quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sobre Honduras e pesquisas eleitorais


Copiado do Blog Oleo do Diabo, de Miguel do Rosário, que está em Minhas Notícias.

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Saraiva


(A Anunciação, de Leonardo da Vinci)
A mídia tentou culpar o Brasil pela condução de Zelaya a Honduras. No Jornal da Globo da noite de terça (22/09/2009), William Waack perguntou a Heraldo Pereira se "alguém acreditava" na versão do governo, e entrevistou senadores da oposição. Ora, a função da imprensa, naquele momento, era buscar informações e não declarações de senadores que não tinham idéia do que estava [...]undefinedacontecendo e se limitaram a formular a opinião, irresponsável e leviana aliás, de que o governo brasileiro teria ajudado Zelaya a entrar em Honduras. O Zelaya, por estar na Embaixada Brasileira, está dando total prioridade à imprensa tupi, tanto que, quando eu mudei o canal para o SBT, ouvi uma entrevista com o mesmo, negando qualquer participação brasileira em sua vinda para Honduras. Ou seja, se o governo nega que tenha ajudado e Zelaya nega que tenha recebido ajuda; se não há nenhuma testemunha dizendo o contrário; então é irresponsável acusar o Brasil de ter ajudado Zelaya a entrar em Honduras.Aqui entre nós, essa acusação está eivada de preconceito contra Zelaya e contra a política externa brasileira. Apesar de estar mais claro que nunca que a política externa de Lula ajudou o Brasil a elevar fortemente suas exportações, sobretudo de produtos industrializados, de maneira que hoje, a América Latina é o principal destino de nossas exportações e, de longe, o parceiro que paga os melhores preços e compra nossos produtos mais sofisticados; apesar disso, para a direita, encarnada na grande imprensa e na oposição demo-tucana, o bom seria o Brasil continuar exportando matéria-prima para a Europa e Estados Unidos, em vez de autopeças para Argentina e eletrônicos para América Central e África. O resultado, se não mudássemos nossa política externa da orientação colonial que ainda vigorava no governo FHC, seria trágico para o país, considerando a crise econômica que se abateu sobre as economias centrais.Enfim, o preconceito contra Zelaya também está claro. A Constituição Brasileira afirma categoricamente que o Brasil não deve interferir na soberania de outros países. Por isso, não seria, de fato, aconselhável que o Brasil ajudasse Zelaya a ingressar em seu país. Por outro lado, temos uma situação bastante confusa aqui. Afinal, Zelaya é o presidente eleito, o verdadeiro representante do povo hondurenho. E ele é hondurenho, tem o direito, garantido inclusive por tratados internacionais, de voltar para seu país. Do ponto-de-vista diplomático e legal, portanto, não haveria problema em ajudar um presidente amigo, de uma nação amiga, a entrar em seu próprio território. A condenação alevantada pelo Globo, além de leviana, é equivocada. O Globo, mais uma vez, registra seu antipatriotismo e seu hipócrita apreço pela democracia, ao focar suas baterias não nos golpistas que estão violentando a liberdade em Honduras, mas no governo brasileiro, que está tentando ajudar as forças democráticas, encarnadas no presidente Zelaya, a vencê-los.Há um outro ponto extremamente importante. A imprensa brasileira não está informando de forma completa e aí reside o mecanismo mais comum usado para manipular a opinião pública. Nilson Lage, no livro "O Controle da Opinião Pública", Editora Vozes, denuncia esse tipo de ardil. A mentira mais eficaz não é inventar fatos inexistentes e sim contar meia-verdades, omitir aspectos, descontextualizar. Em Otelo, de Shakespeare, os personagens mais em evidência são o próprio Otelo e sua mulher, Desdêmona. Mas sem Iago, o intriguista que envenena o ciumento Otelo contra sua esposa, a peça não tem sentido. Da mesma forma, não é possível entender Honduras sem analisar o papel que a mídia local exerce sobre as consciências do país. A mídia hondurenha é partícipe do golpe. Divulga apenas as versões do golpe e desrespeita os direitos mais básicos da população hondurenha de conhecer as dificuldades que o seu país atravessa. A mídia nacional e internacional, por razões corporativas escusas e mesquinhas, ao não falar sobre a existência do Iago hondurenho, ou seja, do golpismo midiático no país, omite uma informação fundamental para se contextualizar esse golpe. A elite hondurenha lê os jornais e asssiste aos canais de TV e acha que o golpe é muito bom e tem muito apoio. Em entrevista à Folha, o (pseudo) embaixador de Honduras no Brasil (cuja credencial já foi cassada) disse que as eleições que o governo quer, unilateralmente, agendar para novembro, tem "apoio internacional". Perguntado que apoio era esse, não teve pejo de falar: "O Rotary Club" irá mandar observadores... Esse é o apoio internacional que eles têm... do Rotary Club... e olhe que, possivelmente, se trata, até isso, de uma mentira. Possivelmente daqui a pouco o Rotary divulga nota desmentindo...Onde estão os editoriais virulentos contra o golpe em Honduras? Contra a mídia golpista em Honduras? Tantos anos condenando a marcha "inexorável" da democracia venezuelana rumo à uma ditadura, embora até hoje cientistas políticos estejam tentando entender como uma ditadura pode se coadunar a sufrágios populares sucessivos... tantos anos, e Honduras vive uma ditadura clássica, golpe militar, com fechamento de jornais, canais de tv e revistas, com toque de recolher, com prisões políticas em massa, etc, e não vemos editoriais... As associações internacionais de imprensa se calam... [Digressão conspiratória: E aquela turminha que protestava contra as fraudes no Irã? Ficaram tão revoltadinhos e agora não se manifestam diante de um golpe de Estado que tanto lembra o sinistro histórico de golpes na América Latina, que tanto lembra o que aconteceu aqui no Brasil. São os otários internacionais dos lobbies armamentistas americanos. Odeio