quarta-feira, 20 de outubro de 2010
A melhor maneira de entender o rumo da campanha de José Serra é observar as perguntas que lhe são dirigidas em entrevistas e debates.Serra foi ao "Jornal Nacional" num instante em que o noticiário está impregnado de apreensões ligadas ao comportamento do câmbio.
Economista, o candidato talvez tivesse muito a dizer sobre a matéria. Mas a cotação do Real frente ao dólar não fez parte da pauta.Serra foi inquirido sobre um tema que ajudou a converter em tópico dominante da sucessão de 2010: a fusão entre religião e política.
A mistura não deveria ser evitada? Em desarmonia com os fatos, Serra disse não ter explorado o tema. Atribuiu o fenômeno à rival Dilma Rousseff e ao PT.
Aborto? "Sou contra". Mas "nunca me passou pela cabeça transformar isso no centro da campanha", disse Serra. Pôs-se a realçar as diferenças que o distinguem de Dilma.Apresentou-se como "pessoa religiosa", frequentador de igrejas, usuário da expressão "se Deus quiser".Soou como candidato a bispo, não a presidente.
A entrevista roçou a economia num único instante. E não foi para que Serra discorresse sobre planos macroeconômicos. Ao contrário.O candidato foi instado a comentar outra excentricidade de sua propaganda: a agenda populista. Como fará para cumprir as promessas?
Simulando rigor técnico, Serra orçou o mínimo de R$ 600, os 10% para aposentados e o 13º do Bolsa Família em 1% do Orçamento da União. Coisa factível.Foi confrontado: se fosse tão fácil, Lula não teria feito? "Eles têm outras prioridades". De resto, há "desperdício" e "desvios".Vencida a pauta religioso-populista, Serra foi levado ao caso Paulo "não se larga um líder ferido na estrada" Preto.Disse ter negado "há muito tempo" o sumiço de verbas de sua campanha.
A notícia fora às páginas de "IstoÉ" em agosto. E o tucanato fingiu-se de morto.Deixou voando, sem desmentidos, uma encrenca que agora lhe chega na forma de uma dessas perguntas que ajudam a entender os rumos de sua campanha.Josias de Souza na Folha
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