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MÍDIA - Um caso desconcertante
Zuenir Ventura (*) - O GloboSe, como suspeita a polícia suíça, a advogada brasileira Paula Oliveira se automutilou e forjou a gravidez, em vez de ter sido agredida por neonazistas, como denunciou, temos uma das mais desconcertantes histórias que já presenciei em 50 anos de jornalismo. Só por acaso não cometi a maior barriga de minha vida profissional. Baseado no primeiro noticiário vindo de lá, redigi e já ia mandar para a Redação minha coluna de sábado, quando na última hora soube da reviravolta do caso. Foi um choque porque, a exemplo do presidente da República, do ministro das Relações Exteriores, da cônsul brasileira em Zurique e de quase o país inteiro, eu também fiquei indignado, e com esse espírito escrevera um artigo contundente falando mal da polícia e da imprensa suíças.Hoje é fácil dizer que nós, jornalistas, nos precipitamos, que deveríamos ter esperado o fim das investigações etc. Já pecamos muito, mas acho que desta vez não: o que fazer com aquelas fotos e com as declarações desesperadas da vítima? Sonegar? É bom lembrar que não se dispunha de versão oficial da polícia, só da vítima. Como suspeitar de uma pessoa de boa reputação, sem "histórico", profissional respeitada, funcionária por concurso (e bem colocada) de uma idônea empresa dinamarquesa? Como desconfiar de sua versão tão convincente e verossímil? Se confirmado o engodo — "se", pois todo cuidado é pouco —, qual seria a motivação para a farsa?A hipótese mais provável é a de um transtorno mental. Sabe-se agora que ela tinha fixação por gravidez. Nos últimos dias, o próprio pai chegou a admitir um "grave distúrbio psicológico", referindo-se, no entanto, ao desequilíbrio como consequência do incidente, não como causa. Segundo o site da revista "Época", Paula comunicou a suposta gravidez das gêmeas aos colegas de trabalho enviando, como se fosse sua, uma imagem de ultrassom que existe na internet, conforme apurou o repórter José Antonio Lima. Uma dessas colegas informou ao jornalista (mas sem permitir a publicação do nome) que na empresa "a brasileira era conhecida por inventar histórias", como a de um ex-marido morto em acidente da TAM. Mesmo assim, ainda continuamos no terreno das hipóteses, dos rumores e das suposições.A imprensa suíça caiu de pau em cima da nossa, acusando-nos inclusive de xenofobia. Do alto de sua soberba, garantiu que o país é racista e 72% dos brasileiros "são contra o afluxo de estrangeiros". Mais: afirmou que "a gravidez inventada" é um artifício comum de mulheres brasileiras "para pressionar maridos e companheiros". Pode?Não sei que lição tirar do episódio, mas certamente ele será um case nas faculdades de comunicação e de psiquiatria. A única certeza que tenho é a da fragilidade e inconstância da complexa e misteriosa matéria-prima com que é feito o jornalismo: o gênero humano.(*) Colunista do jornal O Globo - artigo publicado na edição de 18/02/09
Postado por BLOG DE UM SEM-MÍDIA às 19:30
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