Laerte Braga
A maneira brutal e baixa com que a extrema-direita brasileira vem tentando impor o nome de José Arruda Serra aos brasileiros revela o apetite pelo poder dessas elites. Ou pela tentativa de manter intocados seus feudos.
Mostra o preconceito dos “donos” do País contra a mulher, o que, por sua vez, se estende a todos os que nesses últimos oito anos se viram incluídos no processo político e econômico por conta de ações do governo Lula.
A presunção e a arrogância da verdade absoluta. Só disfarça o caráter perverso e escravagista das elites.
O cunho religioso que tomou conta do debate eleitoral no fundo esconde apenas busca de mais poder. De maiores privilégios. Soa chantagista, cúmplice de um modelo político que vai sendo rompido gradativamente e abrindo caminho a uma ampla e desejada participação popular no processo político e nesse caminho quebrando barreiras impostas secularmente à grande maioria dos brasileiros.
Esse debate religioso soa a falso moralismo. O maior líder religioso do Brasil nos últimos anos foi Chico Xavier. Um líder espírita (não sou espírita). Teria se transformado num dos homens mais ricos do País só com os direitos autorais de seus livros.
Vivia modestamente numa casa comum, abriu mão de todos aqueles direitos em benefício da obra religiosa e assistencial que coordenava. Sustentava-se com o básico, o indispensável.
Em tempo algum teve coleção de carros antigos, ou direitos autorais de CDs gravados por grandes multinacionais da música, muito menos programas de televisão ou aparições em shows cercados de tecnologia do embuste.
A padroeira do Brasil, que um dia teve sua imagem chutada por um tresloucado, é negra.
Chico Xavier soma-se a D. Hélder Câmara que designado arcebispo de Olinda e Recife deixou de viver no palácio episcopal e foi morar numa casa nos fundos do tal palácio, transformando-o em centro de amparo material e espiritual aos que assim o necessitavam.
Há um número expressivo de líderes religiosos com atitudes semelhantes. A imensa maioria perseguida ou ignorada pelas elites que buscam de forma desesperada recuperar o governo do Brasil e arrematar o processo de venda de todas as riquezas nacionais.
Em 1964, quando boa parte da cúpula da Igreja Católica Romana se mostrou favorável ao golpe de estado dos militares a soldo das elites e dos EUA, um cardeal, por exemplo, Carlos Vasconcelos Mota se opôs à ditadura.
E na luta contra o regime militar, bárbaro, estúpido, antinacional, muitos sacerdotes e bispos caíram diante da tacanha e violenta “ordem” que tomou conta do Brasil durante 20 anos.
Quando havia um papa no sentido que aplicamos à palavra, ou ao título, o governo brasileiro – ditadura militar – mandou sondar Paulo VI sobre a eventual prisão do bispo Pedro Casaldáliga. A resposta foi simples – “toquem num fio de cabelo de Casaldáliga e estarão tocando em mim” –. Foi à época do assassinato do padre Burnier, vítima da ditadura.
Celso Furtado, um dos grandes vultos da História do Brasil, dizia que a maior revolução do século XX foi a “feminista”. No sentido da conquista da liberdade política e econômica da mulher. Deixa de ser coadjuvante e passa a ser protagonista.
Transformou-se em bem mais que uma simples partícipe do processo de vida de uma nação como um todo. Milhões de donas de casa se viram num dado momento com os direitos revelando novas responsabilidades e a um ponto tal que são sustentáculos da própria ordem política, econômica e social.
Tirem a mulher do cenário político, econômico e social e o País desaba.
Há dias foi veiculado pela televisão um anúncio de um determinado modelo de automóvel. No filme da propaganda a mulher presenteia o marido com aquele carro, para que ele possa cumprir suas funções domésticas. Levar e buscar os filhos na escola, fazer compras no supermercado, coisas assim. O casal vizinho, na lógica de estimular o consumo, espiando de esguelha, apresenta um marido deprimido. Pede um tempo.
É uma forma de apropriação do status da mulher, parte viva do dia a dia seja de um casal, seja de um país como o nosso.
As elites não aceitam a mulher e o tosco modo de pensar de setores da extrema-direita, rude, tosco, mas deliberado, não concorda com a hipótese que o Brasil possa ser governado por uma mulher.
Na história construída desde a chegada de Cabral, entendem que lugar de mulher é na cozinha e obrigação de mulher é dirigir-se ao seu companheiro como “senhor meu marido”, ou “senhor sei lá o que”.
Não é uma questão cultural com o aspecto que emprestam a essa palavra.
É ignorar o papel extraordinário que a mulher exerce em cada tijolinho de todo o cotidiano de todos nós.
