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Do site do professor de Jornalismo da Universidade Federal de Santa Maria, José Antonio Meira da Rocha:
“Esta matéria investigativa tem o objetivo didático de mostrar aos meus alunos como se faz análise de material digital. A fim de despertar interesse dos estudantes, uso um fato midiático de grande repercussão, embora de importância reduzida.
O perito em áudio Ricardo Molina de Figueiredo sustenta que um vídeo de celular identificou um rolo de fita adesiva batendo na cabeça do candidato à presidência do Brasil, José Serra, em passeata no Rio. Uma mancha identificada como rolo de fita adesiva aparece em apenas um quadro do vídeo. Decupado quadro a quadro, já mostrei que o “rolo” é apenas um artifact de compressão de vídeo: um defeito de compressão que aparece como um quadrado de bordas bem definidas, retas, com o interior borrado e difuso.
A justificativa de Molina para a mancha aparecer em apenas um único quadro do vídeo é de que a velocidade do rolo seria muito alta, cerca de 40 km/h. A dúvida que um jornalista investigativo deve procurar responder é: a fita arremessada poderia ser captada em um vídeo de celular?
Para testar a hipótese, montei facilmente um Serra falso e atirei com força um rolo de fita crepe em sua cabeça (não tentem fazer isto em casa ou com o candidato verdadeiro). Gravei com o programa Linux ffmpeg um vídeo a 15 quadros por segundo e dimensões de 320 x 240 pixels, em formato mpeg4, semelhante ao formato 3GP usado em celulares. A qualidade de webcamera é melhor do que a do celular. Mas, o que importa, neste caso, é a taxa de quadros por segundo. Depois, gravei a sequência em imagens jpeg, pelo programa Avidemux. O resultado aparece na sequência abaixo:
A distância entre as duas posições do rolo, antes de bater na cabeça falsa do falso Serra, foi de 70cm, aproximadamente. Os quadro de vídeo são capturados a cada 66,6 milésimos de segundo (um segundo dividido por 15 quadros). Regra de três que todo jornalista deve saber fazer: se o rolo percorreu 0,7 metro em 0,066 segundo , em uma hora (3600 segundos) teria percorrido 37,8 quilômetros (0,7 m × 3600 s ÷ 0,066 s). Velocidade de 38 km/h, aproximadamente os 40 km/h que Molina alega que a suposta fita teria.
No laudo preparado por Molina, ele diz que o celular captaria um quadro a cada 500 milessegundos. Isso equivaleria a 2 quadros por segundo (frames per second — fps), taxa completamente irreal. A simples análise do vídeo da Rede Globo (a TV NTSC tem 29,97 quadros por segundo) mostra que cada quadro foi duplicado. Ou seja: o vídeo do celular tem cerca de 15 quadros por segundo, a metade dos cerca de 30 quadros por segundo da televisão.
O vídeo publicado pela Folha.com tem 913 quadros em 30,491 segundos (29,94 fps), mas muitos quadros também estão duplicados. De uma amostragem de 105 quadros em 3,502 segundos, um quadro está repetido 6 vezes, 4 quadros estão repetidos 4 vezes e os 100 restantes aparecem 2 vezes. Isso resultaria em 56 quadros por segundo, ou 15,9 fps.
Claramente se vê que a fita deveria aparecer como um borrão comprido e claro, em dois quadros antes de bater na cabeça de serra, e em vários quadros depois, já com velocidade bastante diminuída. Em 400 milessegundos, a fita deveria aparecer em 6 quadros, num vídeo a 16 fps.
Este simples procedimento mostra que o laudo do perito em áudio Molina comete um erro grosseiro, incompatível com alguém com conhecimentos em vídeos digitais ou analógicos.
Esta investigação não prova que o candidato Serra não foi atingido por fita adesiva, apenas prova que o vídeo apresentado em matéria de 7 minutos pelo Jornal Nacional não mostra o suposto ataque”.
Matéria publicada por Leda Ribeiro (Colaboradora do Blog)
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