A METRÓPOLE ENTREGUE À MEDIOCRIDADE
Às vésperas de um ano eleitoral, o caixa da prefeitura demotucana de São Paulo está recheado. Cerca de R$ 7 bilhões em recursos não investidos nas urgências da população foram reservados pelo alcaide Gilberto Kassab para maquiar o medíocre desempenho de sua gestão nos últimos anos, que se manteve assim em fina sintonia com a de seu criador, José Serra.
A arquiteta Raquel Rolnik, em seu blog, dá a medida dos valores estocados. O superávit recorde da administração municipal equivale ao orçamento anual de uma cidade como Belo Horizonte (R$7,5 bi). Aproxima-se do investimentos total previsto pela prefeitura para 2011 (R$ 8,5 bi). Ou seja, Kassab tem dois anos de inversões nas mãos graças, em parte, a aumentos de até 60% do IPTU e ao reajuste superlativo das passagens de ônibus nos últimos 18 meses. Elas saltaram de R$ 2,30 em janeiro de 2010 para R$ 3 reais. Um aumento superior a 30% para uma inflação acumulada inferior a 10%.
Se os sofres estão firmes, a cidade aderna. Não é preciso ser oposicionista, basta ser transeunte para constatá-lo. Com a cobertura complacente da mídia sem a qual Kassab não teria sido eleito, São Paulo vive um ciclo de decadência de irretocável coerência. Ruas sujas, abrigos de ônibus caindo aos pedaços, inundações sem planos equivalentes à gravidade alcançada pelo problema, flacidez administrativa, saúde sem investimento, o trânsito deixado à própria sorte e o sentimento mais ou menos disseminado de que vivemos numa cápsula de concreto e fumaça onde o interesse público foi asfixiado.
De novo, é Raquel Rolnik quem resume o vale-tudo urbano reafirmado diariamente nas artérias necrosadas da metrópole: "a cada mês, o paulistano passa dois dias e seis horas no carro ou no transporte público para se locomover. Os paulistanos perdem, em média, 27 dias por ano presos no congestionamento". Só a aposta numa cumplicidade orgânica da mídia explica a desenvoltura do prefeito que agora regurgita planos e ações, com promessas de fazer nos próximos 12 meses tudo o que ele e seu padrinho não cogitaram em seis anos: hospitais, parques, escolas, mais ônibus, ciclovias etc etc etc . São Paulo é a quarta maior mancha urbana do planeta. Conecta uma população da ordem de 19 milhões de pessoas (quase um Portugal e uma Suíças juntos) interligando cerca de 39 municípios.
O político em cujas mãos o PSDB depositou o destino desse emaranhado humano tem a seguinte opinião sobre planejamento e metas: "Poderíamos não atender [as metas], porque meta é meta. Meta não é compromisso"(Folha 10-06). A esquerda de São Paulo não pode ter outra meta para 2012 a não ser a inovação do planejamento e a mobilização da cidadania para derrotar a desfaçatez política e o acinte administrativo.
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Do Blog O Esquerdopata.
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