos melhores amigos do presidente Michel Temer e foi seu assessor especial até o ano passado, diz à Folha que pode ter sido um mero "mula" e que nunca teve nada a ver nem com a origem nem com o destino de recursos para campanhas eleitorais.

Ele foi espontaneamente prestar depoimento à Procuradoria-Geral da República sobre o assunto na semana passada.

Em depoimentos de delação, cujo teor foi revelado em dezembro passado, Cláudio Melo Filho disse ter participado de um jantar no Palácio do Jaburu com Marcelo Odebrecht, Temer e o hoje chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.

Na ocasião, contou Melo Filho, Temer pediu apoio financeiro para o PMDB na campanha eleitoral de 2014. O empreiteiro afirmou, ainda segundo a delação, que pagaria R$ 10 milhões, sendo que R$ 4 milhões ficariam sob responsabilidade de Padilha. Melo Filho diz que um dos pagamentos foi feito na sede do escritório de advocacia de Yunes, no Jardim Europa, em São Paulo.

Agora, Yunes conta que, naquele ano, em meio à campanha eleitoral, recebeu um telefonema de Padilha, afirmando que precisaria de um favor.

O hoje ministro queria que Yunes recebesse em seu escritório alguns "documentos", que depois seriam retirados de lá por um emissário.

O empresário concordou.

Na hora combinada, para a sua surpresa, Lucio Funaro, tido como operador do ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-SP), apareceu no escritório, que fica na região da avenida Faria Lima. "Ele chegou trazendo um pacote", diz Yunes.

Yunes diz que até hoje não sabe o conteúdo do pacote e que não se preocupou na época em esclarecer o que havia dentro dele.

O empresário conta ainda que mal conversou com Funaro.

O episódio tem incomodado Yunes, que deixou a assessoria especial de Temer depois que o caso foi divulgado, ainda em 2016.

"Pedi demissão para defender a minha inocência nesse episódio e para que tudo fique muito bem esclarecido, não querendo me prevalecer nem do cargo nem da proximidade com o presidente", afirmou ele à Folha.

Ao pedir demissão, Yunes disse em carta que seu nome tinha sido jogado "no lamaçal de uma abjeta delação" premiada e criticou a "fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie".

Na ocasião, também citou a amizade de "décadas" com Temer.

Em dezembro, o Planalto disse que as doações da Odebrecht ao PMDB foram declaradas à Justiça Eleitoral. "Não houve caixa dois, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente."

Procurado por meio de sua assessoria, Padilha não respondeu.

CUNHA

O episódio já havia sido mencionado também por Eduardo Cunha (PMDB-RJ), que está preso. Ao chamar Temer como testemunha de defesa em ação da Lava Jato, Cunha perguntou, em documento: "O sr. José Yunes recebeu alguma contribuição de campanha para alguma eleição de Vossa Excelência ou do PMDB?"

O ex-deputado questionou ainda se essas contribuições foram realizadas de "de forma oficial ou não declarada". O juiz Sergio Moro, responsável pelo caso, indeferiu os questionamentos.

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É certo que o “justiceiro” Sergio Moro, chefe da midiática Lava-Jato, tem se comportado como advogado de Michel Temer – como ele mesmo reconheceu recentemente ao censurar o presidiário Eduardo Cunha. É certo também que a mídia venal, que apoiou o “golpe dos corruptos” e hoje é recompensada com o aumento vertiginoso das verbas de publicidade, tem feito um baita esforço para blindar a gangue que assaltou o poder. Mas a vida não segue automaticamente o script dos golpistas e dos seus cúmplices. O “mula” José Yunes, tentando salvar a sua pele, pode ajudar a defecar mais um ministro, o mafioso Eliseu Padilha – já batizado do “Eliseu Quadrilha”. De quebra, pode fragilizar ainda mais o aparente forte covil golpista. A conferir!

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O símbolo do governo Temer é o aparelho excretor da musa do impeachment


Neste Carnaval da anticonsagração de Temer, me peguei pensando em qual é a cara, o rosto do governo. O símbolo, enfim.

Os fatos se incumbiram de me ajudar.

A cara do governo é o aparelho excretor da musa do impeachment.

