Agência Estado
No segundo debate entre os presidenciáveis Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) desde o primeiro turno, os candidatos deixaram de lado temas como aborto e religião e colocaram São Paulo no centro das discussões. A petista e o tucano debateram a educação no Estado, políticas para o tratamento de drogados e até iniciativas do governo paulista relacionadas à compra de uma distribuidora de gás pela Petrobras.
Os dois também tiveram de dar explicações sobre pessoas próximas suspeitas de irregularidades – Erenice Guerra, no caso de Dilma, e Paulo Vieira de Souza, no caso de Serra. A empresa que provocou controvérsia é a Gas Brasiliano, que distribui gás no interior de São Paulo. Dilma acusou o governo paulista de tentar impedir que a Petrobras compre a distribuidora da multinacional italiana ENI.
Segundo a candidata do PT, que atribui ao adversário a intenção de privatizar a Petrobras e o pré-sal, o governo de São Paulo tem feito gestões para impedir que o Cade, órgão regulador do Ministério da Justiça, dê aval ao acordo fechado em maio entre a estatal brasileira e a ENI. Isso, de acordo com Dilma, favoreceria uma empresa japonesa concorrente da Petrobras.
Serra acusou o governo federal de ter promovido um loteamento político na Petrobras e em empresas ligadas a ela. Insinuou que até o ex-presidente Fernando Collor teria influência na estatal. O tucano também citou os Correios como exemplo de empresa em que vigora a lógica do rateio político.
São Paulo voltou ao centro do debate quando Dilma questionou Serra por supostos resultados fracos da rede pública estadual de ensino. O tucano afirmou que exames de avaliação feitos pelo próprio governo federal mostram que o Estado foi um dos que mais avançaram na educação pública. Na tréplica, a petista disse que as boas notas de São Paulo se deviam à metodologia do exame, que dá peso alto à aprovação dos alunos. “Aqui há aprovação automática”, observou.
Visão ideológica divide candidatos
Único senão do debate são as acusações, que confundem e desestimulam o eleitorado
Análise: Marcus Figueiredo – O Estado SP
Em relação aos debates anteriores, o encontro de domingo, 17, foi muito melhor. Muito melhor porque os dois candidatos debateram questões relevantes em relação ao futuro, principalmente em relação à Petrobrás e a outras estatais estratégicas. Portanto os eleitores vão poder decidir com mais confiança entre os dois candidatos.
Debateram também em detalhes questões estratégicas, como a infraestrutura do País. Seja quem ganhar, Dilma Rousseff ou José Serra, se cumprirem os projetos que estão apresentando, o Brasil ficará bem melhor.
O que divide os dois candidatos é uma visão ideológica sobre o papel do Estado na promoção do desenvolvimento. Enquanto a aliança tucanos e democratas dá mais força ao mercado, a aliança do PT com os partidos de esquerda dá mais ênfase ao projeto do “welfare state”, ou seja, a uma visão mais social-democrata.
O único senão do debate são as acusações. Isso, para mim, confunde e desestimula o eleitorado. E o resultado é imprevisível, porque o “bate-boca” prejudica os dois candidatos.
Tema privatização requentou debate
O que mais esquentou o confronto entre os candidatos foram as perguntas das jornalistas
Análise: David Fleischer – O Estado SP
O formato do debate de domingo, 17, deu um pouco mais de liberdade para os candidatos, sem a definição prévia de temas a serem discutidos. Mas o que mais esquentou o confronto foram as perguntas das jornalistas, direto no fígado de cada um.
José Serra saiu pela tangente ao ser questionado sobre o caso do ex-diretor da Dersa Paulo Souza, criticando o fato de o apelido “Paulo Preto” ser racista. E também não explicou direito as denúncias feitas na imprensa sobre a nomeação da filha do ex-diretor da Dersa. A pergunta foi bem forte. Questionada sobre a ex-ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra, Dilma enfrentou a pergunta, mas jogou o caso para a Polícia Federal. Não fugiu totalmente da raia.
Achei o debate morno, não houve ataques frontais entre os dois candidatos. Ambos morrem de medo de aumentar a taxa de rejeição e foram aconselhados pelos marqueteiros a não fazer ataques contundentes. A questão da privatização foi novamente levantada, mas requentou o debate, porque Lula já havia usado isso sobre Geraldo Alckmin em 2006.
Sem derrotados, modelo se esgotou
‘Comparação de biografias’ soa arrogante e ‘paulistocêntrica’ para o conjunto do País
Análise: Carlos Melo – O Estado SP
Nos primeiros blocos, Dilma Rousseff insistiu no tema “privatização”, que deveria ser página virada – mas, aborto e religião também. No entanto, revelou-se sua intenção de vincular o tema ao pré-sal, bandeira empunhada como solução para todos os males. José Serra se viu preso a justificativas por mais tempo do que seria razoável. O tucano focou em suas realizações. Insistiu no que vai se constituindo como bordão: “fiz isto, fiz aquilo!”. A “comparação de biografias” soa arrogante e “paulistocêntrica” para o conjunto do País.
