sábado, 8 de fevereiro de 2014

O Sistema é cruel de todas as maneiras, contra os jovens negros, inclusive a mídia

fevereiro 7th, 2014 by mariafro

O Sistema é cruel de todas as maneiras, contra os jovens negros, inclusive a mídia
Por Enderson Araújo, Correio Nagô

Raquel de sobrenome estranho, louca, descontrolada e em defesa de uma classe que desde os primórdios foi opressora e oprime os negros em suas cozinhas, jardins, como seus motoristas, enfim, exploram os nossos com suas mãos de obra. Aprendi uma coisa com a Vilma Reis que disse o seguinte uma vez:
“Todo branco quer ter seu negro de estimação”. Logo aprendi aquela história de “dou emprego a seu filho também”. Essa é uma estratégia para nos afastar das universidades, nos afastar de gerir negócios próprios, fazendo com que além da burguesia ter nossos pais como empregados, nos ter também como escravos de seus filhos, e assim continuar o ciclo, onde eles são os patrões e nós os empregados.
Esses senhores do século XXI esquecem seletivamente o que é “Causa e Efeito”, a falta de oportunidades, de políticas públicas dos governos, a falta de assistência quanto à Saúde, à Educação de qualidade, o transporte público digno.
Como o menino espancado, mutilado, humilhado, preso completamente despido com um cadeado de bicicleta em seu pescoço, após ser socorrido pelos bombeiros iria dar queixa de tantas agressões? Sabemos como age a polícia e a quem ela protege. No mínimo ele receberia mais uma sessão de espancamento.
Enfim, Raquel de sobrenome estranho, seus descendentes vieram para o Brasil e tiveram oportunidades, ganharam terras para produzir, ganharam créditos dos bancos. Já os meus foram alforriados no dia 13 de maio de 1888 e no dia 14 estavam sendo presos, porque criaram a tal Lei da Vadiagem. Não receberam nenhum pedaço de terra, nenhuma indenização sobre os séculos a que foram escravizados. Essa não reparação, com algumas políticas inclusivas apenas no governo Lula,  dura até os dias de hoje, afinal foram quase 4 séculos de escravização do meu povo e mais cem anos sem qualquer política de reparação.
Hoje, o seu povo que concentra quase toda a terra do Brasil  quer tirar nossos povos dos quilombos, quer explorar as águas que trazem o sustento para os povos dos quilombos, acha que a única solução é matar os jovens negros de periferia.

O furto que esse garoto cometeu, o roubo de uma furadeira,  dá direito de quase 30 playboys do seu povo fazer Justiça com as próprias mãos, a um adolescente de 15 anos do meu povo violentado cotidianamente pelo sistema? A verdadeira vitima desta história é este menino de rua, sem oportunidades, esquecido por todos.
Marcola, chefe do PCC em São Paulo disse uma vez:  ”Hoje sou assistido por diversos benefícios do governo, eu tenho um peso no orçamento, o Estado me protege, mas tive que ser notado para que isso acontecesse”.
Escrevo esse texto, revoltado com tamanha brutalidade que tratam os nossos, e como uma forma de exorcizar o meu medo, pois por ser negro, pobre, da periferia e ainda pelas roupas que uso, posso ser acusado na rua de roubo ou outro crime hediondo. Estou defendendo não apenas este garoto para o qual a Segurança Pública não existe, estou defendendo todo jovem negro que é alvo dos playboys de seu povo e dos capitães de mato da polícia que só protegem ao seu povo e nos torna alvo constante de suas armas, de sua tortura.
Você, Sheherazade,  que ao se apropriar do nome de uma das mais belas personagens da literatura mundial, envergonha a narradora das Mil e uma noites, comentou sobre o Justin Bieber quando ele foi detido pichando as ruas do Rio de Janeiro. Sua “sentença” de juíza acima das leis do Brasil, para  um jovem branco, rico, famoso e estrangeiro foi a de que ele precisava fazer tratamento com psicólogos. Mas a mesma “juíza” da sentença branda para Bieber. Para o jovem negro, morador de rua, sem qualquer proteção de família ou Estado, sem nenhuma oportunidade, você reservou o tronco do século XXI: o poste e o cadeado de bicicleta. Esta é a “Justiça” que você propõe em rede nacional num canal de concessão pública, senhora Raquel.
Dane-se o ECA, dane-se a Constituição Brasileira, dane-se as leis relativas às Comunicações no Brasil, dane-se a ética jornalística! O que importa é uma branca, vestida como se fosse uma pessoa séria estimular playboys justiceiros a fazer justiça com as próprias mãos sempre com vítimas pretas.
Vejam no seguinte link, a jornalista e seus dois pesos e duas medidas:


A grande mídia no Brasil é criminosa, o Congresso brasileiro é leniente por não cassar concessão pública de quem comete crimes contra o ECA, a Constituição Brasileira, estimula a violência contra grupos mais vulneráveis e exorta justiceiros.
*Enderson Araujo, Jovem Negro, Pobre, que também é considerado suspeito se tiver andando na rua depois das 22h.
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