Para quem gosta de palavras mais diretas, é o c… da musa, tal como exposto em rede nacional: deprimente, vulgar, indecente. Igualzinho à mídia que colocou Temer no poder com uma campanha criminosa contra Dilma com seu jornalismo de guerra.

É até engraçado ver os comentaristas pró-patrões desembarcando dele. Josias de Souza, por exemplo, disse que Temer se meteu em más companhias, e por isso se autoimolou.

Mas um momento: ele sempre andou com as mesmas pessoas, de Jucá a Eduardo Cunha. Não apareceu nenhum novo nome nas relações de Temer. Ele pode e deve ser acusado de muitas coisas, mas não de surpreender: a turma de Temer foi sempre a mesma. Aos 75 anos, ele a vida toda se pautou na política por uma mediocridade constante, longeva e altamente suspeita.

Sabíamos todos, os golpistas em primeiro lugar, que o governo Temer seria ruim. O que as pessoas não esperavam é que fosse tão ruim.

FHC chamou-o de pinguela, uma ponte precária, tosca. O problema é que essa ponte levou para o aparelho excretor da musa. É urgente que este governo seja agora excretado.

Temer não reúne mais as mínimas condições de chegar a 2018. Na teoria, é pouco tempo: já estamos em 2017. Mas na prática é uma eternidade.

É imperioso convocar eleições diretas. Para reconduzir o país a uma situação de próspera concórdia, só alguém com a legitimidade do voto. Milhões e milhões deles.

Não podemos — nós, o Brasil — ficar mais tempo na condição de c… da musa.

Urnas já.

Paulo Nogueira
No DCM

segunda-feira, 27 de fevereiro de 2017

Golpista, dissimulado, entreguista, ególatra: isto é Serra. Por Leandro Fortes

Bye
Bye
José Serra não está deprimido: ele é a própria encarnação da depressão.
Golpista, dissimulado, entreguista, ególatra, a existência física e política de Serra é depressiva, inclusive para seus correligionários, desde sempre.
É óbvio, até para os colunistas que lhe prestam vassalagem, que Serra está abandonando o barco do governo golpista porque lhe negaram o protagonismo necessário – única razão de viver de gente como ele.
Era um ministro inútil dentro de um governo lamentável, pego em flagrante em um esquema de propinas depositadas na Suíça, enquanto bradava, com essa hipocrisia tão peculiar aos tucanos, contra a corrupção alheia.
Talvez pense que, abandonando o barco como uma ratazana esperta, tudo isso passe batido pela História.
Não passará.
Serra tornou-se conhecido quando, presidente da UNE, em 1964, fugiu do País antes mesmo de um único disparo ter sido feito pelos golpistas de então. Foi para o Chile e, curiosamente, partiu então para os Estados Unidos, de onde voltou mentindo que era economista.
De lá para cá, virou um devotado súdito do Tio Sam, a quem prometeu – e cumpriu – entregar as reservas de petróleo do Brasil.
Agora, levará sua depressão atávica de volta ao Senado Federal, atualmente, um ambiente mais que perfeito para sua recorrente prostração moral.
Será mais um golpista numa bancada de traidores da pátria que, espero, sejam julgados ainda durante esse apodrecimento em vida transmitido, dia e noite, em tempo real.
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Lula vem aí – e isso é muito bom

Por Paulo Moreira Leite, em seu blog:

No Brasil que transformou o Carnaval de 2017 num protesto inesquecível contra Michel Temer, o esforço para construir a candidatura presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva ganhará novo fôlego após a Quarta-Feira de Cinzas.

Estimulado por personalidades ligadas à resistência democrática, a começar por Chico Buarque e Leonardo Boff, em conversas reservadas ocorridas nos últimos dias, Lula tem deixado claro que está inteiramente convencido de que deve assumir de uma vez por todas a candidatura a presidente da República na sucessão de Michel Temer.

Quando os interlocutores perguntam se estaria disposto a voltar à presidência do Partido dos Trabalhadores, que em 2017 enfrenta a mais grave crise em quase 40 anos de história, a resposta de Lula tem sido um não categórico. Ele deixa claro que compreende a necessidade de ocupar cargos na direção do partido e participar dos debates essenciais que irão ocorrer antes e depois do próximo Congresso, a realizar-se em junho.

