domingo, 26 de fevereiro de 2012

O Fator Serra (ou... a vida de um político autista)


Serra é candidato à Prefeitura de São Paulo. Mas impõe, como sempre, condições duras.
A mais importante é a que se refere ao arco de alianças e controle absoluto sobre a campanha eleitoral, situação que aborreceu muitos tucanos durante as eleições presidenciais passadas. Mas Serra continua com o estilo janista de aparecer a qualquer custo, mesmo que alimentando ódio e desconfiança entre seus próprios pares. É um político autista, uma evidente contradição que não abala seu roteiro. Outro problema que cria saia justa entre tucanos (ainda que menor) é a desmoralização das prévias anunciadas pelo partido. Já se estuda até mesmo uma saída jurídica para este imbroglio, já que o prazo de inscrição para a participação nas prévias que ocorrerão dia 4 de março já se esgotou. Uma possibilidade é a participação de Serra e desistência dos outros (o que dificilmente ocorrerá nos casos de José Aníbal e Ricardo Trípoli). Outra saída seria o adiamento da disputa por duas semanas. Mas, para um autista, trata-se de uma mera formalidade.
Serra candidato, quais seriam as possibilidades futuras?
Segundo as pesquisas divulgadas no final do ano passado, Serra possui o maior índice de intenção de votos (18%) mas a maior rejeição (35%). Tem, ainda, o peso da popularidade de Lula (segundo o IBOPE, metade do eleitorado paulistano votará em quem Lula indicar) como obstáculo. Assim, é plausível cogitar como válidas as hipóteses de vitória e derrota em outubro.
No caso de vitória de Serra em outubro, o que ocorreria no PSDB?
Hipótese 01: disputa as eleições presidenciais de 2014. Seria a cartada final, a mais arriscada da carreira de Serra que, possivelmente, criaria uma guerra entre tucanos. Frágil em seu próprio partido, caminhando ainda mais confiante para o discurso conservador, facilitaria a vida do lulismo. Não acredito, entretanto, que a saída da prefeitura para disputar as eleições presidenciais arranharia a imagem de Serra junto ao eleitorado paulistano. Os seus eleitores sabem desta possibilidade e o apóiam por ser anti-lulista.
Hipótese 02: não sai em 2014. Carreira eleitoral encerrada, mas peso político valorizado. A prefeitura com maior orçamento do país nas suas mãos. Vai impor grande pressão e desgaste ao candidato Aécio Neves. Obviamente controlará a campanha no centro-sul, justamente onde tucanos possuem mais votos. Se Aécio ganha, terá Serra como sombra permanente, até mesmo para definir ministério. Alckmin terá que engolir.
Para o lulismo, este é o cenário de festa. Serra criaria uma divisão interna entre tucanos e promoveria a fusão com DEM e, possivelmente, com PPS. Algo que já tateou algumas vezes.
E, em caso de derrota de Serra?
Hipótese 01: Serra teria encerrado sua carreira política, saindo pelas portas dos fundos. Tentará ter alguma influência, mas obviamente não terá nem de longe o cacife de FHC, para citar um ex-aliado tucano. Terá Alckmin comandando, com Aécio Neves, as eleições presidenciais.
Hipótese 02: Serra se filia ao PPS. E tenta atrair o PV. Mesmo assim, será líder nanico de partidos sem expressão real. O PSDB lamentará em público e festejará em encontros privados. Tucanos alimentarão a grande imprensa com vários casos relativos ao estilo Serra de fazer política.
Para o lulismo, este é um cenário promissor, mas teria que aguardar a recomposição do PSDB que poderia sair desta "derrota" mais renovado para os olhos do eleitor. Contudo, tal renovação poderia jogar o discurso do PSDB mais próximo do lulismo, já que o serrismo vem se aproximando rapidamente da lógica conservadora para consolidar um eleitorado cativo.
No Rudá Ricci

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