Copiado do Blog ESCREVINHADOR, do Rodrigo Vianna, que está em Meus Favoritos.
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Saraiva
Quem fumou maconha estragada na rádio CBN?
Quando fui morar no Rio de Janeiro (passei dois anos lá, entre 97 e 98), tive o prazer de trabalhar com um dos maiores frasistas cariocas, o cinegrafista Carlos Trinta.
Em 97, fomos ele e eu pra Cidade de Deus. A polícia tinha espancado moradores do bairro (ou “comunidade”, como se diz no Rio). O governador Marcelo Allencar resolveu visitar um centro comunitário na Cidade de Deus, pra mostrar que não aprovava o espancamento. O prédio era minúsculo, e havia mais repórteres do que moradores se amontoando pelos corredores.
Carlos Trinta previu o desfecho: “Aê, maluco, quando o Velho Barreiro chegar adernando vai ser um barata voa de arrebentar”.
No meu paulistanismo, demorei pra entender o que ele queria dizer... “Maluco” era eu mesmo. “Velho Barreiro” era o governador (que tinha fama de tomar umas a mais) e por isso “adernava” (andava meio torto). “Barata voa” era uma confusão daquelas em que todo mundo sobe nas cadeiras, se bate, empurra pra fugir das indesejáveis.
Não deu outra. O Velho Barreiro chegou e o barata voa foi geral.
Dias depois, encontrei o Trinta esbaforido pelos corredores da TV:
“O que há rapaz?”, perguntei. “É que a dona da pensão tá querendo me prejudicar lá com o capa preta.” Ele corria pro banco. O “capa preta” era o juiz, isso eu já sabia – tinha virado quase um malandro carioca. Mas por que diabos a “dona da pensão” (mulher do Trinta) poderia prejudicá-lo? Não seria a ex-mulher a cobrar a pensão?
“Não, maluco, eu pago pensão pra atual. É que separei dela, juntei com outra. Ela foi no capa preta e pediu o tutu. Aí, fizemos as pazes. Voltei com a dona da pensão, só que ela não confia em mim, e pediu que eu continue pagando pensão”.
O Trinta foi o único cara que eu conheci que pagava pensão não pra ex-mulher. Mas pra mulher atual, a dona da pensão! E naquela semana, ele tinha esquecido de fazer o depósito. A mulher tinha ido ao “capa preta”, e ele podia ir pra cadeia. Felizmente, escapou dessa.
Uma vez ele pediu que eu desse uma força pro cunhado dele. “Sabe como é, o maluco se atrapalhou, perdeu emprego, separou da mulher, agora resolveu voltar pra casa, e tá precisando de uma grana. Ele é bom pintor, bota o maluco pra pintar seu apartamento. Só aviso uma coisa, ele gosta de beber”.
“Mas, Trinta, vou botar seu cunhado pinguço lá em casa?”
Com jeitinho, ele me convenceu. Minha mulher tava em São Paulo naquela semana, só a faxineira (uma senhora já perto dos 50 anos) ficava no apartamento. No terceiro dia, ela me chamou de lado: “seu Rodrigo, eu não volto mais aqui, o rapaz ali tentou me agarrar duas vezes”.
Voltei ao Trinta: ‘’amigo, seu cunhado aprontou, agarrou a moça da limpeza lá em casa”. E o Trinta: “maluco, ele só fica assim quando bebe, o azar é que tem bebido todo dia”.
Arrumei outro pintor, mas continuei amigo do Carlos Trinta.
Peço desculpas por dar tantas voltas, mas é que estou com saudades do Rio e de tipos como o Carlos Trinta...
A frase que ele mais usava é a que realmente interessa nesse texto. Quando aparecia uma pauta estanha, sem sentido (e isso acontecia toda semana), o Trinta comentava, em sua carioquice da zona norte: “esse aí (o pauteiro ou o chefe da vez) fumou maconha estragada, só pode ser”.
Não bastava fumar maconha. Tinha que ser maconha estragada pra escrever, ou dizer, algumas barbaridades que ouvíamos de certos colegas na TV.
Alguém na CBN deve ter fumado maconha estragada nos últimos dias.
É o que o Trinta diria se ouvisse os dois comentários na rádio:
- primeiro, a rádio da família Marinho criticou o ministro Carlos Minc por ir a uma passeata em defesa da descriminalização da droga - http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2009/06/11/ENQUANTO-O-JABOR-NAO-VOLTA-MINC-E-A-MACONHA.htm.
- dias depois, pôs no ar outro comentário, elogiando FHC por defender a mesma tese - http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/ARNALDO-JABOR.htm.
A história dos dois comentários foi contada por um leitor, no blog do Paulo Henrique Amorim -
Li a história lá no Paulo Henrique, outro carioca bem-humorado... E lembrei do Carlos Trinta.
Quem teria fumado maconha estragada na CBN? A família Marinho? O Minc? O FHC? O Jabor (que fez os comentários na rádio)?
