Quinta-feira 16, fevereiro 2012
De toda a barafunda e complexos
cálculos políticos nos quais se enredou a disputa pela Prefeitura de São
Paulo, um dos aspectos mais subestimados é como a dinâmica eleitoral
desencandeou um processo no qual os nomes contam menos do que a formação
de coligações. O que está em questão é a preservação e a expansão de
grupos políticos.
Todas as atenções estão voltadas
para a importante informação sobre se o ex-governador tucano José Serra,
tal como uma “prima donna”, entrará ou não no jogo. A participação de
Serra, para o campo conservador, é vista como a redenção. O governador
Geraldo Alckmin, seu adversário interno no PSDB paulista, já fez de tudo
para rebaixá-lo. Agora, o procura de braços abertos e espera pelo seu
sim.
Mas a presença de Serra pode ser
menos determinante ou providencial do que se imagina. O arranjo se dá
mais pela movimentação dos grandes blocos políticos do que pela vontade
pessoal dos concorrentes.
Os nomes importam menos do que as alianças partidárias
Não faz muito tempo, o PT estava
isolado, sem a adesão das legendas que lhe dão apoio no governo federal.
Bastou que o PSD do prefeito Gilberto Kassab insinuasse uma coligação
que o ex-ministro da Educação Fernando Haddad passasse à condição de
favorito.
Não contam apenas os atores
principais – as máquinas municipal (PSD), estadual (PSDB) e federal
(PT). Um conjunto de siglas médias, como PSB, PDT, PTB, PCdoB e PR,
ajudam a levar o pêndulo ora para um lado, ora para outro. Não é o
ex-presidente Lula, com toda a sua popularidade, que muda o rumo dos
ventos. É a estratégia, a política de alianças, de quem consegue agregar
mais.
Os nomes importam menos do que as
alianças partidárias. Os grupos sobrepõem-se aos indivíduos. Caso aceite
participar, José Serra será talvez o exemplo mais cabal – ainda que às
avessas – da velha máxima de que “ninguém é candidato de si mesmo”. A
expressão geralmente é utilizada por pretensos candidatos em busca de
aval de seu grupo político para entrar numa disputa. Reflete a
necessidade de uma rede de apoios, da qual o político, qualquer que
seja, depende. O caso Serra reforça a lógica de maneira inversa. É
impelido de todas as maneiras para que assuma uma candidatura que não
deseja. Nada menos personalista. Ontem, 20 dos 22 deputados da bancada
tucana na Assembleia Legislativa lançaram uma nota em que pediam o fim
das prévias e o anúncio do ex-governador como candidato do partido.
Serra, como se sabe, gostaria de
concorrer, pela terceira vez, à Presidência da República, em 2014. É uma
meta cada vez mais distante. A bola da vez – e, de novo, são seus
correligionários, entre eles o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso,
que mandam avisar – é o senador mineiro Aécio Neves. Resta-lhe
contentar-se em ser uma espécie de salvador do PSDB em São Paulo, uma
vez que o partido não tem candidatos de grande densidade eleitoral. Será
um instrumento regional a serviço dos planos de Alckmin e de
preservação nacional dos tucanos. Serra tornou-se uma peça pequena mas
importante para a sustentação do PSDB e da oposição. Caso a capital caia
nas mãos do PT, a reeleição de Alckmin está ameaçada. E se os petistas
controlarem o maior Estado do país, além do governo federal, a partir de
2014, os tucanos e a oposição estarão de vez encurralados.
A candidatura Serra pode impedir que
o prefeito Gilberto Kassab bandeie-se para o lado dos petistas. Kassab
tem laços estreitos com Serra, de quem foi vice em 2004 e assumiu a
prefeitura em 2006. É um impeditivo de ordem moral, mas não política. O
comportamento do prefeito já mostrou sua inclinação a mudar de lado, num
comportamento tão errático quanto maleável. Abandonou o DEM, fundou o
PSD e foi o guia de um rebanho na travessia da oposição para o
governismo federal e estadual.
Há uma lógica nacional da
aproximação de Kassab com o PT. Aqueles que o acompanharam para o PSD o
fizeram na intenção de fugir do estigma de oposicionistas. Desde 2002,
ninguém encarna melhor o antipetismo do que José Serra. E, por isso, o
ex-governador é muito inconveniente para Kassab.
Mas há uma lógica estadual, na qual
os tucanos têm o controle do território, há quase 20 anos. O governismo
em São Paulo chama-se PSDB. Que constrangimento Kassab teria em
desagradar o PT, dada a reputação camaleônica que construiu, e se siglas
da base federal, como PSB e PDT, já gravitam em torno da administração
Geraldo Alckmin?
Entre uma lógica e outra, ambas
governistas, Kassab tenta se equilibrar. O que mais importa para o
prefeito é não perder a eleição, seja com quem for. É o sinal de vitória
que precisa emitir para os que aderiram ao partido recém-formado, em
sua primeira disputa eleitoral, e para manter a imagem de hábil
articulador político.
O PSD já tem feito ou está aberto a
alianças com o PT em várias capitais do país – em cerca de dois terços
delas. Em São Paulo a aproximação carrega um simbolismo maior, pelo
histórico de rivalidade entre as partes e a repercussão do acordo para o
cenário nacional. Por intermédio de Lula, tão empenhado que está em
eleger Haddad, Kassab tem a oportunidade única de quebrar as
resistências do núcleo de militantes mais ideológicos do PT. Será que
vai desperdiçar?
A expansão de seu grupo político no
Estado depende de uma aliança com o PT ou com o PSDB. Serra também pode
lhe ser útil, na medida em que o aproxima de Alckmin. Como seu desafeto,
o governador criou sérios obstáculos para a criação do PSD em São
Paulo, especialmente na conquista de prefeituras. Hoje, porém, passada a
temporada de assédio de Kassab a prefeitos e outros quadros tucanos,
Alckmin sabe que não pode continuar na mesma estratégia. Seu objetivo
maior é a manutenção do espaço conquistado. Enquanto isso, PT e PSD têm a
mesma meta: avançar sobre seus domínios. Facilitar essa união não é
nada inteligente. Nem que para isso o governador reabilite José Serra.
*Cristian Klein é repórter de Política – Valor
Por Helena
Do Blog Os Amigos do Brasil.
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