Mas, com a autoridade de quem lidera todas as pesquisas eleitorais, em função do reconhecimento popular pelas políticas econômicas favoráveis ao crescimento e distribuição de renda associadas a seu governo, o compromisso é concentrar-se na candidatura presidencial e discutir propostas que possam ajudar o Brasil a vencer a pavorosa crise - econômica, social, política - em que se encontra. A ideia central, aqui, é debater com urgência propostas de crescimento, visto como eixo que deve centralizar as preocupações com os destinos - próximos e remotos - dos brasileiros.

Dias atrás, a economista Laura Tavares levou a Lula dados sobre a Previdência que confirmam uma verdade fundamental no principal debate político dos próximos meses, tanto no Congresso como nos sindicatos e na casa de cada família de trabalhadores. Os números mostram que a saúde financeira de nosso sistema público de aposentadorias não envolve uma discussão no vazio de especialistas e consultores alinhados, mas alimenta-se de um componente essencial - o comportamento da economia. 


Assim, nos anos de crescimento e ampliação do emprego com carteira assinada, a Previdência ganhou uma contabilidade saudável e até produziu receitas superiores a seus gastos. Já nos períodos de recessão, perda de empregos e isenções de contribuições, tragédia acentuada com o desemprego recorde após o golpe, ocorreu aquilo que até uma criança poderia imaginar - os números se tornaram negativos. A ideia é deixar claro que essa realidade não constitui nenhuma surpresa mas permite reafirmar uma noção que Lula estabeleceu durante em seus oito anos de mandato: um país como o Brasil não tem alternativa além de crescer, crescer ou crescer.

No ambiente de dúvidas imensas que alimentam a conjuntura política de 2017, que envolvem inclusive a capacidade de sobrevivência de Michel Temer até 2018, o debate sobre o lançamento da candidatura Lula se apoia numa visão sobre o golpe parlamentar de agosto de 2016, partilhada por dirigentes e quadros experimentados do PT e dos movimentos sociais que têm participado de muitas conversas.

A análise é que a partir de maio de 2016, quando a Câmara aprovou o afastamento de Dilma, entrou em movimento um golpe que não se reduz a um lance único, mas deve ser compreendido como uma sequencia de operações destinadas a construir um estado de exceção. Desse ponto de vista, toda avaliação sobre o papel político de Lula na conjuntura só pode ser compreendido em acordo com a visão das partes interessadas.

Para os aliados de Temer e demais beneficiários do golpe, não apenas no universo político, mas também na República de Curitiba, Lula é o principal entrave para a consolidação do novo estado de coisas. Numa comparação que este blogueiro já explicitou em artigos anteriores neste espaço, em 2017 Lula tornou-se um personagem que, a exemplo de Juscelino Kubitschek em 1964, encontra-se no ponto de encruzilhada do momento político.

Caso Lula seja removido de cena à força - como ocorreu com JK, cassado dois meses depois da queda de Goulart - a evolução política irá avançar em direção ao enfraquecimento ainda maior da resistência democrática ao mais radical projeto conservador em curso no país desde o fim da República Velha, em 1930. Caso tenha seus direitos políticos preservados, e, como candidato, possa fazer o debate sobre os rumos do país, expressando uma visão legítima, apoiada por uma parcela respeitável da população - a mesma que assegurou quatro vitórias consecutivas em eleições presidenciais, feito raro em qualquer democracia moderna - a evolução será em outra direção.

Não é preciso confundir as coisas. O que se trata, como prioridade, é impedir um veto a sua candidatura - no estilo que, em 1955, os adversários quiseram impor a JK, alvo de sucessivas maquinações antes, durante e depois de uma vitória clara nas urnas. Caso uma eventual candidatura de Lula não seja vitoriosa nas urnas, hipótese prevista em toda disputa eleitoral digna desse nome, a preservação de seus direitos políticos representa a continuidade da democracia nascida com a carta de 1988, que criou o mais amplo regime de liberdades desde a Independência, que assegura o respeito absoluto a liberdade de expressão e de opinião.

Essa convicção - de que um veto a Lula é absolutamente inaceitável - contribui para o desgaste de Ciro Gomes junto a diversos interlocutores do presidente. Sem deixar de reconhecer o comportamento leal que Ciro demonstrou em vários momentos, inclusive na AP 470, eles avaliam que Ciro só conforta os adversários do campo político à esquerda quando diz que a candidatura de Lula é um "desserviço" ao pais.