A lição básica deste e dos debates anteriores é que o modelo se esgotou: não se discute com profundidade, candidatos respondem o que bem entendem e são ágeis em acusar o adversário de não ter respondido. Estabelecem vetos cruzados e pactos tácitos. Erenice e Paulo Preto surgiram somente pelas vozes das jornalistas. A petista pareceu melhor treinada neste ponto. O tucano justificou seu “esquecimento” em relação ao assessor com uma esfarrapada tangente sobre racismo: o “preto” de Paulo. Ninguém saiu definitivamente derrotado, mas não foi proveitoso.
Presidenciáveis diminuem tom agressivo
Dilma tentou colar em Serra o rótulo de “privatista”, e tucano acusou petista de “antipaulista”
FOLHA SP
Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) mudaram de estratégia e diminuíram o tom agressivo ontem no debate Folha/RedeTV!, mas não escaparam de ter de responder sobre acusações contra ex-assessores.
Dilma deixou de lado a agressividade do debate anterior, na Rede Bandeirantes, e tentou colar em Serra o rótulo de “privatista”. Ela insistiu em comparar o governo Fernando Henrique Cardoso ao de Lula e em criticar a gestão tucana em São Paulo.
A princípio na defensiva pela necessidade de negar que vá privatizar empresas se eleito, Serra contra-atacou ao rotular Dilma de “antipaulista”, pelas reiteradas críticas ao governo do Estado. Ela acusou o golpe e por várias vezes disse que não tinha nada contra o “povo paulista”, mas contra gestões do PSDB.
Dilma e Serra foram questionados sobre corrupção apenas nas intervenções das jornalistas Renata Lo Prete, editora do Painel, e Patrícia Zorzan, da RedeTV!
O tucano negou ter relação com o ex-diretor da Dersa Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto. Disse desconhecer desvio na campanha e que, se tivesse havido, ele seria “vítima”: “Não tem nada a ver isso com negar mensalão, negar desvio na Casa Civil”.
Dilma foi questionada sobre tráfico de influência na Casa Civil, que derrubou Erenice Guerra. “A Erenice cometeu um erro. Eu sou contra contratação de parentes.”
O tema da descriminalização do aborto não foi debatido. Serra e Dilma também não falaram da quebra do sigilo fiscal de tucanos em agências da Receita Federal.
Já Serra concentrou ataques na área da segurança e tentou usar as perguntas sobre privatização para criticar o aparelhamento de estatais.
Dilma tentou surpreender o adversário com uma pergunta sobre a venda da empresa privada Gas Brasiliano.
A petista acusou o tucano, quando governador de São Paulo, de tentar impedir que a Petrobras comprasse a empresa, dando preferência a uma concorrente japonesa: “Prefere-se uma empresa japonesa, privada, e falam que gostam da Petrobras”.
“A candidata na TV mente o tempo inteiro sobre a Petrobras”, rebateu Serra.
No segundo bloco, Dilma insistiu no tema, sugerindo que Serra poderia privatizar o pré-sal. O tucano devolveu citando “loteamento político” de estatais e sugeriu que Fernando Collor (PTB) ficaria com a BR Distribuidora em eventual governo dela.
O tucano também defendeu a privatização da Telebrás. “Hoje, um mecânico, um marceneiro, podem receber telefonema enquanto estão trabalhando”, disse.
Serra rotulou a adversária como antipaulista. “Dá a impressão que a Dilma é candidata ao governo de São Paulo”. Dilma rebateu: “O senhor fica um pouco pretensioso. Não pode se comparar com o povo de São Paulo”.
O tucano disse que drogas chegam ao país porque o policiamento de fronteiras é ineficaz. Ela respondeu citando projeto da PF de usar aviões não tripulados e citou a cracolândia de SP: “Tenho um compromisso que é livrar São Paulo do PCC”, disse.
No final, Dilma citou Lula e disse que “a esperança vai vencer o ódio”, e Serra lembrou sua biografia.
Tucanos de SP tentaram barrar venda a estatal
Folha SP
A Petrobras só conseguiu comprar a Gas Brasiliano em maio último por US$ 250 milhões, após 11 anos de resistência dos governos tucanos paulistas, que não queriam a estatal no controle da distribuição de gás em SP.
Em 1999, a Petrobras tentou comprar a Comgás, apesar do veto à participação majoritária de estatais no leilão da distribuidora.
Na época, o então governador Mário Covas (PSDB) ligou para o então presidente FHC, que proibiu a Petrobras de comprar a empresa, vendida a um consórcio liderado pela Shell.
Foi só em 2007 que o artigo que proibia a participação de estatais na compra de concessionárias foi revogado por uma lei de um deputado do PT.
Com isso, a Petrobras voltou seu foco para a Gas Brasiliano, empresa criada em 1999 que ficou com a distribuição de gás no noroeste do Estado, e conseguiu comprá-la, apesar da resistência do PSDB.
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Também do Blog do Favre.
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