teorias de conspiração, mas não consigo me livrar desta, de que a demonização do Irã é movida por interesses bélicos. O lobby armamentista americano é legalizado; até porque, lá nos EUA, lobby não é crime. A imprensa americana fala disso abertamente. No caso do Irã, eles repetiram as estratégias de sempre. Todas as pesquisas eleitorais, inclusive uma feita por uma respeitável instituição conservadora norte-americana, apontavam o atual presidente como o favorito nas eleições. Ele ganha as eleições e o que acontece? Acusam fraude! É tudo muito simples. Interessava ao lobby armamentista norte-americano que Mahmud Ahmadinejad vencesse as eleições, porque ele representa um perigo e, como tal, obriga o Pentágono a realizar compras vultosas da indústria bélica ianque, que é privada. Mas interessava que ele, além de eleito, não tivesse legitimidade, transmitindo ao mundo, e sobretudo aos americanos, a sensação de insegurança. Com isso, cria-se a fórmula perfeita para pressionar Obama a assinar um vistoso cheque nominal aos barões das armas. Mas isso é apenas uma digressão, uma especulação política. É que me irrita muito essa turma que repete, acriticamente, bovinamente, o que a Foreign Policy, ou publicações do mesmo teor ideológico, publicam por lá. São as mesmas publicações que defenderam a guerra do Iraque e a eleição de George Bush. E agora essa turma, que posa de modernosa, criticou Bush e a guerra, continua ecoando as mesmas ladainhas... Seria tão bom se eles se restringissem a votar no Gabeira... Agora, apoiar o Gabeira e defender a indústria bélica americana, é dose pra leão! Que é isso? Mas dá certo, enfim. Defender a direita (norte-americana, que é sempre mais chique, e mais neutro), no Brasil, é a credencial mais segura para arrumar um bom emprego na grande imprensa... Defendem a direita lá fora, e, para salvar as aparências, ou seja, evitarem a pecha de "reacionários", abraçam o Gabeira por aqui.]*Analisando a pesquisa eleitoral do IbopeO Ibope divulgou, esta semana, pesquisa eleitoral para 2010. Primeiramente, convido todos a dar uma olhada no arquivo original completo (PS: acabo de ser informado de uma versão da mesma pesquisa ainda mais completa), que guardei numa página pessoal. A blogosfera deve se libertar o máximo possível da mídia corporativa, indicando os links dos arquivos originais, e comentando a partir deles, evitando fazer ponderações de segunda mão. É importante fazermos a crítica midiática, mas justamente por isso precisamos nos independentizar e buscar as fontes primárias. A pesquisa completa traz vários aspectos interessantes que merecem ser considerados. Ao se informar apenas pela grande mídia, alguns blogueiros, inclusive o Rodrigo Vianna e o Azenha, repetiram os mesmos cacoetes. O Azenha está acompanhando de perto esse assunto, publicando opiniões próprias e de terceiros. Estou mais na linha do Azenha. Acho que o processo eleitoral já começou. Numa democracia madura, e o Brasil caminha para isso, as eleições começam a ser decididas um ano antes. Quero destacar um ponto que ninguém parece ter percebido. A imprensa repetiu ad infinitum que Ciro "ultrapassou" Dilma. Não é verdade. Na lista 1 do Ibope, que inclui Serra, Ciro Gomes, Dilma, Heloísa Helena e Marina, Dilma e Ciro aparecem empatados com 14%. Ciro ultrapassa Dilma apenas quando Heloísa Helena não participa do páreo, o qual fica bastante apertado, de 17% para 15%, ou seja, permanece empate técnico.
Um dos cacoetes da grande mídia que a blogosfera repercutiu acriticamente foi sobre a suposta "rejeição" de 40% de Dilma Roussef. Conferi o arquivo original da pesquisa CNI/Ibope e topei com um dado bastante elucidativo, que ninguém citou. O Ibope perguntou aos potenciais eleitores se eles conhecem bem ou mais ou menos os candidatos apresentados. Reparem nas respostas do quadro abaixo:
Ou seja, Dilma Roussef só é conhecida por 32% dos entrevistados, enquanto Serra é por 66% e Ciro Gomes, por 45%. Esses dados se conformam perfeitamente com os das outras pesquisas, que mostram o crescimento mais rápido de Dilma junto às classes educadas, com ensino superior e com renda mais alta, as quais, provavelmente, já sabem muito bem quem é Dilma e que ela deverá ser a candidata apoiada pelo presidente Lula. Cotejando a pesquisa com a sólida popularidade de Lula, as perspectivas de Dilma são as mais positivas. Confira abaixo, três gráficos da recente pesquisa do Ibope sobre a aprovação de Lula. Repare no segundo, que mostra a aprovação monstruosa de Lula em TODAS as faixas de renda. Entre os menos escolarizados, Lula tem aprovação de 88%. Para mim é evidente que, quando o presidente estiver liberado para participar do horário eleitoral e informar os cidadãos de que sua candidata é Dilma, este povão simples e honesto irá votar em peso nela. Mas Lula também tem aprovação de 71% entre os que tem curso superior completo ou mais, e 72% tanto entre os que ganham de 5 a 10 salários como entre os que ganham mais de 10 salários. Ou seja, mesmo entre o público alvo da grande imprensa, aqueles que tem poder aquisitivo para comprar carros e imóveis, Lula tem uma vasta e sólida aprovação. Repare ainda que a aprovação de Lula no Nordeste é de 90%, um índice jamais visto em nenhum país democrático, ainda mais para um governante em final de mandato, com todos os desgastes daí decorrentes.Nas cidades pequenas, com menos de 20 mil habitantes, onde outras pesquisas apontaram que Dilma ainda é pouco conhecida, a popularidade do presidente é de 87%. Esse é um fator importante, porque, por mais pequena que seja a cidade, ela é uma unidade política independente, com prefeito e câmara de vereadores, afetando, portanto, as máquinas partidárias. Se o presidente tem toda essa popularidade nas cidades pequenas, é claro que o PMDB deverá associar-se à candidata dele, na esperança de surfar na onda e crescer, ou ao menos consolidar-se, nessas áreas.Clique nas imagens para ver num tamanho decente.


