Marcos Coimbra, CartaCapital / Conversa
Afiada
“O fascinante na formulação é que ele (FHC)
nunca se considera responsável pelo que faz o partido que preside. O presidente
da República era ele em 2002, mas, como estava “cansado de exercer a liderança
política” – e “não apenas por generosidade”-, resolveu lavar as mãos. Em 2010,
achava que Serra não era a melhor opção, mas ficou quieto (ou não conseguiu
fazer nada para impedi-lo de, outra vez, se arrogar o direito de ser
candidato).
Essa liderança que não lidera conflita com a autoimagem que tem. Sem qualquer modéstia – e pouca visão da realidade-, FHC acha que ele e Lula são “os dois únicos líderes” brasileiros dos “últimos 20 anos” (o que entende ser pouco para “um país tão grande’).
Como se houvesse qualquer semelhança entre as trajetórias de ambos: sem três ou quatro acidentes (a morte de Tancredo, o fracasso de Sarney, o impeachment de Collor, o desaparecimento de Covas), FHC não existiria (ou seria muito menor do que é), enquanto Lula continuaria a ser Lula, pois não precisou do acaso – e nem de um Plano Real – para chegar aonde chegou. Fernando Henrique diz que o PSDB tem de “reorganizar a hierarquia da liderança” (o que, em tucanês, quer dizer definir quem manda no partido), pois ninguém surgiu para ocupar o lugar que tinha. Quanto a si mesmo, explica que “tomou a decisão (…) de abrir espaço”, pois, na altura da vida em que está, “perdeu a vontade” de liderar.
A entrevista reflete o clima em que vive o PSDB. Seu presidente de honra divide, em vez de somar. É magnânimo na repartição das responsabilidades pelas derrotas, mas avaro na reivindicação dos sucessos. Acredita que cabem (somente) a Serra as culpas pelas decepções recentes.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário