terça-feira, 5 de outubro de 2010

Irregularidade nas pesquisas só houve entre março e abril

Os meios de comunicação aliados a José Serra já começam uma nova ofensiva em favor de seu candidato. Essa ofensiva inclui manipulação de interpretação das pesquisas, retomada de denúncias contra Dilma e o PT e reprodução de campanhas anônimas de difamação destes, de forma a levá-las ao conhecimento do público sem, entretanto, dar-lhes apoio formal.

Este texto, porém, abordará apenas as interpretações enviesadas das pesquisas

Na edição de hoje da Folha de São Paulo, o diretor do instituto, Mauro Paulino, dá uma interpretação superficial das últimas pesquisas para afirmar, sem medo de ser feliz, que o Datafolha seria o instituto que mais teria acertado o resultado final da eleição.

Este é um assunto complexo que requer a maior simplificação possível, pois essa complexidade dos fatos permite afirmações que não guardam relação com a realidade contando com a dificuldade do público de compreender processo tão intrincado.

Na reta final do primeiro turno, todos os institutos de pesquisa mostraram a mesma tendência, de queda de Dilma e de subida de Marina. Quanto a Serra, só Datafolha, Ibope e Vox Populi detectaram sua subida na reta final da campanha. O Sensus não registrou esse movimento, que nas outras pesquisas ficou dentro da margem de erro.

Entre 5 de abril e 2 de outubro, Datafolha e Ibope fizeram 14 pesquisas cada, Sensus fez 6 e Vox Populi 8.

A tendência da eleição, sobretudo depois do início do horário eleitoral, em agosto, foi prevista, portanto, por todos os institutos. Todos eles captaram bem a arrancada de Marina na reta final e a queda de Dilma. E todos registraram o mesmo sobre Serra, subida tímida ou estagnação, consideradas as margens de erro.

Para simplificar, reitero afirmação que fiz anteriormente de que o que interessa em estatística são as tendências que os números mostram, e que essas tendências só apresentaram perturbações em um único momento desde o começo de abril até o último domingo. Esse momento foi entre março e abril, conforme se pode ver no gráfico acima.

Nos gráficos do Datafolha e do Ibope, um círculo revela o momento em que, ao passo que estes institutos mostravam subida de Serra e estagnação de Dilma, Sensus e Vox Populi antecipavam a tendência de subida de Dilma e de estagnação ou queda dos adversários. Isso durou até meados de setembro, quando Marina teve maior aceleração das intenções de voto e Serra permanecia estagnado até a reta final, quando teve discreta subida em 3 dos 4 institutos.

Como se pode notar, porém, a partir de fins de abril, com a representação do Movimento dos Sem Mídia à Justiça Eleitoral, Datafolha e Ibope passaram a acompanhar a tendência de Sensus e Vox Populi. Dali em diante, todos os institutos passaram a mostrar o que de fato aconteceria em 3 de outubro.

Neste momento, essa discussão está sendo escamoteada na grande imprensa. Até hoje os grandes meios de comunicação não noticiaram o inquérito da Polícia Federal sobre os institutos de pesquisa. Mesmo que a mídia não tenha considerado a fato em suas análises, isso não quer dizer que não exista.

Estão errando todos. Haverá conseqüências da investigação que a Polícia Federal está fazendo por conta da iniciativa do Movimento dos Sem Mídia. Não se pode afirmar quem será responsabilizado pelo que aconteceu entre março e abril, quando dois pares de institutos divergiram entre si, mas posso garantir que dois dos quatro institutos serão responsabilizados.

É possível afirmar que é inexplicável e suspeitíssima a divergência entre Datafolha e Ibope, de um lado, e Sensus e Vox Populi do outro entre março e abril. Em minha opinião, Datafolha e Ibope tentaram “segurar” a tendência de ultrapassagem de Serra por Dilma naquele momento.

Devido ao segredo em que tramita a investigação das pesquisas pela PF, não será possível dar mais informações sobre o assunto. Todavia, os que estão ignorando essa investigação apesar de saberem dela terão, no mínimo, que mentir para o público quando não puder mais ser escondida. E esse momento chegará…

Essa investigação deve produzir conclusões no primeiro semestre do ano que vem. E os indícios de que ela apontará que entre março e abril deste ano ao menos dois institutos de pesquisa tentaram enganar a sociedade, já me chegam às mãos.

O caso transcende a campanha eleitoral. É preciso desmascarar o uso de pesquisas de intenção de voto para impedir que se materializasse mais cedo uma tendência de expressivo fortalecimento da candidatura Dilma Rousseff ao longo deste ano. Esse fato só não virá a público se Serra se eleger e mandar a PF interromper a investigação.

Como fiz em outras oportunidades em que previ fatos que mais tarde todos teriam que reconhecer, peço a vocês que não se esqueçam deste texto. Em alguns meses, este assunto dominará o debate político no Brasil e produzirá conseqüências ainda imprevisíveis, mas que garanto que virão de forma inexorável.

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