Enquanto
na Bahia e no Rio de Janeiro, policiais militares e bombeiros lutam
por salários minimamente dignos para as necessidades de suas famílias,
provocando uma cobertura da mídia de mercado tendenciosa e objetivando
visivelmente a queimação do movimento, pelo mundo afora soam os
tambores da guerra.
Caberiam
vários questionamentos sobre os acontecimentos, como, por exemplo, o
papel da Justiça autorizando as gravações telefônicas que são
divulgadas pelos telejornais. É algo compatível com a democracia? Os
advogados das lideranças grampeadas entraram com um pedido de resposta e
requisitaram as gravações porque garantem terem sido as mesmas
editadas. Alguém foi informado a respeito?
E
é justo mandar preso para Bangu 1 (presídio de segurança máxima)
líderes do movimento grevista? E o Governador Sergio Cabral mandou
prender 123 salva-vidas que aderiram ao movimento. É assim que os
políticos gênero Cabral tratam movimentos que se mobilizam por salários
decentes tendo a mídia de mercado ao seu lado. Tempos atrás reprimiu
com violência professores e considerou médicos do Estado “vagabundos”.
Em
São José dos Campos a mesma mídia também se comporta de forma
tendenciosa e silencia sobre os desdobramentos posteriores à expulsão de
famílias pobres que viviam há anos nas terras reivindicadas pelo
especulador Naji Nahas, que teve o respaldo da Justiça e do governo do
Estado de São Paulo.
Além
de não sair uma linha sobre o protesto do jornalista Pedro Rios, que
ficou em greve de fome na porta da TV Globo, paira total silêncio sobre
o que está acontecendo com as famílias reprimidas e desalojadas pela
Polícia Militar de São Paulo, cujo comandante em chefe é o governador
Geraldo Alckmin, do PSDB, que já quis ser até Presidente da República,
mas foi repudiado pelo povo.
A
greve da PM, Polícia Civil e dos bombeiros, já encerrada, foi justa e
o que se espera é que de agora em diante os efetivos das respectivas
corporações mudem de postura, ou seja, não obedeçam a ordens ao serem
convocados por Governadores ou Secretários de Segurança para reprimir
os movimentos populares. Os grevistas de hoje não devem esquecer que os
protestos são tão justos quanto as suas próprias reivindicações.
Então, qual o motivo para reprimir o povo a não ser ordens superiores
absurdas?
No
mundo, os tambores da guerra já se fazem sentir. Israel agora espera o
sinal verde dos Estados Unidos para bombardear o Irã, se é que já não
foi dado. Os principais canais de televisão estadunidenses já se
preparam para a cobertura da guerra, segundo informações procedentes do
Oriente Médio, reforçando por lá seus modernos aparelhos tecnológicos
de transmissão.
No
momento há uma espécie de medição de forças. Resta saber quem está
blefando neste rufar dos tambores. Os Estados Unidos (via Israel) vão
querer pagar para ver o que acontecerá pós- confronto? O Irã tem mesmo
poder de fogo para retaliar quem o agredir? Terá força para fechar o
Estreito de Ormuz, impedindo assim o fluxo de petróleo para o Ocidente?
Será
que quem vai bombardear um alvo estrangeiro anuncia pelos quatro
cantos que vai fazer isso? Ou será apenas mais uma estratégia visando
dobrar o Irã?
Outro
país que se encontra sob fogo cruzado do Ocidente é a Síria. China e
Rússia decidiram vetar no Conselho de Segurança das Nações Unidas
resolução pelo afastamento de Hafez Assad. Os dois países parece que
aprenderam a lição líbia. Na ocasião, China e Rússia preferiram
abster-se o que permitiu o sinal verde para a zona de exclusão aérea e
os bombardeios da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN).
Mas
os jornalões não pensam assim, como deram a entender em seus
editoriais contra o governo sírio. A secretária de Estado Hillary
Clinton também ficou furiosa e repetiu a terminologia da época da Guerra
Fria para criticar a Rússia e a China. O mais curioso da história é
que Clinton repete os argumentos segundo os quais a Síria precisa de
democracia.
A cobertura dos acontecimentos no país árabe vem sendo questionada. A
União de Jornalistas Sírios (UPS), por exemplo, denunciou as
falsificações e manipulações de fatos que os veículos Al-Jazeera e
al-Arabiya estão fazendo na cobertura dos acontecimentos no país,
demonstrando seu envolvimento na campanha política contra a Síria. A UPS
exortou ainda os meios de imprensa árabes e internacionais a
verificarem as informações antes de transmiti-las e advertiu que a
Al-Jazeera e a al-Arabiya "abandonaram toda moral e princípios
jornalísticos".
O
governo sírio anunciou a prisão de um oficial militar da Arábia
Saudita em um dos protestos da oposição contra Assad. Se as agências
internacionais de notícias divulgaram essa informação, os jornalões e
telejornalões ignoraram.
A
Arábia Saudita também parece estar preocupada com o estabelecimento da
democracia na Síria. Mas só que a monarquia saudita não quer o mesmo
para as terras que considera de sua propriedade, ou seja, a própria
Arábia Saudita, onde mulher é proibida de dirigir carros.
O
Oriente Médio, portanto, continua um barril de pólvora e uma guerra
contra o Irã provavelmente terá reflexos imediatos em todo mundo,
sobretudo na região. No Líbano, segundo o professor Luis Alberto Moniz
Bandeira, o Hezbollah tem apontado para Israel cerca de 10 mil foguetes
escondidos em residências e podem ser acionados a qualquer momento. O
premier Benyamin Netanyahu vai querer pagar para ver?
Greve
da PM, rufar dos tambores de guerra no Oriente Médio e os lamentáveis
acontecimentos na Síria podem em princípio ser temas distantes um do
outro, mas o que os une é o tipo de cobertura que vem sendo feito pela
mídia de mercado, totalmente parcial e manipulador.
Possivelmente
quem tem opinião formada pelos referidos veículos impressos ou
eletrônicos, considerará estas reflexões fora de propósito. É natural
que pense assim porque não teve acesso a outro tipo de informação se
não o manipulado.
Em
tempo: do Afeganistão vem a informação segundo a qual bombardeio da
Organização do Atlântico Norte na província oriental de Kapisa provocou
a morte de seis crianças. Será que as TVs Globo, Band, Record etc
noticiaram o fato?
*Mário Augusto Jakobskind.
É correspondente no Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi
colaborador do Pasquim, repórter da Folha de São Paulo e editor
internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o Conselho Editorial do
seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros, de América que
não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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