Vendo a situação da Educação no Estado de São Paulo, onde tem lugar uma guerra entre os professores da rede pública, de um lado, e o governador do Estado e a imprensa local do outro, decidi rever um clássico do cinema que se relaciona muito com o assunto e que a minha erudita mãe, uma advogada e socióloga fluente em oito idiomas que se foi há quarenta anos, fez com que eu assistisse aos sete anos de idade, quando dava os primeiros passos na escola.
Como alguém já pode ter adivinhado, assisti “To Sir with Love” (Ao mestre com carinho), com Sidney Poitier, de 1966. O filme narra a saga de um professor negro que enfrenta alunos indisciplinados e desordeiros em uma escola pública. Poitier era Mark Thackeray, um engenheiro desempregado que resolve dar aulas em Londres. Os alunos pobres e rebeldes iam às aulas determinados a fazê-lo desistir como haviam feito com seu antecessor. Mas Thackeray, contrariando seus pares, enfrenta o desafio e vence, fazendo dos rebeldes jovens maduros e dispostos a estudar.
Minha mãe me fez assistir àquele filme para que eu percebesse a sorte que tinha na vida. Fora matriculado no Colégio Dante Aligheri, uma das escolas particulares de elite de São Paulo, na qual fiz o ensino primário.
O filme é perfeito para, à sua luz, analisar a situação no ensino público paulista, um dos piores de um país no qual os mestres enfrentam diariamente problemas análogos ao que Poitier – ou “Mr. Thackeray” – enfrentou e venceu. No Brasil, com destaque para São Paulo, são raros os finais felizes. Simplesmente porque, à diferença da sociedade e do Estado britânicos do fim dos anos 1960, em um Estado rico como o meu inexiste maior preocupação com as condições de trabalho dos seus professores.
O que o ator negro norte-americano enfrenta no filme é fichinha perto do que os nossos mestres passam cotidianamente, sofrendo até agressões físicas dos jovens pobres e rebeldes que ensinam e, o que é mais revoltante, ganhando uma fração do que ganhavam professores como “Mr. Thackeray” e seus colegas bem vestidos e bem pagos pelo Estado britânico.
Em São Paulo, o Estado cobra conhecimentos dos professores em provas de “seleção” sem se preocupar em lhes oferecer formação adequada. E a sociedade paulista faz coro com o governador ao tachar de “baderneiros” professores que reclamam dos salários absurdamente baixos em vez de apoiá-los para que, tendo condições de sempre estarem estudando e se aperfeiçoando, melhor pudessem ensinar, além de estarem motivados a dar o melhor de si nessa profissão que, no mundo civilizado, é altamente respeitada.
Ao fim do filme, fiquei imaginando como terminaria se o Estado britânico dos anos 1960 tivesse tratado a Educação como os governos de São Paulo vêm tratando durante todo o século XX e começo do século XXI, ou seja, sem qualquer “carinho”.
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