As
prévias partidárias estão na moda. Nos Estados Unidos, os
pré-candidatos a presidente do Partido Republicano se engalfinham. No
Brasil, o PSDB paulista anda às voltas com elas em diversas cidades,
tentando fazê-las para escolher seus candidatos a prefeito.
Em
São Paulo, a discussão é especialmente relevante na capital, pelo
motivo óbvio de ser a mais importante cidade do estado e a maior do
Brasil. A disputa pela sua prefeitura sempre desperta interesse
nacional, apesar de ter consequências tênues nas eleições presidenciais -
e mesmo nas estaduais - seguintes.
Teremos,
este ano, uma eleição aberta na cidade, sem medalhões de qualquer lado.
No PT, por escolha do Diretório Municipal, que acatou a orientação de
Lula e sua indicação de Fernando Haddad. No PSDB, pelo esvaziamento de
Serra, que fez com que ele mesmo preferisse não correr o risco de uma
derrota.
O prefeito vai mal de
imagem - aliás, muito mal - e tampouco tem um nome forte para lançar.
Kassab terminou 2011 como vitorioso no front político, depois que seu
PSD cresceu além do que imaginava, mas amargando índices fortemente
negativos de avaliação. A ideia de continuidade, bandeira inevitável de
um candidato ligado a ele, tem poucos adeptos.
Nada
mais natural que o PSDB procure novos rostos. E existem vários em
condições de representá-lo em outubro. Mais novos e mais velhos; mais
ligados a Alckmin ou a Serra; com atuação na prefeitura ou no governo do
estado; com e sem experiência no Legislativo.
Em
condições como essa, no mundo inteiro, é comum que os partidos façam
prévias. É o que está acontecendo, nos Estados Unidos, com os
republicanos. São, atualmente, quatro candidatos, dentre os quais sairá o
adversário de Obama.
Lá, é um
processo totalmente institucionalizado, tão antigo quanto a democracia -
mesmo que seja confuso e misterioso para os não-iniciados.
Aqui,
o problema é que nossa legislação a respeito das prévias é simples, mas
restritiva. E nossos partidos, com exceção do PT, não têm experiência
com elas.
Falar em prévias, no Brasil, é mais fácil que realizá-las. Como está vendo o PSDB de São Paulo.
A
legislação admite apenas prévias “fechadas”, em que só filiados podem
votar. E aí começam os problemas. De um lado, a vasta maioria dos
eleitores identificados com o PSDB não está inscrita, pois filiar-se a
um partido - a qualquer partido - não é comum em nossa cultura política.
De outro, uma proporção nada irrelevante dos que preencheram ficha de
inscrição não tem vínculo com ele.
Nem
o PSDB sabe, com certeza, quantos são seus filiados em São Paulo. Até
2009, trabalhava-se com uma estimativa de 40 mil, quando Serra,
preocupado com a movimentação de Aécio em favor de prévias na eleição do
ano seguinte, mandou fazer uma recontagem. O número caiu pela metade,
mas continuava incerto.
O partido
contratou, então, uma empresa de telemarketing para checar seu
cadastro. Que, até agora, a um mês da data marcada para que as prévias
aconteçam, só conseguiu contatar 8,5 mil pessoas.
Quantos
eleitores tucanos haverá em São Paulo? Difícil responder, mas sabemos,
por exemplo, que Serra teve 3,4 milhões de votos na cidade em 2010. Que
Alckmin teve 3,2 milhões para governador, no mesmo ano.
Embora
imensa, não seria tão grave a discrepância entre eleitores e filiados
(que são, somente, 0,003% dos primeiros) se esses fossem uma espécie de
“vanguarda tucana”, cidadãos de tal maneira motivados e dispostos a
participar que seria natural que sua decisão fosse acolhida pelos
demais.
Quando, porém, se vai à
procura dos filiados ao PSDB, o que se encontra, em muitos casos - como
registrou a reportagem de um dos mais importantes jornais paulistas -,
são pessoas que nem sabiam que o eram, pois acreditavam que haviam
“preenchido fichas” para se cadastrar no Minha Casa, Minha Vida, ou para
receber leite em programas estaduais. Que não têm qualquer intenção de
se envolver nas questões do partido. Que foram arregimentadas por cabos
eleitorais ou filiadas por amigos, algumas até simpatizantes do PT.
É bom e salutar que os partidos façam prévias. Elas oxigenam a vida partidária e os fortalecem.
Mas
nossos partidos têm que fazer muito para que elas sejam mais que uma
ficção. Partidos que nasceram na elite - e permaneceram sendo
organizações de quadros - precisam se reinventar se quiserem se abrir à
efetiva participação popular.
Marcos Coimbra, sociólogo e presidente do Instituto Vox Populi
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