Copiado do Blog CIDADANIA.COM, do Eduardo Guimarães, que está em Minhas Notícias.
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Saraiva
O que São Paulo inspira
Hoje, 25 de janeiro, aniversário de São Paulo, as pessoas lerão textos bonitos e romanceados nos jornais e na internet. Também haverá lamentos e denúncias pela dramática situação da cidade neste mês de janeiro, com inundações que já causam uma crise humanitária por aqui, com milhares de desabrigados e vários mortos.
A este texto caberá missão mais modesta. Qual seja, a de tentar captar o que São Paulo inspira em seus habitantes para que metade deles almeje mudar de cidade – e, ainda assim, não o faça – e a outra metade nem cogite buscar uma qualidade de vida melhor.
Neste ano, essa incoerência dos paulistanos parece maior porque os problemas que as chuvas causam anualmente nesta cidade, aumentaram. As águas estão invadindo as casas sem distinção de etnia e classe social.
Diante da democratização da catástrofe, a mídia, que quando o prefeito e o governador são “amigos” limita-se a atribuir a tragédia das águas a São Pedro e às “administrações passadas”, vem pesando a mão contra o prefeito e ousando criticar o incriticável midiático da política nacional, o governador Serra.
Esse fenômeno acontece porque o apoio do topo da pirâmide social paulistana e da mídia paulista a qualquer governo que se proponha a impedir distribuição de renda, de oportunidades e o uso de dinheiro público para melhorar a infra-estrutura das combalidas periferias da capital, finalmente começa a mostrar como é daninho a todos.
Hoje, completando 456 anos, São Paulo é uma cidade que inspira medo em seus habitantes. Foi isso o que captei no decorrer deste mês, quando passei a estimular qualquer interlocutor daqui a mostrar o que sente sobre nossa cidade.
Descobri, então, que tememos São Paulo, mas, enlouquecidos por um vírus midiático que nos impede de cobrar as autoridades pelo que não têm feito, mergulhamos num conformismo insano, doentio, patético, culpando a nós mesmos pelo que as autoridades não fazem. É uma coisa maluca. Só ouvindo os paulistanos para crer.
Se você não é de São Paulo e acha que estou exagerando, pergunte a qualquer paulistano que conheça se ele se disporia a atravessar a cidade num fim de tarde, ou mesmo a ir a um bairro um pouco mais distante. Pode ser de carro ou de transporte público, tanto faz.
Também pergunte a algum paulistano o que acha de passear por São Paulo de madrugada ou de transportar algum valor pela rua ou de encarar algum hospital público ou de pôr ou ter o filho numa escola pública paulista ou paulistana. Ou pergunte a um de nós o que faz quando começa a chover, estando em casa – saímos desligando aparelhos eletrodomésticos, porque a luz certamente acabará.
O sentimento que brota do paulistano por meio de uma entrevista como essa que propus no parágrafo anterior, é o medo. Temos medo de sair às ruas de nossa cidade e de usar seus serviços públicos. Sobre nós, paira sempre uma angustia, um sentimento de que algo terrível está por acontecer.
Esse sentimento intensificou-se durante o último ano. A crise econômica internacional coincidiu com governos da cidade e do Estado de São Paulo que se pautam por uma ideologia caduca quanto ao papel do Estado, achando que ele deve se omitir mesmo nos momentos nos quais deve induzir em vez de se deixar levar.
Os cortes de gastos que as administrações da capital e do Estado de São Paulo fizeram sob desculpa da crise agravaram sobremaneira a situação de uma cidade que precisava manter os investimentos sobretudo em obras contra enchentes, pois estas produzem verdadeiras catástrofes quando fogem ao controle.
Alguns meses de deliberadas redução na coleta de lixo e economia no desassoreamento do rio Tietê provocaram um aumento escandaloso das enchentes, fazendo as águas chegarem aos bairros dos ricos, que já intuem que essa mentalidade administrativa dos tucanos e pefelês é, de fato, uma ameaça
Uma cidade que inspira medo, portanto. Essa é a São Paulo de 2010. E tudo por obra e graça do preconceito, do egoísmo e da ignorância, desses sentimentos menores que colocaram totais despreparados no comando de administrações complexas como são a Prefeitura e o governo de São Paulo. Escrito por Eduardo Guimarães às 11h42[(39) Opiniões - para opinar, clique aqui e depois pressione F11] [envie esta mensagem]
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