Do Vermelho - 28 de Fevereiro de 2011 - 13h00
A novela da disputa pelos direitos de transmissão dos Brasileirões de 2012 a 2014 terá capítulos eletrizantes já no início desta semana. Nos próximos dias, a Globo começa a negociar com cada um dos 20 clubes que integram o esfacelado Clube dos 13 — e com mais alguns times hoje na Segunda Divisão, mas que poderão subir no campeonato do ano que vem.
A negociação é a consequência mais direta da brigalhada que estava latente nos últimos meses, mas que eclodiu espetacularmente somente na semana passada. Não se trata de uma querela qualquer. Mobiliza duas paixões dos brasileiros – os times de futebol e as duas maiores emissoras de TV do país. E envolve valores bilionários: tanto no montante a ser pago por emissoras, operadoras de telefonia e portais pelos direitos de transmissão, quanto nos patrocínios que as grandes empresas passaram a despejar de forma crescente nos clubes de futebol nos últimos anos.
A partir desta segunda-feira (28), os negociadores da família Marinho — Marcelo Campos Pinto, diretor da Globo Esporte, à frente — começam a se reunir com os presidentes de todos os vinte clubes que compõem o Clube dos 13. Vão pôr em prática a estratégia definida na quinta passada, em reunião que só terminou na madrugada seguinte. Partirão para o ataque imaginando flechar ao menos 15 dos 20 clubes que integram o Clube dos 13.
Os times de maior torcida são escancaradamente simpáticos à Globo — que, aliás, jogou de forma inédita para seduzi-los. Até Roberto Irineu Marinho, presidente das Organizações Globo, se meteu diretamente no tema: chegou a falar ele mesmo com Patrícia Amorim, presidente do Flamengo.
O que a Globo vai propor, além de mais dinheiro do que paga hoje, é o estreitamento do que chama de parceria entre a emissora e os clubes. E que essa parceria já dura mais de uma década. Vai lembrá-los que sua audiência é quase três vezes maior do que a da Record — um argumento que sensibiliza os clubes. Enfim, a emissora vai apelar para o “em time que está ganhando não se mexe”.
Afinal, quem vai vencer esse cabo-de-guerra? O Clube dos 13 imagina que, o temporal tende a cessar agora que o edital está nas ruas, embora a Globo não vá participar (o que não é pouca coisa). Os dirigentes da entidade acham que, quando no dia 11 de março os clubes derem de cara com a proposta da Record em torno dos R$ 500 milhões pelos direitos da TV aberta, cairão na real e desistirão de qualquer veleidade de negociar diretamente com as TVs.
Os tais R$ 500 milhões correspondem ao dobro do que hoje é pago. E, afirmam esses dirigentes nos bastidores, seriam suficientes para adoçar a boca e cofres dos cartolas. O Clube dos 13 aposta também que o Cade vetará qualquer negociação direta entre as partes. Argumenta que o acordo assinado no ano passado lhe dá plenos poderes para a negociação.
A Globo tem, naturalmente, outra visão. Considera que as duas principais exigências do Cadê podem ser cumpridas quando sentar-se à mesa com os clubes: um acordo sem cláusula de preferência para nenhuma emissora e que seja dividido por plataformas (TV aberta, fechada, pay per view etc.). Conselheiros do Cade afirmam que uma negociação direta não é proibida. Mas que, claro, analisarão os eventuais contratos fechados com lupa.
Talvez o Clube dos 13, hoje rompido com a Globo, esteja simplificando demais esse xadrez futebolístico-televisivo. Mas a Globo tem bala para saciar a sede dos clubes? Cartolas têm dito aos quatro ventos que negociarão direto com a Globo para conseguir valores maiores do que o que o Clube dos 13 acena para eles.
Neste ponto, o Clube dos 13 argumenta que a conta não fecha. Se a Globo não quer pagar os R$ 500 milhões estabelecidos no edital, como pagaria mais a cada um dos clubes? (Fora os valores também mais altos das outras plataformas, tais como pay per view, TV por assinatura, internet)
A Globo não diz publicamente, nem é hora para isso, mas os tais R$ 500 milhões não seriam o grande problema – embora também o seja. O que de fato a Globo não admite são outras condições que aparecem no edital do Clube dos 13. A emissora não quer, por exemplo, que as imagens sejam geradas pelo Clube dos 13, nem que a transmissão pela internet possa acontecer com um delay de apenas 45 minutos após o início da partida (mataria o pay per view, alega a Globo).
Impossível prever quem ganhará essa parada. A Globo aparentemente leva vantagens — tem poder, tradição no futebol. Mas é apenas um favoritismo momentâneo, que pode evaporar no momento seguinte. Não se pode menosprezar também a possibilidade de parte dos times fechar com a Record e parte com a Globo. Ainda que a Globo leve os clubes de maior torcida, o que parece mais lógico, em algum momento eles enfrentarão os de menor torcida – e, neste caso, as emissoras donas desses direitos de transmissão terão de se entender.
O que fica patente, no entanto, é que de modo atabalhoado ou não, a concorrência chegou para valer num campo em que a Globo sempre reinou absoluta. Se a líder de audiência ganhar, terá sido despendendo um suor nunca imaginado por ela e pelos telespectadores — se expondo como nunca e mostrando uma perda relativa de poder.
E talvez seja a última vez que conseguirá vencer a concorrência em várias plataformas de mídia. Os tempos, se não mudaram ainda, estão mudando. Mas isso a Globo sabe – o que importa para ela, neste momento, é vencer. Mesmo que de 1 a 0 e com gol na prorrogação.
Da Redação, com informações do Radar Online
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