Mais uma vez recebo uma matéria de grande interesse, enviada por e-mail pelo grande escritor e advogado WANDERLEY CAIXE,do Carta O BERRO, que estou postando´, primeiro com os meus comentários,mas em seguida transcrevo na íntegra, citando as fontes:
Eis aí uma matéria que deveria ser lida e relida por todos ( tenhamos ou não filhos ) e depois repassada.
O penúltimo parágrafo: "Demite-se do ato de pensar, refletir, criticar e, sobre tudo, participar do projeto de transformar a realidade."......No meu entender a isto podemos denominar de ALIENAÇÃO, porque a maioria das pessoas por hábito e comodismo estão alienadas a não pensar, não refletir ou criticar sobre o que assistem na TV. Quem assim age não tendo internet é até admissível, mas quem tem, com todo respeito é porque tem preguiça de procurar notícias verdadeiras e muitas vezes comprovadas com documentos autênticos na própria internet, onde além de bons jornalistas brasileiros independentes com Blogs ou Sites, ainda temos os jornais estrangeiros "on line", como "El Pais", Le Monde, "Financial Times" e a revista inglesa "The Economist", muitas vezes com a matéria traduzida para o português.
Este tema foi estudado no curso de jornalismo que fiz na UFRJ. Lamentavelmente, ainda para um grande número de pessoas prevalece a premissa falsa : "DEU NA TV É VERDADE", quando na maioria das vezes o que você vê na TV está deturpado, manipulado ou plantado pelos seus diretores.
A coisa não fica só nas notícias, podendo ser citado os casos de propagandas que quando não é enganosa e indutiva. Exemplo: "BEBA COM MODERAÇÃO". Primeiro você é induzido a beber "BEBA", depois é que vem o "COM MODERAÇÃO".
Já tem bastante tempo que venho me dedicando a estudar "Comportamento de mídia" e estou cada vez mais convencido que nossa mídia, principalmente TVs que invadem nossos lares, notadamente a TV GLOBO que na disputa para sua concorrente TV RECORD elevou seus programas a um nível de baixaria intolerante e não é por outra razão que em pesquisas feitas sobre o assunto baixaria a Globo fica sempre com os 3(três) primeiros lugares com: BBB, Última novela da noite, Programa do Jô ou Zorra Total, não posso agora garantir que necessariamente nesta ordem, mesmo porque quando o BBB não está no ar entra um dos dois últimos programas em seu lugar. Lembro bem que em 4º lugar, normalmente está o "PÂNICO NA TV", que como sabemos não é da Globo.
Para concluir, nossas TVs, apesar de terem concessão estatal e o dever constitucional de cumprir uma função social, desinformam e deseducam.
Façam a leitura abaixo e se possível,
R E P A S S E M....
Saraiva
www.saraiva13.blogspot.com
saraiva3@terra.com.br
----- Original Message -----
From: Vanderley Caixe
To: cartaoberro@serverlinux.revistaoberro.com.br
Sent: Saturday, August 30, 2008 1:51 PM
Subject: [Carta O BERRO] Neoliberalismo e cultura por FREI BETTO
CARTA O BERRO. ..........repassem.
sábado, 30 de agosto de 2008
Neoliberalismo e cultura
Frei Betto *
O neoliberalismo não visa a destruir apenas as instâncias comunitárias criadas pela modernidade, como família, sindicato, movimentos sociais e Estado democrático. Seu projeto de atomização da sociedade reduz a pessoa à condição de indivíduo desconectado da conjuntura sócio-política-econômica na qual se insere, e o considera como mero consumidor. Estende-se, portanto, também à esfera cultural.
Um dos avanços da modernidade foi, com o advento da democracia, reconhecer a pessoa como sujeito político. Este passou a ter, além de deveres, direitos. Dotado de consciência crítica, livrou-se da condição de servo cego e dócil às ordens de seu senhor, consciente de que autoridade não é sinônimo de verdade, nem poder de razão.
Agora, busca-se destituir a pessoa de sua condição de sujeito. O protótipo do cidadão neoliberal é o que se demite de qualquer pensamento crítico e, sobretudo, de participar de instâncias comunitárias. E para essa cultura da demissão voluntária contribui, de modo especial, a TV.
Em si, a TV é poderoso instrumento de formação e informação. Mas pode facilmente ser convertido em mecanismo de deformação e desinformação, sobretudo se atrelada à máquina publicitária que rege o mercado. Assim, a própria TV torna-se um produto a ser consumido e, portanto, centrado no aumento dos índices de audiência.