Para começar, é uma postura que não o aproxima de eleitores do PT, que, obviamente não acham que a candidatura Lula faz mal ao Brasil. Outro problema é que não consegue dar ao próprio Ciro um traço essencial a toda liderança política, em particular numa situação de beira de abismo - a capacidade de colocar-se acima de projetos pessoais.

Um dado animador para a campanha de Lula reside na temperatura política interna do PT. Guardiã da memória do partido e sua principal fonte de energia nas horas difíceis da luta política, a militância tem ensaiado um movimento rumo às próprias raízes, a partir de um balanço crítico do golpe e dos erros cometidos no governo e no Congresso. Uma amostra desse novo momento tornou-se visível quando a bancada de deputados foi forçada a renunciar a uma aliança com Rodrigo Maia para a presidência da Câmara, sendo levada a apoiar uma candidatura de oposição a Temer. Não se trata de um gesto isolado, mas de uma nova melodia, que contraria a postura que se verificava em tempos recentes.

O preço cobrado por 13 anos consecutivos de governo federal, somados ao impressionante conjunto de prefeituras conquistadas e acumuladas, foi um esvaziamento do partido, que perdeu quadros e dirigentes para as funções de Estado. O PT também perdeu autoridade nas discussões políticas, em grande parte monopolizadas por quem se ocupava das funções de governo -- ou assumia funções parlamentares. O golpe contra Dilma, somado ao massacre municipal, modificou essa situação e abriu a necessidade do partido se revalorizar, tornando-se um centro real de discussão e tomada de decisão, o que só irá reforçar sua importância política. O debate sobre a nova direção, tema principal do Congresso, ganha uma importância particular em função disso.

Fim de Temer está mais próximo



A providencial cirurgia na próstata anunciada por Eliseu Padilha, 24 horas depois de ter sido denunciado pelo amigo presidencial José Yunes como destinatário de uma mala de dinheiro, confirma que o fim de Michel Temer está próximo.

Por mais que seja possível insistir na coreografia — e Brasília já viu muitos espetáculos semelhantes — o governo acabou esta manhã.

A versão de que Padilha afasta-se do governo por razões médicas não merece credibilidade. A história inteira é outra.

Antes do depoimento de José Yunes vir a público, o chefe da Casa Civil seguia em sua vida normal de ministro e grande manda-chuva do Palácio. Por exemplo. Até agora, o ministro possuía uma agenda normal às suas atividades. Tinha compromissos marcados até para a quarta-feira de cinzas, cinco dias depois da entrevista do amigo do Temer que o acusou. Um deles envolvia uma audiência com empresários e sindicalistas envolvidos no debate sobre conteúdo local nos investimentos do pré-sal. Agora, está cuidando da próstata.

Sem Padilha, a solidão política de Temer chega ao nível da calamidade.

No final de novembro, no escândalo envolvendo uma cobertura milionária em Salvador, o outro amigo, Geddel Vieira Lima, já havia deixado a Secretaria de Governo.

Juntos há muitos anos, até há pouco eles formavam um trio azeitado, os verdadeiros chefes do grupo político que assumiu o Planalto após o golpe que derrubou Dilma.

Eram os protagonistas no centro das grandes decisões, aqueles com a palavra final nos assuntos graves e fundamentais — inclusive nomear e demitir.   

Funcionavam assim desde o governo Fernando Henrique Cardoso, que deixou o Planalto em janeiro 2003, isto é, quatorze anos atrás. Em suas memórias FHC emprega a expressão "cheirando mal" para se referir a movimentos de Padilha — sempre em companhia de Temer e Geddel — para emplacar  um ministério, que, afinal, acabou conseguindo.  

Olhando para o futuro próximo, basta recordar que as delações da Odebrecht ainda não saíram do forno. Ainda podemos aguardar pela Camargo Correa, OAS, para imaginar o que aguarda a última ponta do triângulo.  

Por enquanto, basta lembrar que o próprio Yunes acertou o peito de Temer ao revelar — empregando uma estranha linguagem de traficantes de drogas — que tinha informado ao presidente que havia atuado como "mula" a serviço do chefe da Casa Civil.

