Do Escrivinhador - publicada segunda-feira, 10/02/2014 às 09:09 e atualizada segunda-feira, 10/02/2014 às 09:13
por Rodrigo Vianna
Quando o presidente do STF mandou prender os condenados do “Mensalão” (só alguns, claro) no dia 15 de novembro, eu escrevi que ali se iniciava a “Operação Joaquim Barbosa”. Era um lance calculado, era uma ação clara de marketing político, um sinal mais do que evidente de que se preparava uma candidatura.
De que candidatura falamos? Alguém que atue (ou finja atuar) ”por fora” dos partidos políticos, com um discurso “justiceiro”, indignado e (falsamente) moralista.
Claro que, para os setores tradicionais da oposição (FHC, PSDB, DEM), uma candidatura dessas a princípio não interessa. FHC já berrou contra. Depois, desistiu. Eles se acertam sempre, por cima. E há mais gente manobrando e articulando na oposição. O consórcio midiático, que opera sob coordenação (inclusive política) de seu núcleo mais forte instalado no Jardim Botânico, pode apostar numa terceira candidatura de oposição.
Os tumultos na rua, o clima de “esfola e mata” que se vai criando em setores da classe média, e – por último – a capa da revista “Veja” (Civilização e Barbárie) apontam nesse sentido. É a pauta da “ordem”! Essa é a pauta que Joaquim Barbosa pode encampar.
Na semana passada, tive a satisfação de participar – como entrevistador – do Programa Contraponto (do Sindicato dos Bancários e do Barão de Itararé – veja aqui, na íntegra), e fiz exatamente essa pergunta ao entrevistado Franklin Martins (ex-ministro da SECOM no governo Lula, estrategista de comunicação de Dilma): “o quadro eleitoral já está definido, com Dilma, Eduardo e Aécio, ou há espaço para um quarto nome?” – foi minha indagação.
Franklin Martins disse que não acredita numa candidatura como essa em 2014: “Salvadores da pátria só funcionam em momentos de enorme confusão econômica; foi assim em 1960 (governo JK havia terminado com inflação em alta), foi assim com Collor em 89, e foi assim com cabo Hitler eleito na Alemanha num momento de grave crise“, lembrou o ex-ministro de Lula.
Concordo, em parte, com Franklin Martins. De fato, a oposição teria chances reais se a economia naufragasse. Por isso, segue a torcida contra dos urubulinos na mídia. Mas parece que perderam essa batalha. Aécio seria o candidato para comandar a oposição num momento de crise econômica. Do lado dele, está a turma de economistas que defendem a volta do modelo tucano dos anos 90: cortes, recessão, redução do papel do Estado.
Eduardo é uma candidatura mais audaciosa. E pode prosperar numa situação como a atual: a economia não naufraga mas anda de lado. Eduardo reconheceria os avanços sociais de um governo do qual fez parte, mas propondo ajustes.
O problema é que: Eduardo tem um discurso mais coerente para o momento atual, só que não tem palanques regionais; já Aécio tem palanques regionais, mas parece “falar para o passado” – como diz Franklin.
Os dois sozinhos não seriam sequer capazes de levar a eleição ao segundo turno. Seria ingênuo imaginar que a oposição (midiática, e que opera em clara parceria com atores internacionais) vai assistir do sofá o lulismo ganhar pela quarta vez. E ainda mais com vitória no primeiro turno. Não. Eles vão para o tudo ou nada.
Prepara-se no país a pauta do “caos”, para que desse caldo de cultura prospere uma candidatura da “ordem”.
Militantes experientes, lideranças sindicais e atores políticos com a bagagem de Franklin Martins seguem a apostar que Joaquim Barbosa não será candidato. “Não faria sentido, ele se exporia demais”, disse-me um velho conhecedor da política. Pois, há pelo menos 3 meses, aposto no sentido contrário. Joaquim Barbosa é o tipo do ator que não age pela lógica convencional. Se o fizesse, ficaria quieto no STF. Lula, pelo visto, já percebeu que é preciso tirar Barbosa da toca. Agora.
Barbosa, tenho insistido desde novembro, pode sair do STF entre abril e maio, dizendo que já cumpriu sua missão moralizadora, e oferecendo seus serviços para os “brasileiros cansados da corrupção e da desordem”.
