Claudionor Junior – 4.fev.2012/A Tarde
O governador da Bahia, Jaques Wagner, durante entrevista na Base aérea de Salvador
O governador da Bahia, Jaques Wagner, durante entrevista na Base aérea de Salvador
GRACILIANO ROCHA E FÁBIO GUIBU – FOLHA SP
GOVERNADOR DA BAHIA NEGA TER SIDO OMISSO NA GREVE DOS POLICIAIS E AFIRMA QUE NÃO DARÁ REAJUSTE AO MOVIMENTO
O governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), disse ontem que os métodos
usados por uma parte dos grevistas da Polícia Militar do Estado são
“coisa de bandido”.O petista se referia ao uso de armas para tomar ônibus e bloquear vias e também atribuiu à parte dos policiais do movimento alguns do assassinatos nos últimos dias.
O governador negou ter sido omisso no episódio da deflagração da greve de PMs que gerou uma onda de mortes e de saques em Salvador.
Wagner, que acompanhava a presidente Dilma Rousseff em viagem a Cuba quando a paralisação estourou, admitiu que o governo foi surpreendido pelo tamanho do movimento grevista.
O governador afirmou que a greve na Bahia está sendo orquestrada nacionalmente para pressionar a aprovação da PEC-300, a proposta de emenda constitucional que cria um piso nacional para os policiais.
Ex-sindicalista, o petista disse que não vai oferecer nenhum aumento além dos 6,5% já dados ao funcionalismo em 2012 e é contra anistia a policiais envolvidos em atos de vandalismo.
Folha – Esta greve poderia ter sido evitada?
Jaques Wagner – Isso é mais levante do que greve, pelo jeito como foi feito: caboclo põe dois “berros” [armas] na cintura, tira população de dentro de ônibus, agride as pessoas, interrompe o trânsito. Têm por obrigação legal garantir a ordem pública e estão fazendo o contrário. Esse movimento tem esse caráter nacional: tem uma direção nacional, uma cartilha cujo objetivo é a votação da PEC-300.
Mesmo com motivação nacional, houve uma adesão forte dos PMs daqui por melhores salários.
Quem não quer ganhar mais? Todo mundo quer, mas precisa saber da legalidade e das consequências. Não é pouca coisa o aumento de 30% acima da inflação que policiais tiveram em cinco anos.
No momento em que a greve foi deflagrada, o sr. estava em Cuba. O sr. foi surpreendido?
Eu estava monitorando. A assembleia [de grevistas] foi dia 31 à tarde, cheguei na madrugada do dia 2. Havia autoridade aqui. Tinha o governador em exercício e o secretário de Segurança. A primeira ligação que eu recebi foi informando que a assembleia deu mais gente do que eles achavam que ia dar. A avaliação que as estruturas de segurança tinham [do movimento] não se confirmou na assembleia. Isso é fato.
O governo não negocia com a Aspra (entidade que lidera a greve) por isso?
É a associação que tem o menor número de associados.
Mas tem o controle do movimento. O sr. já foi sindicalista. Não é um equívoco não negociar com quem lidera?
Não acho que a categoria tenha apreço por essa liderança. Ninguém do governo vai receber o [presidente da Aspra, Marco] Prisco. Ele está com ordem de prisão decretada.
Em 2001, quando a PM parou por duas semanas e também houve uma onda de violência na Bahia, o sr. era de oposição e apoiou o movimento.
Eu não.
O partido do sr. apoiou.
Vários parlamentares apoiaram, eu não apoiei. Eu entrei para negociar e ajudar a sair da greve.
Pode haver invasão da Assembleia, onde estão acampados os líderes do movimento?
Invasão, não, porque é um prédio de outro poder [Legislativo]. Mas o próprio poder está incomodado com a presença de pessoas com ordem de prisão sentadas ali.
O Estado baiano ou as Forças Armadas irão prender essas pessoas?
Tem uma ordem judicial para ser cumprida. A estrutura militar e policial está montando uma estratégia para cumprir a ordem.
O sr. pode anistiar os grevistas?
Não vou assinar anistia nenhuma a quem cometeu crime, invadiu ônibus, matou mendigos ou moradores de rua, como foi feito. A figura da anistia não existe, ela só existe quando se encerra um regime de exceção. Não estamos em um regime de exceção. Anistia é presente e estímulo a esse processo.
O sr. tem informações concretas que grevistas mataram pessoas?
Óbvio que não tenho prova. Como a estratégia deles é a criação de pânico, é muito estranho que nesses dias morram moradores de rua na proximidade da associação deles. Você pode perguntar se estou sendo leviano. Estou falando de uma suspeita; será acusação se a gente conseguir provas.
O governo pode fazer alguma concessão para encerrar o impasse?
Não tem acordo. Não dá para a gente ficar alimentando isso como método de reivindicação salarial. Isso não existe. Qual é a segurança que posso lhe dar amanhã se é a polícia quem está tirando cidadão de ônibus? Isso é coisa de bandido. Estou falando até como ex-grevista.
Os militares darão segurança ao Carnaval de Salvador?
Ainda estamos a 10 ou 11 dias do Carnaval. Não há hipótese de esse planejamento da PM para o Carnaval não ser cumprido. Até lá estará acabado esse processo [de greve].
O sr. vai cortar o ponto de quem aderiu à greve?
Há uma separação gritante entre os marginais, que estão cometendo esses troços, de quem está querendo ganhar mais e aderiu. Tenho de separar o joio do trigo. Quem cometeu crime vai responder na Justiça. Para os outros, não, [o corte de ponto] será instrumento da negociação do comando da PM com eles.
Postado por Luis Favre
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Do Blog do Favre.
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