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Na terça-feira (21/4), os diários de circulação nacional substituem o
patrono do feriado da Inconfidência pelo ex-quase presidente Tancredo
Neves, falecido há 30 anos. As reportagens colocam o político mineiro no
centro do processo de redemocratização, onde, na verdade, só se
posicionou depois de outros personagens da resistência.
O Globo é, de longe, o que mais capricha na louvação, e o
contexto geral é o da defesa das liberdades civis. Liberdade — ou a
falta dela — é também o tema de uma da fotografias que abrem o site da
Associação Nacional de Jornais (ANJ), onde se vê o rosto de um homem
maduro, com uma corrente dourada passando sobre sua boca e orelhas.
Numa interpretação rudimentar, trata-se apenas de uma foto dessas que
se compra por dez dólares num banco de imagens. Com isso, a entidade
que representa as empresas de comunicação no Brasil protesta contra uma
suposta ou real ameaça à liberdade de expressão.
A ilustração se refere a texto que se pode ler, logo abaixo, relatando
que a Sociedade Interamericana de Imprensa pediu, há dez dias, que os
governantes reunidos na VII Cúpula das Américas reafirmassem “o
compromisso com a liberdade de expressão e de imprensa e com o direito à
informação”. Num exercício de hermenêutica mais apurado, porém,
pode-se observar como a entidade — e, por extensão, a mídia tradicional
— se apresenta como tutora de direitos que extrapolam em muito o
ambiente que chamamos de imprensa.
É com base nesse mito que as corporações de mídia se posicionam acima
do escrutínio da sociedade e constroem um poder que rivaliza e muitas
vezes supera o poder das instituições republicanas. Misturar conceitos é
um dos artifícios mais banais do abuso. Liberdade de expressão,
liberdade de imprensa e direito à informação são aspectos do leque de
direitos individuais, mas nenhum deles é absoluto e apenas a liberdade
de imprensa se refere diretamente às empresas que compõem a ANJ.
O resto é apropriação indébita: tanto a liberdade de expressão como o
direito à informação devem existir independentemente de haver ou não
jornais circulando em determinada comunidade ou de essa comunidade ter
ou não acesso a meios institucionais de comunicação.
E mesmo a liberdade de imprensa, por estabelecer níveis diferenciados
de privilégios para quem produz o que chamamos de jornalismo, é um
conceito relativo, porque ela só tem sentido se acompanhada da
responsabilidade social de quem a pratica.
Ninguém sabe, ninguém viu
Como se sabe, as empresas brasileiras de comunicação consideram
controle indevido qualquer escrutínio da sociedade sobre seus atos.
Mesmo uma proposta de autorregulamentação foi rejeitada por elas e, em
seu lugar, a ANJ propõe uma “cartilha de autorregulamentação” (ver aqui), que não passa de um manual indicativo para a criação de códigos de conduta para cada empresa.
O que respalda esses manuais é o “Código de Ética e Autorregulamentação
da ANJ”, onde se lê, no artigo 5, que os jornais devem “assegurar o
acesso de seus leitores às diferentes versões dos fatos e às diversas
tendências de opinião da sociedade”. O último item desse rol de boas
intenções, o de número 10, é o que manda “corrigir erros que tenham
sido cometidos em suas edições”. Esta recomendação se destaca na
“cartilha de autorregulamentação”, onde se convenciona que devem ser
reconhecidos erros “que sejam apontados por leitores e equipes
internas” e publicar correções.
É, certamente, a grande janela por onde se pode olhar para dentro das
redações e entender por que os donos de jornais têm verdadeira ojeriza a
qualquer coisa que cheire a controle social da mídia. Ora, o que se vê
diariamente é o contrário: erros tão grosseiros que parecem
propositais indicam que a norma na maioria das redações é a
manipulação.
Quando a distorção é tão grande que coloca em risco o núcleo da
notícia, de vez em quando é feita uma correção — sempre em lugar
discreto e quase invisível. Se, por exemplo, o erro é publicado num
blog, o texto original é reproduzido nas redes sociais, por iniciativa
da redação, mas a correção, quando ocorre, é feita apenas na página do
blogueiro.
Por exemplo, na sexta-feira (17/4), o repórter Fausto Macedo, do Estado de S.Paulo,
publicou em seu blog que a mulher do ex-tesoureiro do PT João Vaccari
Neto, Giselda de Lima, possui renda mensal de R$ 300 mil. Sua renda é
de R$ 3 mil por mês.
Uma informação como essa é fundamental para formar a opinião dos
leitores sobre a inocência ou culpabilidade da pessoa que é objeto da
notícia. O texto errado (ver aqui reprodução da revista Forum) foi multiplicado nas redes sociais. A correção, só viu quem voltou ao blog para ler uma notinha de rodapé.
Luciano Martins Costa
Um comentário:
Quem puder não deve se omitir! O Brasil corre perigo com estas forças reacionárias. Muitas coisas que podem representar um futuro promissor para nosso povo estão novamente correndo risco de ir para a vala da pilhagem internacional com a ajuda destas forças entreguistas com o patrocínio dos sócios midiáticos. Acordem a história tem que servir para alguma coisa além da mera superficialidade para o acesso ao ensino superior, tem que servir para o paralelo com o presente e a correção de rumos quando necessário ou manutenção quando parecer o mais sensato. Tem que servir para tornar nula a tentativa de manipulação da verdade pelos oportunistas e mal intencionados. Posso garantir a todos que a imprensa corporativa nos deu exemplos de sobra para não acreditarmos em sua isenção, suas escolhas, a única coisa que tenho certeza quanto à sua coerência é sua persistente tentativa de nos manter a reboque do protagonismo de potência externas, mesmo que para isso faça como fez no passado, patrocinar atentados contra a república desde o mero conteúdo editorial, preferências por atores da direita entreguista, mesmo respondendo criminalmente por atos inadequados à atividade pública até explicitamente incentivar correntes notadamente autoritárias. Nunca foi tão verdadeiro o lema de Brizola quando disse há 25 anos: “O que for ruim para a globo é bom para o Brasil” ou vice versa.
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