Para isso, recorre-se a todo tipo de apelação, desde que os telespectadores sintam-se hipnotizados pelas imagens. O problema é que a janela eletrônica está aberta para dentro do núcleo familiar. É ali que ela despeja a profusão de imagens e atinge indistintamente adultos e crianças, sem o menor escrúpulo quanto ao universo de valores da família.
Se a TV transmitisse cultura - tudo aquilo que aprimora a nossa consciência e o nosso espírito -, ela seria o mais poderoso veículo de educação. É verdade, não deixa de fazê-lo, mas a regra geral não são os programas de densidade cultural, e sim o mero entretenimento - distrai, diverte e, sobretudo, abre a caixa de Pandora de nossos desejos inconfessáveis. A imagem que "diz" o que não ousamos pronunciar.
Ao superar o diálogo entre pais e filhos e impor-se como interlocutora hegemônica dentro do núcleo familiar, a TV altera as referências simbólicas fundamentais do psiquismo infantil. É pelo falar que uma geração transmite a outra crenças, valores, nomes próprios, mega-relatos, genealogias, ritos, relações sociais etc. Transmite a própria aptidão humana de uso da palavra, através do qual se tece a nossa subjetividade e a nossa identidade. É essa interação, propiciada pelo diálogo oral, cara a cara, que nos educa às relações de alteridade, faz-nos reconhecer o eu diante do Outro, bem como as múltiplas conexões que ligam um ao outro, como emoções, imagens provocadas por gestos, expressões faciais carregadas de sentimentos etc.
A fala ou o diálogo demarcam referências fundamentais ao nosso equilíbrio psíquico, como a identificação do tempo (agora) e do espaço (aqui), e dos limites do meu ser em relação aos demais. Se a fala reduz-se a uma enxurrada de imagens que visam a exacerbar os sentidos, as referências simbólicas da criança correm perigo. Ela tende à dificuldade de construir seu universo simbólico, não adquirindo sensos de temporalidade e historicidade. Tudo se reduz ao "aqui e agora", à simultaneidade. A própria tecnologia que abrange distâncias em tempo real - Internet, telefone celular etc. - favorece uma sensação de ubiqüidade: "eu não estou em nenhum lugar porque estou em todos".
Muitos professores se queixam de que os alunos não são tão atentos às aulas. Claro, o sonho deles seria poder mudar o professor de canal... Muitas crianças e jovens demonstram dificuldade de se expressar porque não sabem ouvir. Possuem raciocínio confuso, no qual a lógica derrapa frequentemente no aluvião de sentimentos contraditórios. Acreditam, sobretudo, que são inventores da roda e, portanto, pouco interessa o patrimônio cultural das gerações anteriores (o financeiro sim, sem dúvida).
Assim, a cultura perde refinamento e profundidade, confina-se aos simulacros de talk-show, onde cada um opina segundo sua reação imediata, sem reconhecimento da competência do Outro. No caso da escola, este Outro é o professor, visto não só como destituído de autoridade, mas sobretudo como quem abusa de seu poder e não admite que os alunos o tratem de igual para igual... Ora, já que o professor não "escuta", então só há um meio de fazê-lo ouvir: a violência. Pois foram educados pela TV, onde não há o exercício da argumentação paciente, da construção elucidativa, do aprimoramento do senso crítico. É o perde ou ganha incessante, e quase sempre à base da coação.
Assim, cai-se numa educação qualificada por Jean-Claude Michéa de "dissolução da lógica". Deixa-se de distinguir o prioritário do secundário, de perceber o texto em seu contexto, de abranger o particular no pano de fundo do geral, para acatar passivamente as pressões de consumo que buscam transformar valores éticos em meros valores pecuniários, ou seja, tudo é mercadoria, e é o seu preço que imprime, a quem a possui, determinado valor social, ainda que destituído de caráter.
Demite-se do ato de pensar, refletir, criticar e, sobretudo, participar do projeto de transformar a realidade. Tudo passa a uma questão de conveniência, gosto pessoal, simpatia. Também são considerados comercializáveis a biodiversidade, a defesa do meio ambiente, a responsabilidade social das empresas, o genoma, os órgãos arrancados de crianças etc.
É o apogeu do capitalismo total, capaz de mercantilizar até mesmo o nosso imaginário.
* Frei dominicano. Escritor
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