O Jurong Aracruz, no Espírito Santo: o navio sonda nasce junto com o estaleiro
O mercado de exploração de petróleo não é igual a uma feira livre,
onde você pode ficar rodando e escolhendo, na hora em que quiser, a
melhor oferta de preço.
Os contratos de concessão, que vigem na maior parte do mundo, têm
datas, prazos que, se não cumpridos, acarretam a perda dos direitos
exploratórios.
E os equipamentos são altamente especializados e caríssimos.
O aluguel de uma sonda da águas ultra profundas, no mercado
“varejista” – contratos bem negociados ficam um pouco abaixo disso –
anda na faixa de US$ 500 mil por dia (por dia, é isso mesmo).
Em 2007 e 2008 a Petrobras teve de fazer malabarismo para colocar
sondas em todas as áreas que detinha e por pouco não perde os direitos
exploratórios de uma das áreas do pré-sal, o campo de Carioca.
A opção, corretíssima, da empresa foi estimular a fabricação aqui
destas sondas. Mas enfrentamos o problema de operação plena dos
estaleiros e do ineditismo desta produção.
A solução foi a própria Petrobras coordenar a formação de uma empresa
com este fim, a Sete Brasil, reunindo bancos e fundos de investimento.
Foi ela a contratada para fazer as sete primeiras sondas de um lote
total de 28 unidades, e concorreu às demais 21, no finalzinho do ano
passado, numa licitação que a Petrobras suspendeu à espera de uma baixa
de preços.
Mas as sondas têm de sair e vão sair.
Mesmo sem a garantia firmada do contrato, a Sete Brasil contratou uma
sonda ao estaleiro Jurong Aracruz, que está sendo construído no
Espírito Santo, ainda em fase inicial.
Baseado num desenho inédito, o navio-sonda poderá operar em lâmina
d´água de mais de 3,3 mil metros e tem capacidade para perfurar mais
outros 9 mil metros no subsolo.O índice de nacionalização deverá ser
superior a 60%.
Se a Petrobras não tivesse o peso que tem na empresa, ela firmaria um
contrato assim, de quase US$ 800 milhões? E se a sonda não começasse a
ser projetada agora, se as encomendas de partes e equipamentos não
pudesse começar a ser feita, se os problemas de um primeiro produto não
começassem a ser enfrentados já, haveira prazo para que a sonda entrasse
em operação no calendário-limite que tem a Petrobras?
Um empresa de petróleo com as perspectivas que tem a Petrobras
precisa deste poder, porque é dele que se origina a pressão que ela
precisa fazer sobre seus fornecedores. Se a Sete Brasil bancou os
riscos, é porque sabe que há mercado.
A Petrobras tinha apenas duas sondas de águas ultraprofundas em 2007,
hoje tem 25, terá 34 dentro de dois anos, quando- aí, sim – entrarão em
operação as sondas feitas no Brasil. Em 202o, quando o contrato estiver
concluído, serão 65, um terço delas fabricado aqui.
Sem o novo modelo de partilha, sem a garantia de operar todos os
nossos poços do pré-sal pela petroleira brasileira, alguém ia meter o
peito na correnteza e produzir este bilionário equipamento aqui,
turbinando a economia, a indústria, a tecnologia e o emprego?
Imprudência? Imprudência é um gigante que aceita rastejar.
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