Neste ambiente, a saída de Temer caminha para se tornar uma necessidade prática antes de se tornar um clamor nacional. Pode ser fruto de um ato de renúncia, voluntário e unilateral, possível a qualquer momento.

Outra hipótese é o julgamento pelo TSE. No inferno em que se transformou o governo, a cassação do mandato de Michel Temer será um favor.

Neste momento, o debate sobre a sucessão antecipada de Temer ganha corpo e velocidade.

Há uma operação vergonhosa em andamento. Depois de desrespeitar a Constituição quando isso era conveniente a seus interesses, as forças que articularam a derrubada de Dilma tentarão  esconder-se atrás da Carta de 1988 para operar um pleito indireto, num Congresso que o suíço Eduardo Cunha montou. Com isso, manterão o povo, mais uma vez, longe do direito de opinar sobre os destinos do país. Também será possível tentar algum lance de mágica para mudar o cenário atual para 2018, assim descrito na Folha de S. Paulo, edição de hoje, pelo insuspeito Reinaldo Azevedo: "as nuvens que se armam ameaçam jogar o país, mais uma vez, no colo das esquerdas. Tudo o mais constante (...), é ao encontro delas que marchamos."

Não é uma boa ideia. Só ajuda a criar tumultos desnecessários e incertezas. A solução — urgente — consiste em retomar o debate sobre a emenda que o obriga a realização de diretas-já, unica forma para o país recuperar a democracia.

Paulo Moreira Leite

A autofagia da direita que virou monstro

barraco2
Semana passada, tratei aqui do significado do “barraco” cibernético entre Reinaldo Azevedo e a ex-apresentadora da Veja, Joyce Hasselman, dizendo que “o que interessa no episódio é que desenha, para quem não entendeu ainda, que a direita caminha para a extrema direita e os tucanos ficam lamentando o monstro que eles próprios criaram”.
Hoje, na Folha, o sociólogo Celso Rocha de Barrros, na Folha, faz uma boa análise do que o episódio deprimente (para quem não viu e que se poupar do sofrimento integral, há, ao final, o “compacto” editado pela Mídia Ninja, embora retire metade das grosserias, resume o arranca-rabo)
Embora a representação seja caricata, o assunto é sério. E vai se refletir no “camisa amarela” da Paulista

Barraco expõe disputa dentro da
direita, que não se decide sobre Temer

Celso Rocha de Barros, na Folha
Como diria o comissário Gordon, não foi o debate de que precisávamos, mas talvez tenha sido o debate que merecíamos. Uma pequena guerra civil começou dentro da chamada “nova direita” brasileira: Reinaldo Azevedo, colunista da Folha, foi atacado por Joice Hasselmann, ex-“Veja”, e por Rodrigo Constantino, ex-“Veja”, por suas críticas à Lava Jato, e respondeu animadamente.
Intelectualmente, foi um daqueles jogos em que o compacto com os melhores momentos tem só o hino nacional e o apito final. Mas o barraco dos conservadores foi o canário na mina: é sinal de uma crise chegando, e de uma disputa real dentro da direita brasileira, que deve se tornar mais acirrada nos próximos meses.
A direita brasileira precisa se decidir sobre Temer; abandoná-lo é colocar em risco as reformas de mercado, apoiá-lo é colocar-se no centro do alvo da Lava Jato. Não será fácil.
Azevedo defende o governo Temer e, recentemente começou a fazer críticas à Lava Jato. Talvez o apoio e o timing das críticas não sejam completamente não relacionados. Ao contrário de Olavo de Carvalho ou Constantino, Azevedo tem trânsito na direita institucional brasileira; suas posições são mais ou menos próximas das do DEM, por exemplo, ou da direita do PSDB. Esses setores investiram pesadamente no governo Temer. E todo mundo ali vai aparecer nas delações.
Para essa turma, o ideal é que a cruzada anticorrupção pare no PT, e o discurso “Temer colocou o Brasil nos trilhos de novo” tem que colar até a eleição de 2018. Se der certo, os governistas entram com boas chances na disputa presidencial.
Os adversários de Azevedo são recém-chegados buscando maior inserção institucional. Não se importariam se a política brasileira implodisse. No cenário de implosão, Azevedo os ameaça com Lula; mas eles sonham, aberta ou secretamente, com Bolsonaro. E, sobretudo, cada um deles sonha ser Steve Bannon, o assessor de extrema-direita de Trump.
Os movimentos anti-Dilma tentam se equilibrar no meio dessa tensão. Recentemente, convocaram uma passeata a favor da Lava Jato. Mas a convocação é uma piada: em vez de tentar atrair o maior público possível para defender a operação, o Movimento Brasil Livre incluiu na pauta dos protestos a reforma da Previdência e a revogação do Estatuto do Desarmamento. Fez isso para impedir que apareça qualquer um que se disponha a gritar “Fora, Temer”. Isto é, o MBL apoia a Lava Jato desde que o seu lado continue no poder. Como diria o PT, assim até eu.
Por sua vez, Ronaldo Caiado não disfarça a pretensão de ser candidato a presidente no ano que vem. Olhando com os olhos de 2018, Caiado já se apavorou com o que viu, e pediu a renúncia de Temer. Mas é difícil que arraste consigo sua base social ou o resto da direita, ao menos enquanto Temer estiver amarrado às reformas. E quem se converter ao “Fora, Temer” tão perto de 2018 vai parecer oportunista (e o será).
A história não contada do impeachment de Dilma Rousseff é justamente sua origem na crise de liderança da direita brasileira depois da quarta derrota presidencial seguida do PSDB. Desde então, a direita brasileira foi liderada por quem gritasse mais alto. Agora a combinação de delações contra a direita e eleições presidenciais vai testar a competência política dos vencedores de 2016.

