terça-feira, 26 de outubro de 2010
A candidata Dilma Rousseff (PT) vai encerrar sua campanha num ato público sentimental em Belo Horizonte, reafirmando sua identidade mineira. É um ato simbólico, mas também de grande significado político-eleitoral: não obstante previsões, ela foi derrotada pela oposicionista Marina Silva na capital de seu estado. Como será em Minas que se decidirá o pleito, é prudente reforçar-se no reduto principal de seu mais temido adversário, o ex-governador Aécio Neves (PSDB), que joga com todas suas forças para se colocar à sua frente com planos de enfrentá-la no futuro, impedindo sua reeleição em 2014. Com isto, além do valor intrínseco do resultado eleitoral de domingo (31), a eleição de Belo Horizonte sinaliza o vigor da oposição que Dilma terá de enfrentar a partir de primeiro de janeiro.
Hoje em dia todos se perguntam até que ponto o posicionamento de Aécio Neves, no primeiro turno, foi uma manobra calculada. Ele e seu grupo operaram abertamente junto a prefeitos da oposição (local) nas regiões mais pobres de Minas Gerais, insuflando ou comprando a lealdade desses políticos para a fórmula “Dilmasia”, uma composição dos nomes da candidata petista, oficialmente sua adversária, com Antônio Anastasia, candidato tucano. Isto se confirmou nos resultados do primeiro turno. A traição dos prefeitos petistas e peemedebistas foi o diferencial que levou a chapa da coalizão do presidente Lula à derrota. Vitória de Aécio. Saiu consagrado política e eleitoralmente das urnas de 3 de outubro, pois sua artimanha prevaleceu e ele impôs uma derrota aos adversários, elegendo seu governador, senador, o ex-presidente Itamar Franco (PPS), derrotando o candidato petista Fernando Pimentel, que era acusado de apoiar a chapa Dilmasia, contando que Aécio abriria para si a segunda vaga na Câmara Alta, o que não ocorreu.
Agora, neste segundo turno, Aécio joga todas suas forças numa mesma candidatura oficial de seu partido, que ele relegara a segundo plano na primeira fase. Certo ou errado? Admite-se que tenha ido passo a passo. Primeiro, compondo o “Dilmasia”, ele assegurou a vitória estadual. Entretanto, será uma vitória de Pirro se ele não apresentar um bom resultado para José Serra neste episódio final.
Mesmo que Serra não vença no País, Aécio terá de ganhar a eleição em Minas Gerais para se credenciar à indicação tucana em 2014. Assim terá provado que não traiu seus correligionários, mas que o “Dilmasia” foi uma manobra estratégica para reforçar mais ainda sua posição neste segundo turno. Esta tese, porém, terá de ser provada nas urnas dia 31 de outubro. Ficando como traidor entre seus correligionários, Aécio não terá o apoio de São Paulo em 2014. O PSDB SP/Paraná não levará seu nome para bater-se com Dilma Rousseff. Possivelmente o candidato tucano nessa eleição será o governador de São Paulo, Geraldo Alkmin, ou mesmo José Serra, uma vez mais. Aécio terá de se contentar com uma volta ao Palácio da Liberdade (já desativado, mas ainda sede simbólica do governo mineiro).
Enquanto isto o PT de Minas lambe suas feridas. Os últimos dias do segundo turno contiveram o vendaval que se aproxima da esquerda mineira. Foi uma derrota provocada por erros estratégicos e traições inesperadas. O que mais se ouve em Belo Horizonte é que o PT deveria ter seguido o exemplo do Rio Grande do Sul e imposto seu candidato. Certamente Patrus Ananias (PT)venceria, tamanha foi a receptividade a seu nome na campanha. Entretanto, ele era um simples vice-governador. No entanto, o PT mineiro é um partido no sentido verdadeiro da palavra, dentro da tradição partidária ocidental, isto é, disciplinado. Cumpriu a determinação de seu chefe nacional. Seus líderes portaram-se como se estivessem na Europa, com raras exceções. Perderam de pé. No entanto, a fórmula deixou o partido em frangalhos. Reuni-los para reconstruir é o desafio das lideranças remanescentes.
Já no final da campanha, quando Aécio não mais confirmava a previsão de corpo-mole e investia pesado em Itamar Franco, o óbvio ululou: jamais Aécio Neves daria força a uma candidatura petista ao Senado. Aquele sonho era uma quimera inalcançável. Porém já era tarde. A derrota da segunda-vaga era indiscutível. Os espertos perderam. Os valentes e disciplinados quadros que enfrentavam a força formidável do PPL, como em Minas se chama o Partido do Palácio da Liberdade, passaram a ser vistos com outros olhos. Daí em frente esse grupo retoma sua posição de liderança junto às bases. Embora não desse mais tempo para recuperar-se eleitoralmente, o PT foi às ruas, desfraldou bandeiras, correu o que deu. Esse movimento recriou a oposição em Minas Gerais, que estava de joelhos desde a última eleição municipal em Belo Horizonte.
Já no final, o presidente do PT da capital, Roberto Carvalho, vice prefeito de Belo Horizonte, tomava à frente do movimento, cujo objetivo estratégico é retomar as prefeituras em 200 cidades mineiras e, principalmente, na capital, dentro do conceito de lealdade petista. Nesse projeto, a esquerda mineira espera contar com a liderança do ex-ministro Patrus Ananias, que foi o líder disciplinado (I e sacrificado) candidato do partido a vice-governador na chapa engendrada pelo presidente da República, Luis Inácio Lula da Silva.
Patrus saiu do pleito grandemente fortalecido pela repercussão de seu nome nas bases partidárias. Quando ele iniciou, na reta final, o corpo a corpo no seu melhor estilo, produziu-se uma reação que levou os mais otimistas e imaginar um segundo turno. Em todo o caso, o ex-ministro venceu a eleição estadual como coordenador político da campanha da candidata presidencial Dilma Rousseff. Foi seu grupo que organizou e realizou os quatro grandes comícios no Estado, com a presença de Lula e Dilma. Como então combater o “Dilmasia”? Na sua condição de chefe da campanha de Dilma, não podia dizer a ninguém que fosse votar nela e Anastasia que não o fizesse. Entretanto, calar-se era quase como compactuar com a traição. Patrus respondeu trabalhando arduamente para cumprir a missão que recebera de Lula, logrando obter a participação e o voto de grande parte da esquerda num candidato como o senador Hélio Costa (PMDB), que, não obstante tenha sido um dos mais leais ministros de Lula, era visto com desconfiança pessoal e ideológica pelo petismo e aliados. Certamente será Patrus Ananias o adversário de Aécio Neves na disputa pelo governo mineiro em 2014. Minas, que já assistiu disputas entre Juscelino e MiIton Campos, Magalhães Pinto e Tancredo, vai anotar em sua História mais um embate de titãs entre Aécio Neves e Patrus Ananias.
José Antônio Severo
By: Sul21
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