Barbosa terá que se filiar a um partido logo em maio ou junho – mas poderá depois avaliar, esperar, analisar o quadro que brotará das ruas no pós Copa do Mundo. Se as manifestações (por motivos muitas vezes justos, diga-se) forem infladas a ponto de criarem um clima de ”desordem” e “anomia”, o vingador do STF poderá decidir-se pelo salto mais arriscado: a candidatura presidencial. Um plano “B” seria candidatura ao Senado pelo Rio – mantendo-se na tribuna e sob os holofotes.
A oposição não perde nada se apostar em três candidatos: Aécio (mesmo sem crise econômica) é candidato para ao menos 20% ou 25% dos votos (sairá forte de Minas e vai grudar em Alckmin e Richa para conquistar seus votos entre a oposição tradicional ao petismo); Eduardo corre por fora (tentando recolher os votos dos “descontentes mas nem tanto”) e também é candidato para 15% ou 20% dos votos.
Mas para garantir segundo turno seria preciso algo mais. Se a pauta da “ordem” vingar, Joaquim Barbosa virá para o combate. Sim!
Para os tucanos, o ideal seria um Barbosa virulento, mas sob ataque (e ele tem telhados de vidro aos montes). Assim, não cresceria demais, fazendo apenas algum estrago na votação de Dilma, para garantir o segundo turno. A Globo, a Veja e os tucanos (com seus aliados fora do Brasil) não aceitarão Dilma forte a ponto de ganhar no primeiro turno. Nem o PMDB quer isso. A elite quer uma Dilma fraca, que não possa enfrentar bancos nem baixar juros, e que se renda à agenda liberal.
Barbosa pode ser uma ferramenta para isso. A Operação segue em vigor. E a capa de “Veja” é mais um sinal.
O perigo é o vingador sair do controle, atropelar a oposição e tornar-se sozinho um fenômeno eleitoral. Não acho impossível.
Hoje, eu apostaria que a direita velhaca (sob comando e a reboque da mídia velha) vai avançar com a pauta do “caos” e da barbárie, para deixar uma avenida aberta ao terceiro candidato da oposição. A Democracia brasileira terá que mostrar muita maturidade para enfrentar os golpes que virão da oposição e da imprensa (inclusive internacional) oferecendo aos eleitores sua “dose diária de fel, ressentimento e raiva” – na definição precisa de Franklin Martins.
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por Rodrigo Vianna
Quando o presidente do STF mandou prender os condenados do “Mensalão” (só alguns, claro) no dia 15 de novembro, eu escrevi que ali se iniciava a “Operação Joaquim Barbosa”. Era um lance calculado, era uma ação clara de marketing político, um sinal mais do que evidente de que se preparava uma candidatura.
De que candidatura falamos? Alguém que atue (ou finja atuar) ”por fora” dos partidos políticos, com um discurso “justiceiro”, indignado e (falsamente) moralista.
Claro que, para os setores tradicionais da oposição (FHC, PSDB, DEM), uma candidatura dessas a princípio não interessa. FHC já berrou contra. Depois, desistiu. Eles se acertam sempre, por cima. E há mais gente manobrando e articulando na oposição. O consórcio midiático, que opera sob coordenação (inclusive política) de seu núcleo mais forte instalado no Jardim Botânico, pode apostar numa terceira candidatura de oposição.
Os tumultos na rua, o clima de “esfola e mata” que se vai criando em setores da classe média, e – por último – a capa da revista “Veja” (Civilização e Barbárie) apontam nesse sentido. É a pauta da “ordem”! Essa é a pauta que Joaquim Barbosa pode encampar.
Na semana passada, tive a satisfação de participar – como entrevistador – do Programa Contraponto (do Sindicato dos Bancários e do Barão de Itararé – veja aqui, na íntegra), e fiz exatamente essa pergunta ao entrevistado Franklin Martins (ex-ministro da SECOM no governo Lula, estrategista de comunicação de Dilma): “o quadro eleitoral já está definido, com Dilma, Eduardo e Aécio, ou há espaço para um quarto nome?” – foi minha indagação.
A vassoura de Janio: bruxarias da direita
Lembrei o caso das eleições de 1960: depois de apanhar 3 vezes nas
urnas, com um discurso moralista e antitrabalhista parecido com a
pregação atual de PSDB-DEM-Veja-Globo, a UDN cansou e foi buscar um nome
“por fora” do quadro tradicional. Janio, com seu moralismo barato,
subiu na vassoura e ganhou no voto.Franklin Martins disse que não acredita numa candidatura como essa em 2014: “Salvadores da pátria só funcionam em momentos de enorme confusão econômica; foi assim em 1960 (governo JK havia terminado com inflação em alta), foi assim com Collor em 89, e foi assim com cabo Hitler eleito na Alemanha num momento de grave crise“, lembrou o ex-ministro de Lula.