sábado, 11 de fevereiro de 2017

Globo cria força-tarefa para atacar Lula e Dilma semana que vem




Jornalista de prestígio da Globo que, por razões óbvias, não quer se identificar, entrou em contato com este blogueiro e relatou o que chama de “estratégia cruel e desonesta” que diz que será usada pela emissora para criar nova onda de desmoralização dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff. E disse, ao telefone, a seguinte frase:
— RIP (Repouse In Peace), jornalismo!
A ofensiva em questão teria sido determinada em plena redação da emissora, em voz alta, pela diretora da Globo News Eugênia Moreyra.

http://memoriaglobo.globo.com/data/files/71/67/0D/6E/7F8335102417F035180808FF/fundo-mem_ria---2.jpg
Na imagem acima, Eugênia Moreyra, diretora da Globo News
Recebi da fonte a informação de que o ministro do STF Edson Facchin, novo relator da Operação Lava Jato, vai levantar o sigilo das delações da Odebrecht na semana que vem e que a diretora da Globo News supracitada irá a Brasília na segunda-feira para receber material para divulgação.
Eugênia teria entrado na redação da emissora para falar com a produtora e passou a ela a determinação. Segundo o relato da fonte desta página, devido ao tom de voz da diretora os jornalistas que ficam no setor da redação da Globo News que fica ao lado do banheiro ouviram o que ela disse.
Leia, abaixo, o que disse a diretora da Globo News Eugênia Moreyra à produtora que irá com ela a Brasília na semana que vem. O intuito da determinação da diretora à produtora ter sido comunicada para todos no entorno ouvirem foi no sentido de que os jornalistas que serão requeridos atuem da forma como foi determinada sem fazerem questionamentos.
Confira, abaixo, transcrição textual da determinação da diretora da GNEWS:
— (…) Fachin vai liberar todos os vídeos das delações [da Odebrecht] de uma só vez. Não dará tempo de decupar [analisar e editar] as imagens… Você vai liderar uma força-tarefa em Brasília. Sua equipe vai assistir a todos os vídeos das delações. Assim que ouvirem “Lula” ou “Dilma”, coloquem no ar, na hora, ao vivo, interrompendo qualquer programa, no Plantão. Depois a gente assiste o resto. Dilma e Lula têm que ser denunciados na frente de qualquer outro delatado
Segundo a fonte, aparecerão nomes de políticos importantes de todos os partidos, incluindo PSDB. A estratégia em questão serve para que Lula, Dilma e o PT não se beneficiem do prejuízo de imagem que terão seus adversários.

Eduardo Guimarães
No Blog da Cidadania