Parte dos opositores rejeitou ajuda norte-americana, por considerá-la "insultante"
Agencia Efe |
O governo dos Estados
Unidos financiou a oposição ao regime de Bashir Assad por meio da
campanha “Anunciando a Democracia Síria”. A revelação é de um telegrama
de 27 de fevereiro de 2006, vazado pelo site Wikileaks em 30 de agosto
de 2011.
No documento, enviado
por Stephen Seche, diplomata na embaixada em Damasco, o governo dos EUA
afirma que a campanha contra o presidente sírio inicialmente provocou
reações contraditórias entre os membros da oposição local.
Enquanto
alguns políticos oposicionistas enxergaram a situação com mais
entusiasmo, outros consideraram a oferta "insultante". No despacho, o
diplomata relata a reação de um opositor e ex-preso político, que teria
acusado os EUA de quererem apenas instrumentos políticos e não parceiros
realmente dispostos a estabelecer democracias no Oriente Médio.
Com
o passar do tempo, no entanto, a maior parte dos opositores passou a
ver com bons olhos a ajuda norte-americana, um sinal de que Washington
“não queria acordo” com o regime de Assad. Eles também deram sugestões
de como os EUA poderiam ajudar os opositores
Basil
Dahdouh, deputado independente, achava que a oferta de dinheiro era um
importante sinal do apoio dos EUA à oposição na Síria. Era um indicativo
que os EUA estavam dispostos a cooperar com a queda do regime de Assad.
Entretanto, Dahdouh criticou o modo como a oferta foi feita:
“burocrática, legalista e pública” demais. Isso poderia enfraquecer a
iniciativa, de acordo com o parlamentar.
Em
vez disso, Bahdouh sugeriu ajuda financeira às famílias de presos
políticos. De acordo com o parlamentar, algumas centenas de dólares
mensais evitariam o empobrecimento dessas famílias. O parlamentar não
disse como seria possível implementar um programa dessa natureza, mas
sugeriu que o dinheiro poderia ser entregue aos familiares dos
dissidentes pelo Comitê Internacional da Cruz Vermelha.
Bolsas
de estudo, programas culturais, prêmios e outras iniciativas poderiam
ser utilizadas para enviar dinheiro à oposição síria. O parlamentar
também sugere um “centro de traduções”, no qual seria dada voz à
imprensa alternativa, crítica de Assad. O objetivo, segundo Bahdouh, era
remeter o dinheiro “sem gerar controvérsias”.
Reação
Uma
das mais violentas reações contra a ajuda americana veio do dissidente
Yassin Haj Salleh, preso pelo regime de Assad por 18 anos. Ele
considerou a proposta insultante e pediu que os EUA “parassem de
negociar com os sírios desse modo desrespeitoso”. Para Salleh, os EUA
deveriam apoiar não só a democracia na Síria, mas também o governo
palestino eleito democraticamente do partido Hamas.
Para
Salleh, a postura dos EUA é incoerente: “Vocês cortam milhões de
dólares em ajuda à Palestina e oferecem centavos para estimular a
democracia na Síria”, criticou o dissidente. Segundo ele, os EUA são
hostis à qualquer ideia de real independência árabe, mesmo nos dias de
hoje: “Vocês não querem parceiros, querem instrumentos”.
A
reação pública à ajuda também foi dividida. Os nacionalistas mais
tradicionais rechaçaram qualquer ajuda e as outras reações continham
mais nuances.
Hassan Abdul Azim,
porta-voz do Grupo Democrático Nacional, coalizão de cinco partidos da
oposição, constituído de pan-arabistas e ex-comunistas, disse que seu
grupo recusaria qualquer “financiamento ocidental” e puniria membros que
aceitassem aquele dinheiro.
Para
o ativista Michel Kilo, os problemas da oposição síria não são
financeiros, mas políticos. Segundo Kilo, a principal objeção ao
dinheiro americano é a política dos EUA para o Oriente Médio e para a
Palestina, finaliza o diplomata americano.
No Opera Mundi
Nenhum comentário:
Postar um comentário