O Jabor, eu duvido. Esse não fumaria maconha estragada.
O Carlos Trinta é que deve estar pensando: “maluco, o barato na CBN é doido”.
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Em 97, fomos ele e eu pra Cidade de Deus. A polícia tinha espancado moradores do bairro (ou “comunidade”, como se diz no Rio). O governador Marcelo Allencar resolveu visitar um centro comunitário na Cidade de Deus, pra mostrar que não aprovava o espancamento. O prédio era minúsculo, e havia mais repórteres do que moradores se amontoando pelos corredores.
Carlos Trinta previu o desfecho: “Aê, maluco, quando o Velho Barreiro chegar adernando vai ser um barata voa de arrebentar”.
No meu paulistanismo, demorei pra entender o que ele queria dizer... “Maluco” era eu mesmo. “Velho Barreiro” era o governador (que tinha fama de tomar umas a mais) e por isso “adernava” (andava meio torto). “Barata voa” era uma confusão daquelas em que todo mundo sobe nas cadeiras, se bate, empurra pra fugir das indesejáveis.
Não deu outra. O Velho Barreiro chegou e o barata voa foi geral.
Dias depois, encontrei o Trinta esbaforido pelos corredores da TV:
“O que há rapaz?”, perguntei. “É que a dona da pensão tá querendo me prejudicar lá com o capa preta.” Ele corria pro banco. O “capa preta” era o juiz, isso eu já sabia – tinha virado quase um malandro carioca. Mas por que diabos a “dona da pensão” (mulher do Trinta) poderia prejudicá-lo? Não seria a ex-mulher a cobrar a pensão?
“Não, maluco, eu pago pensão pra atual. É que separei dela, juntei com outra. Ela foi no capa preta e pediu o tutu. Aí, fizemos as pazes. Voltei com a dona da pensão, só que ela não confia em mim, e pediu que eu continue pagando pensão”.
O Trinta foi o único cara que eu conheci que pagava pensão não pra ex-mulher. Mas pra mulher atual, a dona da pensão! E naquela semana, ele tinha esquecido de fazer o depósito. A mulher tinha ido ao “capa preta”, e ele podia ir pra cadeia. Felizmente, escapou dessa.
Uma vez ele pediu que eu desse uma força pro cunhado dele. “Sabe como é, o maluco se atrapalhou, perdeu emprego, separou da mulher, agora resolveu voltar pra casa, e tá precisando de uma grana. Ele é bom pintor, bota o maluco pra pintar seu apartamento. Só aviso uma coisa, ele gosta de beber”.
“Mas, Trinta, vou botar seu cunhado pinguço lá em casa?”
Com jeitinho, ele me convenceu. Minha mulher tava em São Paulo naquela semana, só a faxineira (uma senhora já perto dos 50 anos) ficava no apartamento. No terceiro dia, ela me chamou de lado: “seu Rodrigo, eu não volto mais aqui, o rapaz ali tentou me agarrar duas vezes”.
Voltei ao Trinta: ‘’amigo, seu cunhado aprontou, agarrou a moça da limpeza lá em casa”. E o Trinta: “maluco, ele só fica assim quando bebe, o azar é que tem bebido todo dia”.
Arrumei outro pintor, mas continuei amigo do Carlos Trinta.
Peço desculpas por dar tantas voltas, mas é que estou com saudades do Rio e de tipos como o Carlos Trinta...
A frase que ele mais usava é a que realmente interessa nesse texto. Quando aparecia uma pauta estanha, sem sentido (e isso acontecia toda semana), o Trinta comentava, em sua carioquice da zona norte: “esse aí (o pauteiro ou o chefe da vez) fumou maconha estragada, só pode ser”.
Não bastava fumar maconha. Tinha que ser maconha estragada pra escrever, ou dizer, algumas barbaridades que ouvíamos de certos colegas na TV.
Alguém na CBN deve ter fumado maconha estragada nos últimos dias.
É o que o Trinta diria se ouvisse os dois comentários na rádio:
- primeiro, a rádio da família Marinho criticou o ministro Carlos Minc por ir a uma passeata em defesa da descriminalização da droga - http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/2009/06/11/ENQUANTO-O-JABOR-NAO-VOLTA-MINC-E-A-MACONHA.htm.
- dias depois, pôs no ar outro comentário, elogiando FHC por defender a mesma tese - http://cbn.globoradio.globo.com/comentaristas/arnaldo-jabor/ARNALDO-JABOR.htm.
A história dos dois comentários foi contada por um leitor, no blog do Paulo Henrique Amorim -
Li a história lá no Paulo Henrique, outro carioca bem-humorado... E lembrei do Carlos Trinta.
Quem teria fumado maconha estragada na CBN? A família Marinho? O Minc? O FHC? O Jabor (que fez os comentários na rádio)?
O Jabor, eu duvido. Esse não fumaria maconha estragada.
O Carlos Trinta é que deve estar pensando: “maluco, o barato na CBN é doido”.
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