Lei sancionada pelo governador garante uma passagem de ida e volta por dia; ONG cobra mais escolas no Alemão
Gustavo Goulart e Ruben Berta – O GLOBO
● O governador Sérgio Cabral sancionou ontem uma lei que institui a gratuidade de uma passagem de ida e volta para os moradores do Complexo do Alemão no teleférico que está sendo construído na comunidade.
Uma das estações teve a imagem ligada diretamente à retomada da favela pelo estado esta semana, ao receber um mastro com a bandeira do Brasil. Além da gratuidade, a lei abre espaço para que a operação do sistema seja realizada pela concessionária de transporte ferroviário, no caso, a SuperVia.
De acordo com a assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Transportes, não está descartada a gratuidade de mais de uma viagem para os moradores do Alemão. Também não foi definida a futura tarifa para os usuários que não residem na comunidade. A lei estabelece, porém, que quem desembarcar por trem na estação ferroviária de Bonsucesso também terá direito a um bilhete para o teleférico.
Obra deve ficar pronta até março de 2011
A assessoria de imprensa da SuperVia não quis se manifestar sobre o assunto porque “oficialmente, ainda não está definido que a empresa será a administradora do teleférico”. De acordo com a Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop), o prazo de conclusão previsto para as obras do novo sistema é o primeiro trimestre do ano que vem. A primeira viagem de testes, com técnicos embarcados, acontecerá em janeiro, mas a inauguração para a população será em março. Os trabalhos fazem parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) do Alemão, orçado em R$ 721 milhões.
O trajeto teleférico será composto por seis estações: Bonsucesso (integração com a linha férrea); Adeus; Baiana; Alemão; Itararé-Alvorada e Fazendinha. Nesses locais, ainda estão sendo construídos diversos equipamentos sociais, como biblioteca, centro de geração de renda, quadras esportivas, unidades residenciais e centro de referência da juventude.
A previsão é que o sistema transporte 30 mil pessoas diariamente, em 152 cabines com capacidade para dez passageiros cada uma. A extensão total do teleférico é de 3,4 quilômetros, um percurso que será feito em, no máximo, 19 minutos.
O Complexo do Alemão vai necessitar de pelo menos sete escolas públicas. A demanda foi discutida ontem à tarde na sede do Instituto Raízes em Movimento, uma ONG voltada para o desenvolvimento humano, social e cultural do Complexo do Alemão. Essa foi uma das prioridades listadas por membros da sociedade civil, que se
reuniram para elaborar uma agenda positiva para a região, que consideram abandonada pelo poder público há décadas e, por isso, degradada pelo seu esvaziamento econômico, pela violência e pelo descaso com meio ambiente. A ONG é ligada Comitê de Desenvolvimento Local da Serra da Misericórdia, formada por diversos membros de organizações que defende a preservação da Serra da Misericórdia, onde ficam a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão, entre outras comunidades. Entre as prioridades levantadas pelos membros das entidades estão “o reconhecimento do quanto é significativa a ocupação do estado em áreas que antes eram dominadas
por grupos ligados ao varejo de drogas.”
A agenda traz uma reflexão sobre os últimos acontecimentos na região chamando a atenção para outros problemas: “A ação de combate ao varejo de drogas tem seus méritos, no entanto, não se pode associar toda a violência que assola a cidade apenas ao território das favelas dominadas pelo tráfico. Diversas variáveis interferem nesse contexto (…): corrupção policial, tráfico de armas, narcotráfico internacional, fortalecimento dos grupos milicianos, desigualdades sociais, ausência
do Estado em grande parte da cidade, entre outras”. O documento também reclama dos casos de afrontas aos moradores por parte de agentes de segurança e pede solução: “(…) são inaceitáveis e não podem ser vistos como ‘mal menor’, certos acontecimentos aos quais estão sujeitos hoje os moradores do Conjunto de Favelas do Alemão, entre os quais destacamos a falta de energia elétrica; o fechamento das escolas; a entrada violenta por parte das forças policiais nas residências; o furto de objetos nestas residências. Esses fatos devem ser profundamente combatidos, prestando contas à sociedade”. ■
Comentários Tags: Complexo do alemão, criminalidade, favelas, governo RJ, PAC 2, Prefeitura RJ, teleférico do Alemão, Transporte, violência
Do Blog do Favre.
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