Dayanne Sousa, Terra Magazine
"A maior diferença entre o Irã e o Egito é que o Egito tem sido muito bondoso e protetor com o Ocidente", critica a dirigente da Anistia Internacional, Hassiba Hadj Sahraoui. Em entrevista a Terra Magazine, a especialista em Oriente Médio e Norte da África da organização que monitora direitos humanos no mundo afirma que os 30 anos de ditadura no Egito promoveram um tratamento duramente desumano.
- O país está sob estado de emergência nos últimos 30 anos e isso significa que as forças de segurança podem prender qualquer um. As forças de segurança estão acima da lei e a tortura é sistemática.
A comparação com o Irã é inevitável, uma vez que há forte pressão internacional contra o país, como no caso da mulher que foi condenada a apedrejamento por adultério. A crítica ao Egito não é tão forte e, diante das manifestações atuais no país, os Estados Unidos até falam em manter a estabilidade. Para Hassiba, tal postura não se sustenta.
- Eu acredito que os Estados Unidos e outros governos não podem servir à violação de direitos. Eles não podem falar dos direitos humanos para os iranianos e ignorar os direitos dos egípcios.
Segundo informações das Nações Unidas desta terça-feira (1º), pelo menos 300 pessoas já foram mortas no Egito desde o início dos protestos contra a ditadura de Hosni Mubarak no último dia 25.
Terra Magazine - O Egito vive há 30 anos sob o mesmo regime e há violações graves de direitos humanos. No momento atual, o Irã sofre pressão do ocidente pelas mesmas violações. Qual a diferença?
Hassiba Hadj Sahraoui - O esquema de violações de direitos humanos no Egito é notável e é bastante comparável ao que há no Irã. O país está sob estado de emergência nos últimos 30 anos e isso significa que as forças de segurança podem prender qualquer um. Sem acusações e sem julgamento. Significa que a liberdade de expressão é restrita. Esse estado de emergência levou a um estado de abuso, no qual as forças de segurança estão acima da lei e onde a tortura é sistemática.
O estado de emergência também influi em todo o sistema de justiça. Sempre que as autoridades encontram alguém que pode ser uma ameaça, essa pessoa será enviada à corte de emergência no lugar de um tribunal comum. Acreditamos que a liderança da Irmandade Muçulmana (grupo de oposição de base religiosa) foi julgada por essa corte de emergência. Em todos estes anos a oposição foi esmagada.
A maior diferença entre o Irã e o Egito é que o Egito tem sido muito bondoso e protetor com o Ocidente. As autoridades abraçaram a retórica do "risco à segurança" que foi levantado depois de 11 de setembro. Eles tentam justificar, com isso, abusos que acontecem no país há décadas. Como o Egito compartilha informações sobre o mundo árabe, o Ocidente fecha os olhos para o que acontece no país.
Como você vê a resposta da comunidade internacional às manifestações?
Eu fiquei muito surpresa com a reação dos Estados Unidos e de outros países. A resposta da secretária de Estado americana, Hillary Clinton foi a de que é preciso manter o regime para manter a estabilidade no país. Ela fala em transição. No discurso de Mubarak há um monte de promessas vazias e assim fica muito difícil para os egípcios acreditarem que há alguma vontade de mudar as coisas.”
Foto: AFP
Entrevista Completa, ::Aqui::
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