Concordo, em parte, com Franklin Martins. De fato, a oposição teria chances reais se a economia naufragasse. Por isso, segue a torcida contra dos urubulinos na mídia. Mas parece que perderam essa batalha. Aécio seria o candidato para comandar a oposição num momento de crise econômica. Do lado dele, está a turma de economistas que defendem a volta do modelo tucano dos anos 90: cortes, recessão, redução do papel do Estado.
Eduardo é uma candidatura mais audaciosa. E pode prosperar numa situação como a atual: a economia não naufraga mas anda de lado. Eduardo reconheceria os avanços sociais de um governo do qual fez parte, mas propondo ajustes.
O problema é que: Eduardo tem um discurso mais coerente para o momento atual, só que não tem palanques regionais; já Aécio tem palanques regionais, mas parece “falar para o passado” – como diz Franklin.
Os dois sozinhos não seriam sequer capazes de levar a eleição ao segundo turno. Seria ingênuo imaginar que a oposição (midiática, e que opera em clara parceria com atores internacionais) vai assistir do sofá o lulismo ganhar pela quarta vez. E ainda mais com vitória no primeiro turno. Não. Eles vão para o tudo ou nada.
Prepara-se no país a pauta do “caos”, para que desse caldo de cultura prospere uma candidatura da “ordem”.
Militantes experientes, lideranças sindicais e atores políticos com a bagagem de Franklin Martins seguem a apostar que Joaquim Barbosa não será candidato. “Não faria sentido, ele se exporia demais”, disse-me um velho conhecedor da política. Pois, há pelo menos 3 meses, aposto no sentido contrário. Joaquim Barbosa é o tipo do ator que não age pela lógica convencional. Se o fizesse, ficaria quieto no STF. Lula, pelo visto, já percebeu que é preciso tirar Barbosa da toca. Agora.
Barbosa, tenho insistido desde novembro, pode sair do STF entre abril e maio, dizendo que já cumpriu sua missão moralizadora, e oferecendo seus serviços para os “brasileiros cansados da corrupção e da desordem”.
Barbosa terá que se filiar a um partido logo em maio ou junho – mas poderá depois avaliar, esperar, analisar o quadro que brotará das ruas no pós Copa do Mundo. Se as manifestações (por motivos muitas vezes justos, diga-se) forem infladas a ponto de criarem um clima de ”desordem” e “anomia”, o vingador do STF poderá decidir-se pelo salto mais arriscado: a candidatura presidencial. Um plano “B” seria candidatura ao Senado pelo Rio – mantendo-se na tribuna e sob os holofotes.
A oposição não perde nada se apostar em três candidatos: Aécio (mesmo sem crise econômica) é candidato para ao menos 20% ou 25% dos votos (sairá forte de Minas e vai grudar em Alckmin e Richa para conquistar seus votos entre a oposição tradicional ao petismo); Eduardo corre por fora (tentando recolher os votos dos “descontentes mas nem tanto”) e também é candidato para 15% ou 20% dos votos.
Mas para garantir segundo turno seria preciso algo mais. Se a pauta da “ordem” vingar, Joaquim Barbosa virá para o combate. Sim!
Para os tucanos, o ideal seria um Barbosa virulento, mas sob ataque (e ele tem telhados de vidro aos montes). Assim, não cresceria demais, fazendo apenas algum estrago na votação de Dilma, para garantir o segundo turno. A Globo, a Veja e os tucanos (com seus aliados fora do Brasil) não aceitarão Dilma forte a ponto de ganhar no primeiro turno. Nem o PMDB quer isso. A elite quer uma Dilma fraca, que não possa enfrentar bancos nem baixar juros, e que se renda à agenda liberal.
Barbosa pode ser uma ferramenta para isso. A Operação segue em vigor. E a capa de “Veja” é mais um sinal.
O perigo é o vingador sair do controle, atropelar a oposição e tornar-se sozinho um fenômeno eleitoral. Não acho impossível.
Hoje, eu apostaria que a direita velhaca (sob comando e a reboque da mídia velha) vai avançar com a pauta do “caos” e da barbárie, para deixar uma avenida aberta ao terceiro candidato da oposição. A Democracia brasileira terá que mostrar muita maturidade para enfrentar os golpes que virão da oposição e da imprensa (inclusive internacional) oferecendo aos eleitores sua “dose diária de fel, ressentimento e raiva” – na definição precisa de Franklin Martins.
O símbolo janista, de volta no baile de máscaras da oposição
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