E o crescimento de Ciro Gomes se dá no momento em que o ex-governador do Ceará e atual deputado federal amplia sua presença na mídia com declarações muito duras contra setores midiáticos, identificados por ele, de forma muito direta, como "golpistas" e representantes de uma elite atrasada do Sudeste; e fazendo uma defesa cada vez mais veemente do presidente Lula. Sobre isso, reproduzo um comentário pescado no blog do Nassif que sintetizou muito bem o significado de Ciro Gomes para o pleito de 2010:
Por weden(...)Os 34% de Serra mostram que ele não oscila mais: desce a ladeira consistentemente.É a perda do fôlego: não só não consegue superar os “votos” depositados em Alckmin, como não consegue se manter estável.Isso é péssimo, porque pode assinalar que “desgastes” do governo podem não se transformar em votos para o tucano, mas a procura de outros nomes.Do lado das esquerdas é um pouco indiferente quem esteja na frente. E é até oportuno ficar em segundo, em certo momento: todos que assumirem a liderança passam a receber contra si ‘ a força do vento’ da imprensa, enquanto que o segundo ficará no vácuo, como numa corrida de ciclismo por equipe.Para piorar, a partir de hoje, a imprensa pró-Serra não sabe se deverá bater em Dilma ou em Ciro. É o pior cenário, porque os dois podem caminhar empatados enquanto Serra despenca.Como é impossível centrar fogo em dois, é lógico que a tarefa fica muito mais complicada.Conclusão: as eleições de 2010 permanecem incertas. A coisa está assim: a direita, sem apoio de nenhum movimento social, sindicato, sem apoio do PMDB, de um lado; e a esquerda, com Lula no comando da máquina federal, com 81% de popularidade, apoio do PMDB, movimentos sociais, sindicatos, e com dois candidatos muito fortes, Dilma Roussef e Ciro Gomes empatados em segundo lugar, de outro. A decisão final será do povo brasileiro. Eu voto na Dilma, mas votaria também tranquilamente no Ciro Gomes. Não podemos esquecer que Dilma ainda enfrenta uma doença perigosa, e por isso é importante termos o Ciro Gomes ali, para garantir a derrota da direita truculenta (e aí discordo radicalmente do Lula, ao declarar que não teremos direita truculenta em 2010; teremos sim, e das piores, das mais radicalizadas. A extrema-direita está toda pendurada no cangote do Serra), e assegurarmos que o Brasil termine a sua travessia para etapas mais avançadas de desenvolvimento sócio-econômico.
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# Escrito por Miguel do Rosário # Quarta-feira, Setembro 23, 2009 14 comentarios # Etichette: ,

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