O modelo se apropria inclusive da própria característica revolucionária dessa participação, para tentar adequá-la às suas vontades, transformando a mulher em objeto. Em melancia, pera, etc.
Objeto sexual, objeto de exploração no trabalho. É o que o modelo vende.
Milhões de brasileiras carregam em suas costas a história de violência e preconceito contra a mulher. Como milhões de negros e integrantes de minorias historicamente rejeitadas.
A perspectiva de uma presidente e não de um presidente assusta e assusta mais ainda quando essa mulher tem dentro de si as marcas da violência e da brutalidade da ditadura militar.
E traz consigo o caráter e a bravura de quem se reconstruiu em meio à barbárie de um período de boçalidade, transformando-se numa líder indiscutível e capaz. Preservou-se íntegra.
A soma dessas características é que leva setores medievais das elites políticas, econômicas e religiosas do Brasil a uma campanha baixa, repleta de chantagens, de tentativas de desqualificar Dilma Roussef.
É como uma chicotada em cada mulher brasileira e muitas ainda não perceberam que por trás de toda a baixaria que toma conta da campanha eleitoral, bem mais que o mau caratismo do candidato José Arruda Serra, existe um projeto sinistro e cruel de dominação do Brasil e dos brasileiros.
Para essa gente lugar de mulher é na cozinha, ou então na cama, cumprindo “suas obrigações”. O medo que buscam criar nas pessoas é a maneira de tentar escravizar. Pelo medo.
Se bobearmos, em breve, vão propor algo como uma espécie de circuncisão de todas as mulheres, o corte do clitóris.
E os atrasados são os outros.
O que há por trás de toda essa canalhice é a luta para manter privilégios e deter o avanço do Brasil, hoje a oitava economia do mundo e com níveis de justiça social ainda longe dos ideais, mas bem melhores que os dos tempos de FHC e os de sua laia.
A História não se constrói num dia e nem se faz sem lutas.
A luta de Dilma é a luta de cada mulher brasileira. Seja por sua liberdade, seja para não ter que recorrer a uma delegacia por conta de violência doméstica, seja para abrigar sob o manto de mãe/mulher consciente do seu papel a Nação que se transforma em potência mundial.
Isso incomoda às elites paulistas, aos latifundiários, aos “donos” do Brasil, loucos para que as mulheres voltem à cozinha e se prestem à cama no horário desejado pelos senhores. Incomoda a mídia privada que deseja bundas imensas nas capas de revistas, jornais, nos shows de tevê, tudo em nome de um modelo podre e corrupto.
Com um detalhe. Não pode passar de quarenta anos. Do contrário, como fez Faustão, é demitida por não atender às exigências do patrocinador.
Para eles é a ordem natural das coisas. E a ordem natural das coisas, para eles, é a eterna exploração de mulheres, negros, de excluídos de um modo geral, de trabalhadores. Escondem-se no moralismo de fachada, na hipocrisia e isso tem nome.
É fascismo. A forma mais ultrajante de assédio que se pode conhecer. Se volta tanto contra a mulher, como contra qualquer cidadão consciente e decente, porque esconde propósitos e objetivos de pura dominação e exploração.
É o estilo VEJA, ou FOLHA DE SÃO PAULO, ou GLOBO. É o jeito de ser tucano/DEM. Explicita-se na campanha sórdida
Baixo, vil, covarde.
No mundo cristão duas mulheres tiveram importância capital na vida de Cristo. Maria, sua mãe e de seus irmãos e Madalena que, segundo alguns, foi sua companheira. Maria Madalena à época e como nos registros foi chamada de prostituta pelos senhores de Israel.
Ficção ou não o livro O CÓDIGO DA VINCI e o filme mostram a face real da OPUS DEI. O preconceito. Sobre lugar de mulher ser na cozinha é exatamente isso. Os “donos” as desqualificam. Em sua arrogância de senhores da verdade. Desde que a verdade seja lucrativa.
É nessa trilha covarde que querem que os caminhos caminhem. Com caminhantes sem vontade e sem vida, submissos a um processo que ultrapassa o de apenas alienação, atinge o de tentar nos transformar a todos em robôs.
http://redecastorphoto.blogspot.com/2010/10/lugar-de-mulher-e-na-cozinha.html
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
Um comentário:
Muito bom o texto!!
Parabéns ao autor!
Recomendo uma passadinha no blog do meu marido, estamos com força total para uma vitória magnífica de Dilma no 2 turno! Meus sinceros abraços ao Sr Saraiva e seus colaboradores!
Lari
http://rodrigozanatta.wordpress.com
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