JOSÉ SERRA pode decidir-se pela candidatura a prefeito, mas, todos
sabemos, ser prefeito não é o seu desejo. Se efetivada tal decisão, uma
de duas: ou será por Serra adotar a ideia de que não restam perspectivas
ao seu notório desejo, ou será para tornar-se, como já se deu uma vez e
se repetiu quando governador, um prefeito com a cabeça e os atos
voltados para o passo seguinte do seu projeto pessoal.
Nos dois casos, é Serra em ação contra Serra. Assim como foi quando
prefeito só para ser governador e governador só para o que era sua
convicção de ocupar a Presidência. E com este desvio, mais do que
qualquer dos outros fatores preliminares, José Serra fez o alicerce
básico de sua derrota para Lula.
Pelo que se convencionou considerar um bom prefeito, Serra não foi bom
prefeito de São Paulo. Uma passagem veloz, bem ostensivos o desinteresse
e o desajuste.
Pelos mesmos critérios, e para quem -ele diz- "preparou-se a vida toda"
para exercer o poder, Serra não foi bom governador, não fez nem pensou
para o Estado o mínimo necessário a deixar memória. Logo, nem o mínimo
para projetar-se no país como o administrador competente, inovador e com
visão clara dos problemas.
A imagem do grande governante é que seria a sua plataforma eficiente,
capaz de contrapor-se ao esperado petismo de Lula e, quando o adversário
surgiu com outra caracterização, à simpática enrolação do "Lulinha, paz
e amor".
Bons governantes só se mostram no poder, não antes. Ser bom ou ruim de
pesquisa nada assegura, por antecipação, sobre o futuro governante. Essa
é uma das grandes falhas do sistema eleitoral das democracias à maneira
ocidental: o poder não é entregue necessariamente ao mais apto para
exercê-lo. No caso de Serra, as experiências anteriores de governança
não justificariam, em princípio, que retirasse a oportunidade à
renovação, para a qual o seu próprio partido oferece vários
pretendentes.
Mas Serra, outra vez em princípio, tem potencial para ser o prefeito que
foi esperado dele, sem correspondência. Com a condição, porém, de que
queira ser prefeito para assumir, não uma escada, senão a mais rica
cidade do país à espera ainda de que sua riqueza se transforme em
bem-estar da população. A não ser assim, não valeria a pena Serra chegar
à prefeitura. E nem mesmo sair do seu balancear hamletiano.
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