A política é um terreno fértil para teorias conspiratórias. O mesmo vale para a política internacional. Quem nunca ouviu a tese de que o papa João Paulo Primeiro foi assasinado por adversários internos na Igreja? Pura teoria conspiratória, dizem alguns. Quanto a mim, bem… Confesso que as teorias conspiratórias às vezes fazem sentido.
Em 1964, dizia-se que os EUA tinham apoiado diretamente o golpe militar. E que agentes da CIA ajudaram a preparar o terreno para o avanço militar. Conspiração pura? Abertos os arquivos nos EUA, provou-se que a teoria conspiratória estava do lado da verdade: os EUA ajudaram a dar o golpe contra Jango e contra a democracia em 1964.
Agora, na esteira da morte anunciada de Bin Laden, surgem duas novas teorias: uma, defendida pelo garçon do restaurante onde almocei, diz que Bin Laden não morreu. Tudo invenção. “Se morreu, cadê o corpo?” Vários leitores escrevem perguntando o mesmo: “cadê o corpo? Ou a foto do corpo?”. Analistas que ouvi hoje dizem que os EUA estão receosos de mostrar as fotos e acirrar ainda mais os ânimos entre os árabes. O rosto desfigurado de Bin Laden morto viraria emblema na mão dos que pretendem protestar contra os EUA: um símbolo poderoso.
A outra teoria conspiratória é ainda mais curiosa: Bin Laden morreu, sim! Mas não agora: teria morrido em 2001, logo após os atques às torres gêmeas. A notícia foi garimpada por um dos pioneiros do blogueirismo sujo no Rio: Antônio Mello. O texto está aqui. [Nota deste ContextoLivre: o furo foi dado pelo Blog do Herval Júnior, às 03:39].
A Fox News é quem diz! Osama morreu há dez anos!
Teria sido empalhado por Bush?
Pode parecer bobagem, certo? A maior potência do Planeta não tentaria enganar o mundo inteiro, fingindo que matou um sujeito já morto… Parece evidente.
Mas Bush, logo após o 11 de setembro, não disse que era preciso invadir o Iraque porque Saddam Hussein tinha armas de destruição em massa, e era um aliado da Al-Qaeda? A informação não tinha pé nem cabeça. Mas a imprensa dos EUA comprou a tese. Saddam foi morto, as armas de destruição em massa nunca foram encontradas. E o Iraque (com todo seu petróleo) hoje é um protetorado dos EUA.
A mentira das armas em destruição em massa ajuda a inocular entre o público planetário a impressão de que há outras mentiras, muitas outras, nessa “guerra contra o terrorismo”.
Nos EUA, o público delira, vai às ruas, comemora de forma constrangedora a ação fora da lei dogoverno de Obama. Sim, fora da lei: afinal, lembremos, comandos dos EUA entraram em ação num país estrangeiro. Por que não podem fazer o mesmo na Venezuela? Na Bolívia? Há muito tempo, os Estados Unidos agem em desacordo com as leis internacionais. A ação no Paquistão – se é que ocorreu como se noticia – foi apenas mais um exemplo.
Bin Laden era um fora da lei, um assassino. Mas e o governo dos Estados Unidos?
A ação ordenada por Obama lembra-me a frase daquele personagem de Dostoiévski, em “Crime e Castigo”:
"se a história absolveu Napoleão, que matou milhões em nome de um projeto econômico, porque eu, Rodion Románovitch Raskólnikov, não posso acabar com uma decrépita, que repete na microestrutura o que o sistema bancário faz na macroestrutura?".
Como disse o jornalista e professor da USP Laurindo Leal Filho, um dos entrevistados com quem conversei ao vivo na noite dessa segunda, na Record News: “os impérios normalmente se mantem pela força, mas também pela política, pelo convencimento, pela cultura; os EUA são um Império que se mantém cada vez mais só na base da força bruta”.
Força bruta e mentiras misturadas aos fatos. Caldeirão perfeito pra que prosperem mais e mais teorias conspiratórias. Algumas, convenhamos, podem se provar verdadeiras com o passar dos anos.
By: Escrevinhador
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