segunda-feira, 4 de outubro de 2010

Observações bélicas


(Frederico Nasser e Wesley Duke Lee)
Inflacionou-se tanto a expectativa de uma vitória no primeiro turno que sua não-concretização teve sabor de derrota para a militância de Dilma Rousseff. Tivemos nesta eleição, além disso, um primeiro exemplo das tendências políticas das velhas e novas classes médias brasileiras. Deixemos, porém, as análises sociológicas para mais tarde, quando tivermos em mãos, já devidamente computados, assimilados e editados, todos os resultados.

As autocríticas também podem ficar para amanhã. As lutas foram combatidas de maneira digna de nossa parte, sem baixarias de espécie alguma. Talvez tenha faltado humildade, mas humildade também nunca ajudou ninguém a ganhar nada. A gente tem mesmo é que pensar grande e almejar sempre mais do que poderemos concretamente conseguir, porque assim é o ser humano e foi assim que construímos a nossa maravilhosa, turbulenta e desgraçada civilização.

A esquerda cresceu neste primeiro turno. Os mais importantes líderes da oposição no Senado foram derrotados: Artur Virgílio, Tasso Jereissati, Heráclito Fortes, Marco Maciel, César Maia, Mão Santa, não se elegeram ou não se reelegeram. Em São Paulo, o PSDB ganhou apertado uma eleição que esperava faturar com facilidade.

De maneira geral, as importantes vitórias da oposição serviram para reforçar o colorido democrático do país. A própria realização de um segundo turno também tem essa importância, de alardear, país adentro e mundo afora, a pluralidade e pujança de nossa democracia.

Naturalmente que, para Dilma, seria mais confortável vencer logo no primeiro turno. E seria uma deliciosa vitória sobre a mídia corporativa que milita na oposição. Mas, de fato, para a população brasileira, um segundo turno proporcionará um verdadeiro curso intensivo de política e democracia. Baixarias, calúnias, o voto de "grife" em Marina, fazem parte do jogo.

O Leviatã midiático, por sua vez, sorri malignamente com a oportunidade que ele terá de exibir sua força. A blogosfera de esquerda, exausta pelas batalhas sem tréguas que enfrenta há meses contra o poder de manipulação dos grandes medios, terá que respirar fundo e encontrar em si mesma forças suficientes para uma nova e fulminante arremetida.

O filósofo grego Heráclito de Éfeso tem umas frases que cabem em nosso contexto: "Não seria melhor para os homens obterem tudo o que querem"; "Nada é permanente, salvo a mudança"; e principalmente esta, uma de suas mais famosas: "A guerra é mãe e rainha de todas as coisas; alguns transforma em deuses, outros, em homens; de alguns faz escravos, de outros, homens livres."

Nosso caráter, enquanto indivíduos e enquanto povo, forma-se nos grandes embates, que se prolongam, na verdade, através dos séculos. Não basta derrotarmos Serra e o projeto neoliberal este ano. Teremos que derrotá-lo continuamente, no dia a dia, através de muitas décadas por vir. Esta é, aliás, a principal lição que tiro desta não-vitória no primeiro turno. A guerra é nossa vida, nossa realidade, nosso cotidiano. E o que fará de alguns escravos, e outros, homens livres, não é o resultado parcial das batalhas, mas o exercício da luta. Que toquem, portanto, as trombetas - os gregos lutarão até a morte!

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PS: O maior vacilo do governo Lula foi a demora na implantação do Plano Nacional de Banda Larga. Eu sou uma vítima direta, porque tenho gasto verdadeiras fortunas para usar a rede. Ontem à noite fiquei sem internet no momento mais crítico. E agora gasto meus últimos tostões numa Lan House. Para continuar trabalhando, apelo para a colaboração de vocês, na forma de doações (dados bancários na página da Carta Diária) ou assinatura da Carta Diária. Esta é a única coisa que me deixa realmente triste: ficar sem internet. Obrigado. Meu email está aqui.

# Segunda-feira, Outubro 04, 2010

Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)

Miguel, "a dor foi funda, porque a esperança foi grande". Não me lembro da autoria. (Leda Ribeiro)

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